Campanha a importância da autodeclaração de raça/cor e o papel da educação
Com artigo e vídeos de formação, campanha da Comunidade Cenpec vai abordar a importância da autodeclaração e o papel da educação para o respeito à diversidade
Por Stephanie Kim Abe
Estes são alguns dos sentimentos que o ato de se autodeclarar pode causar nas pessoas quando elas estão diante dessas situações — como ao responder o Censo Demográfico 2022, se candidatar a uma vaga de emprego, se inscrever no vestibular ou se matricular na escola.
A lista de sentimentos é um compilado das respostas de cerca de 100 pessoas, entre educadoras(es), coordenadoras(es) pedagógicas(os), estudantes e outras(os) membros de centros e escolas de educação infantil e de ensino médio de São Paulo, além de funcionárias(os) e do Cenpec, a um questionário piloto criado pela Comunidade Cenpec sobre a temática da autodeclaração de raça e cor. O questionário foi elaborado e aplicado entre junho e julho de 2022.
Entre as perguntas que compunham o formulário, estavam:
Como você se autodeclara em relação à raça/cor?
Por que você se autodeclara dessa forma?
Você já mudou a sua autodeclaração? Se sim, por quê?
Para você, é importante fazer autodeclaração? Por quê?
“Se são pessoas negras de baixa escolaridade, sentem vergonha. O peso da escravidão. Elas tentam se afastar das marcas da negritude.”
(Resposta à pergunta: “Na sua opinião, o que as pessoas em geral sentem quando precisam fazer autodeclaração?”)
Maria Amabile Mansutti, mulher branca, consultora do Cenpec e integrante da Comunidade Cenpec — grupos de educadoras(es) voluntárias(os) que trabalharam ou trabalham em projetos e mantêm vínculos com a instituição — explica o intuito da ação:
Nós já vínhamos trabalhando com a questão racial na Comunidade Cenpec desde 2020 e identificamos que a autodeclaração muitas vezes é problemática. Com a aplicação do Censo 2022, achamos que seria ideal focar nesse tema. Além de estudos e leituras que vínhamos fazendo sobre o tema, este questionário piloto nos ajudou a levantar de fato as dúvidas e as inquietações geradas pela autodeclaração de raça/cor nas pessoas da comunidade escolar.”
A amostra de respostas ao questionário — algumas das quais ilustram essa matéria — revelou que há tanto desconhecimento sobre a importância do assunto quanto percepções equivocadas quanto à construção da sociedade e do uso da autodeclaração para fins de políticas públicas.
Claudiana Cabral, mulher parda, pesquisadora de raça e gênero pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), analista de EAD e integrante da Comunidade Cenpec, sintetiza algumas das problemáticas encontradas:
Algumas pessoas tiveram dificuldade em se colocar. Outras acreditam que não é um assunto importante. Um número expressivo de respondentes apontam que não deveríamos falar sobre o assunto, porque somos todos iguais. O problema é que, na sociedade, não somos todos iguais. E é justamente falando sobre isso que podemos gerar reflexão e mudanças estruturais importantes. Esses são os nossos objetivos.”
Claudiana Cabral
“Não, porque não somos diferentes de ninguém, somos todos iguais.”
(Resposta à pergunta: “Para você, é importante fazer autodeclaração? Por quê?”)
Com base nas análises das respostas, a Comunidade Cenpec criou a campanha “Declarar pra respeitar, colorir pra educar”. O objetivo é trabalhar a temática com a comunidade escolar.
Ainda que tenhamos materiais voltados para formação, ela é uma campanha de sensibilização, trazendo informações que possam expor e justificar o porquê de se autodeclarar, segundo três dimensões: identidade individual, pertencimento a um grupo e construção da nação. Queremos trabalhar essas questões com educadoras(es), escolas, instituições sociais e a sociedade como um todo”
Maria Amabile Mansutti
“Identidade de cor, história e autoafirmação.”
(Resposta à pergunta: “Por que você se autodeclara dessa forma?”)
O primeiro vídeo da campanha, que tem a participação das educadoras Maria da Glória Calado (Celacc/USP) e Claudiana Cabral (Cenpec), reflete sobre o que sentem e pensam as pessoas, em especial as pretas e pardas, ao se autodeclararem, e qual a importância disso para a formação da identidade pessoal:
“Sim, mais jovem me identificava pardo devido aos amigos e convivência. Reconhecia-me no ambiente, mas era visto de outra forma. Por isso mudei.”
