Tecendo redes

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Tecendo redes

5 dicas de especialistas e mobilizadores sobre como mobilizar ações em rede. Matéria publicada originalmente na plataforma Educação&Participação

A tarefa de integrar, sensibilizar e engajar diferentes pessoas em torno de causas e objetivos comuns nem sempre é fácil. Mesmo em uma sociedade com amplas possibilidades de troca e interação, na maioria das instituições que conhecemos ainda predomina a cultura de conduzir ações de forma centralizada, hierárquica e pouco participativa.

Mas será que existem estratégias específicas que estimulem a participação e a colaboração em rede, rompendo o mal das iniciativas isoladas e fragmentadas e, assim, abrindo novas perspectivas de ações coletivas?

Fomos em busca de respostas para auxiliar educadores e integrantes de organizações da sociedade civil na difícil tarefa de mobilizar pessoas e territórios em torno de sonhos e projetos comuns. Seguem algumas dicas de especialistas e mobilizadores sobre o tema.

Confira a seguir a seleção de cinco dicas!

1. Crie espaços em que as pessoas sintam que estão aprendendo e colaborando para ações importantes

“Colaborar significa elaborar com, elaborar junto. Quando falamos de iniciativas horizontais e não hierárquicas, o que está presente é o que chamamos na psicologia de motivação intrínseca; que é uma motivação que está na própria atividade. Ou seja, fazer a atividade já é a recompensa. Para garantir isso, há elementos importantes: autonomia e liberdade, quando a pessoa se motiva por saber que lá terá liberdade, e não porque alguém mandou; depois vêm generosidade e a participação, quando a pessoa colabora porque quer fazer parte de algo maior, quer contribuir com um todo para além de si; e também tem a competência e o aprendizado, quando a pessoa participa porque quer aprender, estar informado sobre o assunto. Então, organizações que atuam de forma horizontal e distribuída são espaços que estimulam a colaboração, e  organizações centralizadas e hierárquicas, o oposto.”

Camila Haddad, pesquisadora e economista, cofundadora do projeto colaborativo Cinese

2. Converse, compartilhe informações e envolva as novas gerações

“[Para construir redes e mobilização de territórios,] é central pensar na formação de novas lideranças. Isso quer dizer pensar na juventude que existe hoje, que tem grande capacidade de mobilização, para que lute pelo seu território e pela sua história. Então, é preciso contar a história das causas e das lutas das pessoas que ali vivem para as novas gerações, para que elas as recontem de novas formas, a partir de suas músicas, de seus meios de divulgação, que são extremamente potentes. Eu conheço grupos de jovens que trabalham com hip hop e com meios digitais, que estão dentro das escolas e dos espaços de educação não formal, justamente repassando os conteúdos e processos formativos que receberam. E eles são considerados importantes lideranças nas suas comunidades e fazem toda a diferença.”

Cláudia Soares, consultora de projetos sociais

3. Sistematize suas ações e comunique: do que vale uma ação se ninguém a conhece?

“A gente tem na nossa ancestralidade o poder da rede. O potencial das relações solidárias, que as comunidades da periferia trazem, são enormes. A gente bate laje junto, compartilha refeição, repassa nossas roupas para os irmãos, para os vizinhos… Então, aprendemos que somos ouvidos melhor se estivermos em rede, uma vez que não detemos os meios de produção e de comunicação. Se você faz uma coisa e não conta pra ninguém… do que vale? Temos que fazer com que as informação cheguem ao máximo de pessoas possível. E as mídias digitais têm um papel muito importante, permitem sistematizar nossos conhecimentos, pois elas podem fazer com que outras comunidades ao redor do Brasil e do mundo se sensibilizem com o que fazemos.”

Thiago Vinícius, integrante do projeto Banco Comunitário União Sampaio (Campo Limpo, São Paulo)

4. Associe sua ação à intervenção democrática na vida coletiva

“É importante considerar a participação como um princípio de ação coletiva, que fomenta a solidariedade e o compartilhamento de uma visão de mundo que vê o ser humano como parte de uma vasta rede de seres que vivem no mesmo planeta e que precisam criar e recriar seus espaços. Em termos de cidadania, a participação em rede se coloca como uma questão fundamental para complementar a democracia representativa, que atualmente não propicia a identificação e a participação real das pessoas. Então, estimular espaços onde as pessoas de fato possam colocar sua voz e ser ouvidas é contribuir para a formação de cidadania. Quando uma pessoa participa desses espaços, passa a estar mais informada e aprende também a trabalhar com conflitos e consensos, mesmo que sejam provisórios. Isso é fundamental para a vida democrática.”

Danilo Streck, professor doutor em Filosofia da Educação

5. Expanda o território físico e atraia pessoas com os mesmos interesses, por meio dos espaços on-line

“No virtual, as relações entre as pessoas se dão através de suas preferências, suas identidades. Existem aspectos de nossa personalidade que nos sensibilizam mais por algumas questões: aquilo que nos atrai e nos faz ler e compartilhar com os amigos. Nesse sentido, a mobilização nesses espaços muitas vezes se dá através das identidades. A rede virtual possibilitou que se criassem certos grupos de interesse que são deslocados do ponto de vista territorial: cada vez mais são utilizados como meios de articulação de temas que coincidem com eixos dos direitos humanos, por exemplo: direito à liberdade de expressão, direitos ambientais, questão racial etc. Grande parte das mobilizações hoje passa pela utilização desses meios.”

Jorge Machado, professor doutor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP)