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Dia da Educação: Tem história boa na minha escola! E na sua?
Que tal celebrar boas experiências escolares que acontecem Brasil afora, fortalecendo a escola como espaço de crescimento, boa convivência e muito aprendizado?
- Tamara Castro
Por Stephanie Kim Abe
Que a escola proporciona experiências transformadoras e é uma influência importante na vida de muita gente é ponto pacífico. O que difere é o tipo de marcas que ela deixa.
Há vezes em que o ambiente escolar não foi acolhedor o suficiente por diversos motivos, e a escola é lembrada como um lugar ruim, palco de episódios constrangedores ou violentos.
Outras vezes, o período escolar é lembrado com nostalgia – seja por termos aprendido coisas novas e importantes, conhecido professoras(es) cativantes, ganhado torneios escolares, apresentado um projeto incrível na feira de ciências, descoberto algum interesse forte o suficiente para levar pra vida profissional, ou simplesmente passamos os melhores e banais momentos com o grupo de amigas(os) ou colegas que formamos ali.
São por essas e tantas outras experiências positivas que acreditamos na potência da escola em proporcionar boas histórias, principalmente por vermos e ouvirmos acontecer – e publicizarmos, aqui, sempre que possível. Afinal, é preciso dar visibilidade ao que de bom acontece na educação pelo Brasil.
Pode ser um ✊🏾plano municipal de educação antirracista criado em conjunto com a comunidade escolar ou uma 👦🏿👧🏿disciplina eletiva criada pelas(os) próprias(os) estudantes do ensino médio.
Uma 🏙️escola que leva suas crianças a conhecerem, explorarem e pertencerem ao território em que estão ou que🌱utiliza o projeto de horta escolar para mudar o hábito alimentar da comunidade toda.
Uma 🔤gestão educacional que trabalha em conjunto com docentes para avançar na alfabetização das crianças ou 👩🏿🏫depoimentos de pessoas que lembram com carinho de professoras e professores que inspiraram suas vidas.
Há sim muitos problemas e desafios a enfrentar para que todas as crianças e adolescentes brasileiras(os) tenham acesso a uma educação de qualidade com equidade.
Mas, com cada nova boa experiência das mais diversas escolas e redes de ensino pelo país, aprendemos um pouco mais e mantemos viva a esperança para lutar por esse ideal tão necessário, que é de direito de todas e todos.
Neste Dia da Educação, contamos mais algumas boas histórias que atestam a importância de um bom ambiente escolar. Leia abaixo.
📍 Alice Holmann, estudante do 2o ano do ensino médio na E.E. B. Bom Pastor, em Chapecó (SC)
Quando entrou na Escola de Educação Básica Bom Pastor, no ano passado, Alice Holmann ficou muito interessada nos laboratórios que a escola oferecia. “Na minha escola anterior, não tínhamos feira de ciências, aulas práticas, nada de projetos. Era tudo novo pra mim”, lembra.
A estudante de 15 anos logo foi convidada por colegas a fazer parte de um grupo e passaram a estudar sobre energia renovável. Com a ajuda do professor Oelinton, eles acabaram trabalhando no que chamaram de GEEVACDA – Protótipo de Gerador Elétrico Eólico Vertical de Baixo Custo.
Além da apresentação na feira de ciências, eles se inscreveram na 9a edição do Solve for Tomorrow — iniciativa global de Cidadania Corporativa da Samsung, com coordenação geral do Cenpec no Brasil — e ganharam a competição na categoria Júri Popular.
Para ela, são essas possibilidades de fazer aulas práticas, como o laboratório maker (com impressora 3D, cortadora a laser) e as eletivas de projetos, que a fazem gostar da escola e se interessar mais pelos estudos.
O que a minha escola faz me ajuda demais a pensar no que eu quero ser futuramente. No nosso projeto, por exemplo, pudemos ir para o laboratório e pensar um gerador eólico, aprender coisas específicas sobre motor e energia elétrica, e começar a experimentar e testar para ver o que a gente realmente gosta. Eu planejo ser futuramente uma engenheira, então essa parte da construção do gerador foi muito útil pra mim”.
