Transformando a educação: o tema proposto pela UNESCO este ano foca a importância de educação mais inclusiva e acessível a todos os jovens
Desde os anos 2000, em todo o mundo, o dia 12 de agosto é dedicado à juventude. A data foi aprovada em 17 de dezembro de 1999, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, como fruto da Conferência Mundial dos Ministros Responsáveis pelos Jovens, em Lisboa, Portugal.
O maior objetivo desta celebração é destacar o papel das juventudes como representantes do futuro do planeta. Para isso, cabe à educação trabalhar, por um lado, a conscientização dos jovens sobre a grande responsabilidade que assumem. Por outro lado, é necessário abrir espaço para exercerem de fato o protagonismo na sociedade de que fazem parte.
Nesse sentido, os jovens devem ser vistos não apenas como beneficiários das políticas públicas e alvo de proteção da sociedade, mas também como líderes e parceiros na busca de caminhos para questões relativas às juventudes em todo o mundo.
Juventude ou juventudes?
Segundo as Nações Unidas, enquadra-se na expressão “juventude” pessoas entre os 15 e os 24 anos de idade. No entanto, as experiências pessoais e as influências socioeconômicas, culturais e políticas são determinantes. Desse modo, é necessário entender “juventude” como uma categoria fluida, que pode variar de acordo com o contexto histórico e geográfico.
No Brasil, o Dia Nacional da Juventude também é comemorado em 12 de agosto, como estabelecido no Decreto de Lei n. 10.515/02. Segundo a Proposta de Emenda à Constituição 42/08 (PEC da Juventude), é considerada jovem toda pessoa entre 15 e 29 anos.
Desafios de uma educação aberta à escuta dos jovens Afinal, é possível falar em uma juventude ou se trata de várias juventudes? Como os jovens se veem e querem ser representados na sociedade e na escola? E estas, como veem as novas gerações? Por que a juventude aparece constantemente relacionada à violência na mídia e em diferentes espaços sociais?
O foco das mobilizações para a juventude neste ano é a educação. A fim de “garantir uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (Objetivo 4 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da UNESCO), as ações em torno do Dia Internacional da Juventude 2019 devem avaliar como governos, organizações e pessoas estão empenhados em tornar a educação mais inclusiva e acessível.
Em mensagem publicada hoje, 12 de agosto, a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, afirma:
A educação é o principal centro de ação da UNESCO com vistas a um mundo onde a educação de qualidade está disponível para todos, não deixar ninguém para trás. A educação não consiste apenas em obter um diploma, mas também em aprender, construir sistemas que permitam que mulheres e homens jovens adquiram novas habilidades e qualificações e contribuam significativamente para o avanço das sociedades.”
Audrey Azoulay
A riqueza representada por diferentes olhares e vozes acerca de questões coletivas é um valor destacado pela organização ao tratar de educação e inclusão:
Se não incluirmos as opiniões de mulheres jovens, homens, membros da comunidade LGBTQ+, jovens indígenas, jovens com deficiências ou jovens migrantes na construção de nossos sistemas educacionais, todos perderemos algo valioso: a riqueza de entender diferentes culturas e mentes, o tesouro que é aprender um do outro.”
No Brasil, no ano de 2014, quase 62% dos jovens de 18 a 29 anos concluíram o ensino médio. Apesar de o percentual representar um aumento de 15% em uma década, ainda é significativo o número de jovens que não chega a concluir a educação básica.
Segundo pesquisa desenvolvida pelo CENPEC entre 2015 e 2016, um dos fatores relevantes nesse cenário é a baixa renda familiar, que impulsiona esses jovens a ingressar mais cedo no mundo do trabalho. O perfil étnico-racial e de gênero também deve ser considerado para entender a evasão escolar entre jovens, pois ela é maior entre os estudantes negros e do sexo masculino.
O problema da evasão também atinge os estudantes universitários. Dados mais recentes do Ministério da Educação (MEC) indicam que, desde 2005, quando o Programa Universidade para Todos (ProUni) foi promulgado, até o primeiro semestre de 2017, mais de 115 mil bolsistas abandonaram os cursos em que estavam matriculados. Entre os estudantes negros (pretos e pardos), a taxa de evasão é de 54%, contra 41% entre brancos.
