Para os métodos de alfabetização tradicionais, a aprendizagem da língua escrita é um processo de acumulação de informações transmitidas pelo(a) professor(a) e assimiladas de forma passiva pelo(a) aprendiz. No entanto, as pesquisas da psicogênese da língua escrita revelaram uma postura ativa e curiosa das crianças pré-alfabetizadas, mostrando que elas pensam e criam hipóteses para entender o sistema de escrita alfabética. Essas descobertas levaram a modificações nas políticas, nos estudos e nas práticas escolares.
Se os estudos da psicogênese gerou grandes mudanças na forma de entender a forma como as crianças pensam sobre a língua escrita, sua aplicação prática nas turmas de alfabetização, traduzida pelo construtivismo, deixou de lado outros aspectos importantes da aprendizagem do sistema alfabético, como se dá a relação entre as letras e os sons.
Para a professora Magda Soares (UFMG), referência nos estudos de letramento desde a década de 1980, é necessário articular as práticas letradas ao ensino sistemático das relações entre grafemas e fonemas da língua. Esta é a proposta apresentada neste especial multimídia.
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Alfabetizar letrando
Como expõe Magda Soares, a adoção da perspectiva psicogenética, conhecida no Brasil como Construtivismo, trouxe consequências para o ensino da língua escrita: se, por um lado, revelou a importância de expor a criança a diferentes materiais e práticas reais de leitura e escrita, por outro levou a uma desvalorização do ensino sistemático das relações entre fala e escrita.
A aprendizagem da língua escrita, entretanto, tem muitas facetas, que demandam metodologias próprias, mas que devem ser integradas e articuladas pelo professor alfabetizador. Não se trata de negar à criança seu papel na construção desse conhecimento nem de negligenciar a importância das práticas de letramento na escola, mas de mediar esse processo, observando como a criança evolui na construção de suas hipóteses de escrita e promovendo seu contato com atividades e situações que a estimulem a refletir sobre o sistema alfabético e a apreender suas características.
Também é importante considerar que as hipóteses de escrita tratadas neste Especial não são um caminho único e homogêneo pelo qual passariam todas as crianças, mas esses estudos orientam o olhar dos educadores para as regularidades do processo de aprendizagem da língua escrita.
Para além dessa sistematização, é fundamental observar com sensibilidade as peculiaridades de cada criança em sua busca pelo conhecimento a fim de mediar de forma adequada esse processo. Nesse contexto, é imprescindível que a infância seja respeitada como etapa singular do desenvolvimento humano, valorizando o brincar como forma de a criança entender o mundo, interagir com ele e (re)criá-lo.