Aprendizagem híbrida: orientações para regulamentação

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Aprendizagem híbrida: orientações para regulamentação

Relatório de política educacional reflete aprendizagem híbrida e como adotá-la garantindo equidade e gerando subsídios para a formulação de políticas públicas

Por Stephanie Kim Abe

Em março, o Portal Cenpec publicou uma reportagem sobre os cuidados na regulamentação da aprendizagem híbrida, proposta que está em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE). 

Um novo estudo, realizado por pesquisadores(as) do TLTL – Transformative Learning Technologies Lab, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e lançado em junho, vem contribuir com esse debate ao olhar para experiências internacionais e os desafios que a proposta precisa encarar para se tornar uma realidade no Brasil.

No relatório de política educacional Aprendizagem Híbrida? Orientações para regulamentação e adoção com qualidade, equidade e inclusão, as(os) autoras(es) são categóricas(os) ao chamar atenção para a necessidade de considerar as desigualdades sociais e econômicas da população do país ao pensar a aprendizagem híbrida como uma política pública. Como lê-se em sua conclusão:

Dado o contexto brasileiro, se o combate às desigualdades sociais e econômicas (também reproduzidas na educação) não for considerado e ignorarmos a crônica falta de dados e estudos sobre aprendizagem híbrida, uma regulação apressada poderá, ainda que não intencionalmente, agravar a situação das(os) estudantes mais pobres. Estes já se encontram em uma situação de maior vulnerabilidade e isso infringiria inclusive a garantia de direito preconizada por lei” (p. 32)

Relatório Aprendizagem Híbrida? Orientações para regulamentação e adoção com qualidade, equidade e inclusão

O relatório foi feito em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, Dados para um Debate Democrático na Educação (D3e) e Centro Lemann.


Desafios

O estudo começa elencando três grandes desafios quando o assunto é aprendizagem híbrida: suas diversas definições e nomenclaturas, a necessidade de pesquisas e evidências robustas sobre os seus reais impactos e o olhar para o acesso e a inclusão de todas(os) as(os) estudantes

Depois, relata e analisa algumas experiências internacionais em relação à temática, que podem ser levadas em consideração para a construção das políticas públicas brasileiras. Entre os países citados, estão Uruguai e os membros da União Europeia – como exemplos de experiências robustas -, Austrália e China. 

Para Juliana Gonçalves, técnica de programas e projetos do Cenpec, chamou atenção o relato dos estudos sobre os Estados Unidos durante a pandemia, em que a rápida transição para a aula on-line intensificou desigualdades, constatando que estudantes de baixa renda acessaram menos as plataformas virtuais de ensino. Entre os motivos, estão a falta de infraestrutura, de habilidades necessárias para ter sucesso em ambientes híbridos e de professoras(es) capacitadas(os) para conduzir as aulas neste formato.

Foto: acervo pessoal

No Brasil, com o fechamento das escolas durante a crise sanitária, as(os) estudantes mais impactadas(os) também foram aquelas(es) com dificuldade de acesso a equipamentos tecnológicos e conectividade, além de espaço físico adequado para os estudos e o engajamento das famílias nas atividades escolares. Levando em conta essas múltiplas desigualdades, percebemos que a regulamentação da aprendizagem híbrida – seja em caráter emergencial, de recomposição de aprendizagem ou de ampliação da oferta pedagógica – requer tempo, cautela e deve ser orientada por planejamento, conhecimento técnico, contextualização e amplo debate público”.


✏️ Recomendações

Em sua última parte, o relatório aponta recomendações para a regulamentação da aprendizagem híbrida e o seu uso em curto, médio e longo prazo. Entre elas, estão:

  • A regulamentação do uso de aprendizagem híbrida para situações pós-emergenciais, em caráter limitado e com tempo de duração definido, especificando o papel de estados e municípios na oferta de oportunidades de ensino e controle das estratégias.
  • A criação de equipes para a redação de planos de retomada com medição de progresso.
  • O redesenho e a priorização dos currículos e materiais didáticos para recomposição de aprendizagem seguindo critérios técnicos e com metas realistas, com a contratação ou engajamento de equipes especializadas.
  • O estabelecimento de parcerias com universidades/centros de pesquisa para avaliação do progresso da retomada. 

Para Juliana, um dos principais desafios se relaciona à formação docente e a como ajudar essas(es) profissionais a criarem e recriarem práticas pedagógicas alinhadas à aprendizagem híbrida:

Também é importante que as(os) professoras(es) sintam-se capazes de refletir de forma crítica sobre o papel do uso das tecnologias, tanto no desenvolvimento de experiências educativas, quanto no tratamento e na proteção de dados. A aquisição dessas novas habilidades não é tarefa simples. Demanda um tempo de experimentação e consolidação da aprendizagem. Requer horas de estudos, planejamento e prática. Cabe à gestão educacional e escolar apoiar a formação docente e investir em recursos educacionais digitais para a escola”.

Juliana Gonçalves, técnica de programas e projetos do Cenpec

Para ela, alinhar a aprendizagem híbrida a outras reformas educacionais é fundamental:

“Nesse sentido, o estudo aponta que o acesso às tecnologias é um direito educacional básico, mas não mudará a relação das(os) estudantes com a escola, se dissociado de outras transformações necessárias tais como na pedagogia, nos materiais didáticos, avaliação e sistema de incentivos”.


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