Para o sociólogo Wagner Santos, gerente de tecnologias educacionais do CENPEC, o ProUni e as políticas afirmativas promoveram avanços na inclusão e na democratização do acesso à universidade. No entanto, ressalta a necessidade de ações complementares que possibilitem a permanência dos bolsistas no ensino superior. “As políticas, quando associadas à moradia, alimentação e transporte, são muito importantes para a permanência”, afirma em reportagem da BBC Brasilde 8 de agosto.
Na mesma matéria, Dyane Brito, professora da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), discute a necessidade de mudanças para que a universidade se torne um ambiente que aceite e valorize a diversidade, abrindo espaço para cada indivíduo, com suas trajetórias e singularidades, atuar na academia. Ela destaca o papel dos coletivos estudantis: “São grupos que vão dividir alimentação, dividir xerox do texto mas que, sobretudo, são grupos que vão ter um suporte político e emocional ao estudante para a sua permanência para o ensino superior”.
Ocupações: vida escolar e engajamento político de jovens
O ano de 2015, no estado de São Paulo, foi marcado pelo movimento das ocupações das escolas por estudantes de ensino médio das redes públicas. Durante pouco mais de dois meses, centenas de jovens ocuparam mais de 200 escolas estaduais, bem como as ruas e a mídia tradicional e alternativa no Brasil e no mundo. O movimento iniciou como um protesto contra a reorganização das escolas proposta pelo governo paulista. A falta de debate público sobre o projeto governamental que levaria ao fechamento de diversas unidades escolares foi uma das principais críticas levantadas por estudantes e educadores.
Com o avanço do movimento, outras questões ligadas à educação e à juventude se tornaram pauta: currículo, merenda, distribuição de recursos, infraestrutura das escolas, professores, relações de gênero, racismo, machismo, participação e gestão democrática, entre outros temas.
Além dos estudantes secundaristas, as ocupações envolveram as famílias, o corpo docente, gestores, estudantes de outras etapas escolares, artistas e demais setores da sociedade, dividida entre o apoio e o repúdio ao movimento concebido e protagonizado pelos jovens.
Para compreender melhor o caso das ocupações, a equipe de pesquisa do CENPEC ouviu, entre 2017 e 2018, 11 jovens envolvidos no movimento. O estudo teve como objetivo principal identificar processos e condições sociais ligados à participação e ao engajamento juvenil na escola e em movimentos sociais e políticos.
Que saberes e práticas trilhar a fim de construir uma educação transformadora, aberta à participação ativa dos jovens? Neste material, organizado em duas partes, compartilhamos propostas metodológicas de educação integral para jovens, desenvolvidas, entre 2015 a 2017, pelo Programa Jovens Urbanos (CENPEC) em diálogo com a Secretaria de Educação de Minas Gerais.
Como ampliar o ensino de ciências e matemática da sala de aula aos espaços educativos do território em busca de aprendizagens significativas aos jovens?
Esse é desafio que move o Respostas para o Amanhã, premiação internacional da Samsung que, no Brasil, é coordenada pelo CENPEC. A iniciativa busca estimular projetos desenvolvidos por professores das áreas de ciências da natureza, matemática e suas tecnologias, que promovam o protagonismo dos estudantes para conhecer melhor suas comunidades, dialogar com outros sujeitos e construir soluções a questões locais.
Para Anna Helena Altenfelder, doutora em psicologia da educação e conselheira do CENPEC, os projetos desenvolvidos por professores e estudantes “podem contribuir para o futuro dos alunos. Temos que lembrar que falamos do Ensino Médio, etapa em que os alunos estão preocupados com seu futuro, construindo seu projeto de vida”.
Para celebrar esta importante data, o Portal CENPEC publicará, ao longo da semana, matérias sobre a relação juventudes e educação. Os temas das próximas reportagens são: letramento juvenil; e socioeducação e direitos de adolescentes e jovens.
Acompanhe também o Canal Futura, que dedica esta semana a questões relativas aos jovens estudantes brasileiros. Entre 12 e 16 de agosto, o jornalismo do canal tem como mote a mobilização #Nem1PraTrás: Semana das Juventudes.
Uma das atrações é a série Conexão: Jovens Inspiradores (de segunda a sexta-feira, às 19h). O programa conta a trajetória de jovens que criaram iniciativas de impacto na sociedade. Assista a Juventudes engajadas, um dos episódios da série Conexões, sobre o trabalho de uma ativista do coletivo Odara – Instituto das Mulheres Negras.
Ao longo da semana, o canal apresentará 21 programas inéditos e 15 reapresentações, como a série “Faz a Diferença”, sobre o novo ensino médio.
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