Caminhos para o protagonismo de crianças e adolescentes

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Caminhos para o protagonismo de crianças e adolescentes

Não existe uma receita para desenvolver a participação de crianças e adolescentes, mas Organizações da Sociedade Civil (OSCs) refletem e dão dicas de como realizar essa escuta ativa e aprimorar práticas; veja mais

Se existem princípios que são praticamente unânimes entre aqueles/as que se dedicam a pesquisar e refletir sobre a área da educação, um deles é a ideia de que crianças e adolescentes devem ser protagonistas da própria trajetória de aprendizagem.

Essa premissa é fundamental para trabalharmos com o conceito de educação integral e inclusiva. E fazer isso vai muito além de estabelecer momentos pontuais de consulta ou diálogo: é preciso integrar e se abrir, de forma que a participação seja estimulada em todas as etapas das ações e atividades propostas pela organização ou escola, do planejamento à avaliação.

Como fazer isso acontecer? Para ajudar nessa reflexão, o Programa Itaú Social Unicef traz os relatos e as dicas sobre a temática de algumas Organizações da Sociedade Civil (OSCs) participantes do Programa. Há também relatos das próprias crianças e adolescentes envolvidas(os) nessas práticas.


Aprender a escutar e construir relações de confiança

Que tal começar, por exemplo, com uma conversa interna? Essa é uma das ações sugeridas por Márcia Cavalcante, coordenadora institucional do Centro de Integração de Redes Sociais e Culturas Locais – Cirandar, em Porto Alegre (RS):

Foto: acervo pessoal

É importante que a própria instituição reconheça a importância da escuta e desse protagonismo. Ao iniciar uma nova ação, ela precisa ser de todo mundo, de toda a equipe da organização”. 

Márcia Cavalcante

A OSC atende crianças e adolescentes da comunidade Chocolatão e promove arte, cultura, leitura e literatura, com o gerenciamento de bibliotecas e a oferta de cursos e atividades de formação.

Kaká Portilho, presidente do instituto Hoju, que atua há mais de 20 anos no Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro (RJ), conta como é preciso entender que esse processo de escuta é orgânico e imprevisível quanto às demandas que podem surgir das próprias crianças e adolescentes:

Foto: acervo pessoal

A gente não tem muito como prever o que vem. Por exemplo: recentemente um grupo de jovens pediu para incluirmos atividades de reforço escolar. Dialogamos, redesenhamos a proposta e criamos um acompanhamento educacional, que vai além do reforço escolar nesta ou naquela disciplina. Abordamos os conteúdos em que há mais dificuldade e ao mesmo tempo fazemos um trabalho de médio e longo prazo, olhando também para o caminho vocacional de cada um e cada uma”.

Kaká Portilho,


Acolher a todos, superar o silenciamento e impulsionar mudanças

Já Raquel Fabeni Ricardo, educadora e coordenadora de Assistência Social da Associação Beneficente Nàná Ìyalóòde Ayé – Abenaiya, em Simões Filho (BA), chama atenção para a importância de acolher a diversidade e entender que nem todas(os) jovens e crianças participarão da mesma maneira:

Foto: acervo pessoal

Algumas crianças e adolescentes vivenciam um silenciamento dos seus desejos e ideias de forma mais intensa, enquanto outros já estão mais habituados e habituadas a se expressar. Trazer esse público para esse lugar de fala é contribuir para que eles e elas se desenvolvam de forma mais saudável, para que aprendam a nomear seus sentimentos e se autorizem a expressar ideias e opiniões”.

Raquel Fabeni Ricardo

Por fim, Raimundo Melo e Talita Barbosa, que trabalham com educação e coordenam o Centro de Documentação e Comunicação Popular – Cecop, apontam os desafios das escolas públicas em abrir espaço para que as(os) estudantes mostrem suas habilidades, práticas culturais, formas de enxergar o mundo e sua relação com o conhecimento

Jovens estudantes no projeto da RPTV – Cecop

O Cecop atua em diferentes municípios do Rio Grande do Norte com programas de formação em cultura, educação e comunicação popular junto a crianças e adolescentes, muitas vezes em parceria com escolas e outras instituições.

Para eles, há uma ausência de programas e políticas públicas que incentivem essas práticas, a resistência que ainda persiste em alguns ambientes escolares e a falta de apoio para sistematizar e divulgar boas experiências. 

Para gerar mudanças, é preciso mobilizar docentes, famílias e responsáveis para a relevância dessas práticas, fortalecer conexões e parcerias com a comunidade e, por fim, dialogar com o poder público. Como ressaltam os educadores:

Não é possível pensar em processos, projetos e ações que impactem positivamente a vida das pessoas, que gerem melhorias na educação pública, se eles não forem realizados de forma democrática”.

Talita Barbosa e Raimundo Melo.


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