(Resposta à pergunta: “Você já mudou a sua autodeclaração? Se sim, por quê?”)
O primeiro material a ser lançado será um artigo escrito por Maria da Glória Calado, educadora, psicóloga e pesquisadora no campo da educação. No texto, Glória, que estuda as relações étnico-raciais na escola, abordará a questão da identidade e do processo subjetivo de negação pelo qual muitas vezes as pessoas negras passam.
Durante toda a construção da sociedade brasileira e da identidade nacional, passamos por um processo de embranquecimento. Desde o período colonial, a população negra foi desumanizada. Então todo esse processo foi muito cruel e faz com que muitas pessoas não consigam se identificar como pessoas negras. Como é que você vai querer ser algo que a sociedade está falando o tempo todo que é ruim — mesmo sendo uma grande mentira?”
Claudiana Cabral
“Não. Qual é o objetivo dessa autodeclaração?”
(Resposta à pergunta: “Para você, é importante fazer autodeclaração? Por quê?”)
Claudiana também aponta a importância de tratar esse assunto com toda a sociedade — e isso significa também as pessoas brancas entenderem a sua identidade e o seu lugar de privilégio, construído ao longo de três séculos de escravidão:
“Sabemos que raça é uma criação social, não é um conceito biológico. Logo, se as pessoas negras foram racializadas, as pessoas brancas também precisam ser. Ou seja, precisamos falar sobre branquitude. Todas(os) precisamos pensar sobre as nossas ascendências e refletir sobre as relações sociais que se colocam a partir de quem somos“.
🎥 Além do artigo, a campanha terá três vídeos, cada um abordando uma das dimensões da autodeclaração: desde a sua questão identitária individual, passando pelo aspecto do reconhecimento das raízes étnicas e pertencimento social até a questão das políticas públicas afirmativas e do papel da educação. Os vídeos terão participação de especialistas, que explicarão algumas das questões trazidas pelas(os) respondentes do questionário piloto. Todos os materiais serão divulgados no Portal Cenpec.
A campanha vai servir também para mostrar como, na verdade, a população negra é a grande riqueza da cultura brasileira. Ela ainda é estigmatizada e sofre preconceito, mas é essa população que cria cultura, que gera conhecimento e que constrói o país desde o começo. Queremos resgatar essa história e recontá-la.”
Claudiana Cabral
“Nunca senti desconforto, pois me autodeclaro ‘branca’, que é a cor do privilégio. Pessoas não brancas podem se sentir desconfortáveis pois, eventualmente, ao declarar sua cor, estão sujeitas a atitudes discriminatórias.”
(Resposta à pergunta: “Na sua opinião, o que as pessoas em geral sentem quando precisam fazer autodeclaração?”)
Beatriz Cortese, mulher branca, diretora executiva do Cenpec, explicita como a campanha está de acordo com a missão da instituição:
Sabemos que os marcadores sociais, como raça/cor e gênero, aparecem na escola e influenciam na trajetória escolar das(os) estudantes. Ao defender a importância da autodeclaração e buscar fortalecer essa prática com toda a comunidade escolar, queremos não só evidenciar a importância do levantamento de dados para que governos e instituições como o Cenpec possam atuar a partir de evidências, garantindo o enfrentamento das desigualdades educacionais, como contribuir para a construção de uma escola que luta contra preconceitos, discriminação e racismo.”
Beatriz Cortese
Discriminação, racismo e preconceito são sinônimos? Confira no vídeo da Comunidade Cenpec:
“Expressão maior de um prejuízo sistemático, sustentado em três séculos de escravidão, a epidemia de homicídios, por exemplo, atinge em maior proporção a população negra: são 56 mil pessoas assassinadas todos os anos, o que equivale a 29 vítimas por cem mil habitantes, índice considerado epidêmico pela Organização das Nações Unidas (ONU). Desse total, 53% são jovens e, destes, 77% são negros e 93% do sexo masculino, reproduzindo e aprofundando as desigualdades sociais. Isso significa, segundo a ONU, cinco jovens negros mortos a cada duas horas no país, totalizando 23 mil jovens negros mortos por ano.”
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