Antônio Gois: transformar a educação brasileira vai além das batalhas ideológicas

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Antônio Gois: transformar a educação brasileira vai além das batalhas ideológicas

Em artigo publicado no jornal O Globo, jornalista conceitua a pedagogia da agressão e avalia confrontos do governo com professores

Presidente da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), Antônio Gois publicou nesta segunda-feira (06/05) artigo no qual critica a postura combativa do governo Jair Bolsonaro em relação à educação – e principalmente, aos professores.

Gois baseia-se na pesquisa realizada por David K. Cohen, da Universidade Michigan, e Jal D. Mehta, da Universidade de Harvard, que mapeia propostas de mudança na educação dos Estados Unidos e cataloga características das que foram bem-sucedidas. 

Publicada em 2017 no jornal da Associação Americana de Pesquisa Educacional (Aera), a pesquisa constata, nas palavras de Gois, que “sem diálogo com os professores, é muito mais difícil uma reforma prosperar, por melhor ou pior que ela seja. Isso não significa que mudanças que não atendam a interesses imediatos dos docentes estejam necessariamente fadadas ao fracasso, mas o estudo indica que seu caminho tende a ser muito mais árduo, ainda mais se não houver forte mobilização da sociedade em seu favor”.

Gois prossegue e avalia que as medidas propostas pelo governo Bolsonaro, mesmo as que vão ao encontro do interesse da comunidade educacional, são difíceis de apoiar devido ao conflito constante com os docentes.

Bolsonaro e a pedagogia da agressão

Em relação às últimas polêmicas da educação brasileira, Gois reflete: “o governo Bolsonaro mostra-se despreocupado em criar qualquer uma das condições acima na educação. Pelo contrário, o setor parece ter sido escolhido como palco preferencial das batalhas ideológicas, tendo em geral os professores como alvo”.

“Foi assim, por exemplo, quando o próprio presidente publicou em seu Twitter um vídeo de uma discussão entre uma aluna e uma professora de cursinho em sala de aula, fato que foi seguido de uma declaração do ministro Abraham Weintraub de que aquele era um direito da estudante. Não era, como logo explicaram vários juristas. Pode-se até discutir se a professora ou a aluna estavam certas ou erradas, mas expor o vídeo no Twitter presidencial serviu apenas para elevar o clima de confronto”, continua o jornalista.

Para Gois, essa tática de confronto permanente serve para animar a militância radical do bolsonarismo, mas, ao mesmo tempo, mina a capacidade de promover, a partir do Executivo federal, qualquer mudança profunda no setor.

Mesmo em ações em que eventualmente parte da comunidade educacional possa estar de acordo, o custo de apoiar uma iniciativa de um governo em constante confronto com os professores torna-se altíssimo. “A pedagogia da agressão, para quem quer realmente transformar a educação brasileira, é péssima estratégia”.

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