Afroturismo: passeios que ensinam sobre o protagonismo negro e outras histórias
Fundador do Guia Negro, Guilherme Soares Dias conta como o turismo pode ajudar a resgatar e valorizar a cultura e a história afro-brasileira, e como as escolas podem pensar suas próprias atividades pelo território
Por Stephanie Kim Abe
Pegue qualquer roteiro, site ou livreto turístico sobre a maior cidade da América Latina e com certeza haverá uma menção ao bairro Liberdade como o reduto da maior colônia japonesa fora do Japão.
Quem visita a região, que fica na parte central de São Paulo (SP), ao lado da Praça da Sé, percebe de cara as lojas com letreiros em alfabeto japonês e produtos orientais, os postes de luz com lanternas nipônicas e a grande quantidade de pessoas de descendência oriental entre a multidão diariamente zanza pelas ruas do bairro.
Mas bem ali no meio da Praça da Liberdade, perto da entrada principal do metrô Liberdade, pouca gente nota a estátua em bronze da Madrinha Eunice. Muitos podem justificar que ela é nova – de fato, só foi instalada em 2022. Mas ela representa uma história bem mais antiga que a dos próprios imigrantes japoneses que passaram a ocupar o bairro a partir do início do século 20. Madrinha Eunice está ali para resgatar e marcar, ainda que tardiamente, a presença e a história do povo negro nesse território.
Afinal, a maioria dos textos turísticos esquece de mencionar que o bairro Liberdade foi antes reduto de migrantes negros escravizadas(os), e tem ali lugares importantes dessa história, como a Igreja Nossa Senhora dos Enforcados (foto ao lado) e o Morro da Forca.
A homenagem a Madrinha Eunice, como era chamada Deolinda Madre, se deve ao fato de que ela fundou a escola de samba Lavapés bem ali no bairro – e essa é a mais antiga escola de samba em atividade na capital paulista.
Resgatando o protagonismo negro
Mas quem faz o tour Caminhada São Paulo Negra conhece essa e outras histórias do povo negro que foram apagadas ou invisibilizadas, tanto da história de São Paulo como do Brasil.
E, como infelizmente não é só na capital paulista que temos marcos importantes da história e cultura afrobrasileira, esses tours que focam justamente em dar visibilidade à presença do povo negro no Brasil estão presentes também em outras cidades – como Olinda, Salvador, Rio de Janeiro, Piracicaba.
Todos esses passeios guiados fazem parte da plataforma de afroturismo Guia Negro. Guilherme Soares Dias, jornalista e fundador da iniciativa, conta sobre a criação e o objetivo da plataforma:
O Guia Negro começou em 2018, muito com a ideia de contar as histórias que não estavam sendo contadas sobre a cidade de São Paulo, sobre esse protagonismo negro na história. Desde então, temos ampliado o projeto e a nossa atuação. Hoje, estamos em cerca de 30 cidades brasileiras”.
Guilherme Soares Dias, jornalista e fundador do Guia Negro
A expansão do projeto é visível na riqueza e diversidade de conteúdo que compõem a plataforma Guia Negro. Além dos roteiros, a iniciativa publica notícias em seu site, produz podcast, realiza entrevistas com personalidades negras no canal do YouTube, tem forte presença nas redes sociais e espaço em veículos midiáticos nacionais, como a Folha de S. Paulo.
Sempre tivemos como uma das nossas metas a produção de diferentes conteúdos, porque percebemos que a cultura e a história negra não são tão difundidas como gostaríamos. No fim, essa produção acaba complementando os tours. O que não conseguimos aprofundar durante o passeio, nós trabalhamos nas matérias, nos podcasts, nas entrevistas. É uma forma também de manter o público das experiências turísticas conectado conosco, e de atrair novas pessoas a esse afroturismo”, explica Guilherme.
Guilherme Soares Dias
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Precisamos aprender na escola
O trabalho do Guia Negro busca remediar um vácuo que a escola e forma como aprendemos deixou em nossa formação como cidadãs(ãos) brasileiras(os), à medida que não conhecemos, nem mesmo na escola, toda essa história, essas personalidades e essa trajetória do povo negro.
Não à toa, a Lei 10.639 é considerada uma grande vitória dos movimentos negros por ter estabelecido, há 20 anos, a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afrobrasileira em todas as escolas de educação básica do Brasil.
“Fazemos parte de uma geração que não teve acesso a esses conteúdos na escola. Adoraríamos ver essa nova geração aprendendo sobre esse protagonismo negro, essas outras histórias. A história oficial está muito baseada nas pessoas que venceram, nas pessoas brancas, nos colonizadores, e a história dos povos indígenas e dos povos negros está muito pouco presente”, diz Guilherme.
Por causa desse desejo, o Guia Negro também realiza tours com escolas públicas e privadas, com o objetio de trazer para as(os) estudantes esse olhar para a diversidade e para causos históricos de outros povos que fazem parte da cultura brasileira.
Gostamos muito de fazer roteiro com crianças e adolescentes, porque é um público bastante curioso. É um público que não está acostumado, por exemplo, a andar no centro e a estar ali na rua, e que não tem medo de perguntar sobre suas curiosidades e dúvidas, que são diferentes das dos adultos. Então é sempre muito mágico fazer os roteiros com as pessoas que estão na escola e que trazem esse outro olhar pra gente”, explica o jornalista.
Os passeios do Guia Negro são também uma forma de a escola extrapolar os seus muros e se conectar com o território e a cidade em que está localizada. Professoras(es), coordenadoras(es) pedagógicas(os) e demais profissionais podem se inspirar nessa iniciativa para organizar também os seus próprios roteiros que resgatem o protagonismo das(os) personagens negras(os) da sua região.
Sobre isso, Guilherme dá algumas dicas:
É preciso realmente estudar mais sobre o assunto, porque ainda temos poucas referências sobre essa história e cultura negra. Nós dizemos muito que o nosso trabalho é muito menos sobre os lugares que visitamos, mas mais sobre as narrativas que contamos quando chegamos neles. Então o importante é trazer à tona essas histórias que foram invisibilizadas e apagadas, e mostrar que essa presença negra, indígena e de outros povos se dá na cidade mesmo diante das tentativas de apagamento. É muito interessante perceber essas resistências e se questionar sobre a história: onde estavam as pessoas negras no 7 de setembro, por exemplo?“.
Guilherme Soares Dias, jornalista e fundador do Guia Negro
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Ouça o podcast sobre história e cultura afrobrasileira na escola!
O mais recente episódio do podcast Educação na ponta da língua discute justamente a abordagem da história e cultura afro-brasileira na escola. Para falar sobre os avanços e os desafios da implementação da Lei 10.639, foram convidadas para esse bate-papo a professora doutora Ellen Cintra e a professora da rede estadual de São Paulo Rosimeire Aparecida de Sousa. Ouça aqui:
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