Alice Holmann, estudante do 2o ano do ensino médio na E.E. B. Bom Pastor, em Chapecó (SC)
🔬 Diante da alta demanda energética no planeta, a equipe da E.E. B. Bom Pastor propõe uma alternativa para obtenção de energia local: a construção de um gerador eólico de baixo custo que aproveita as correntes geradas no deslocamento de veículos leves e pesados em rodovias.
[Imagem do protótipo do gerador ao lado]
📍 Alexandra Alves Sobral, professora da Emei Profª Doraci dos Santos Ramos, em São Paulo (SP)
Mesmo antes de trabalhar nela, a professora Alexandra já se encantava com a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Profª Doraci dos Santos Ramos, no bairro Cidade Tiradentes, zona leste da capital paulista. Ela conta:
A escola já nasceu, em 2014, com um simbolismo muito forte. A escolha do nome foi feita pela consulta da comunidade para escolher uma patronesse. Daí o nome Doraci dos Santos Ramos, que foi uma professora do bairro, preta, periférica, educadora.”
Alexandra também admirava a instituição pela sua equipe gestora original, que desenvolvia um trabalho coeso de conhecer e se articular com o território. “Geralmente, em escolas da periferia, as(os) educadores não são do bairro, o que faz com o trabalho seja descolado da realidade local. Nesse caso, a equipe soube fazer um trabalho bastante assertivo, do meu ponto de vista”, diz educadora.
Justamente por isso, Alexandra, moradora de Cidade Tiradentes, pediu remoção para atuar como coordenadora pedagógica na Emei Doraci. Lá, a educadora continua seu trabalho de descolonização do currículo e busca manter viva a tradição de resistência e resgate da memória que as gestões escolares anteriores realizavam. “Compreendendo que esse bairro é um quilombo urbano, é um território preto, eu falei: ‘tô em casa, vou fazer um trabalho legal.”
A professora retoma parcerias com a biblioteca comunitária da região, para atividades de mediação de leitura; realiza projetos voltados para a educação das relações étnico-raciais, mostrando para as crianças diferentes referências culturais (imagens, danças, brincadeiras) para trabalhar a autoestima e valorizar suas ancestralidades. Dessa forma, trata da temática afro-brasileira para além do mês de novembro, além de trabalhar questões indígenas e de migrantes, e de manter um relacionamento próximo com as famílias.
“A educação infantil é como se fosse o alicerce da casa. A criança precisa sair daqui com uma autoestima positiva, para poder enfrentar e falar sobre as situações de racismo que ela, provavelmente e infelizmente, vai encontrar ao longo da vida. Por isso é importante fugir de estereótipos eurocêntricos e trazer outras referências”, defende Alexandra.
Hoje, Alexandra atua como professora na escola e continua achando incrível o trabalho realizado pelo corpo docente.
O que é legal e significativo da Emei Doraci é que ela nunca se perdeu. Sempre houve alguém que segurou a bandeira e manteve a história de Doraci, sua identidade e o seu legado vivos, e os celebra até hoje. No mês de novembro, fazemos uma mostra cultural e homenageamos essa família – inclusive as duas filhas de Doraci são professoras da rede e estão sempre presentes. É bem bonito e movimenta esse trabalho de luta antirracista.”
Alexandra Alves Sobral, professora da Emei Profª Doraci dos Santos Ramos, em São Paulo (SP)
📍 Galileu da Silva Pires, professor de Biologia da E. E. Nossa Senhora de Nazaré, em Manacapuru (AM)
O professor Galileu da Silva Pires é a prova viva de que professoras(es) inspiram e marcam estudantes pra sempre. Primeiro, porque ele próprio só realiza o seu trabalho pois teve excelentes modelos a seguir.
“O que me motiva é que eu tive um excelente ensino médio em uma escola técnica. Eu tive um excelente aprendizado e tudo o que eu sou hoje eu devo a minhas professoras e meus professores dessa época”, explica ele.
Engenheiro mecânico e biólogo de formação, Galileu levou sua experiência acumulada trabalhando no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) para a sala de aula, quando passou a lecionar em 2016 na Escola Estadual Nossa Senhora de Nazaré, em Manacapuru, na região metropolitana de Manaus (AM).
Quando cheguei, o laboratório da escola estava fechado há muitos anos, porque nenhum professor queria assumir ou sabia usar o espaço. Comecei a trabalhar com pequenas pesquisas e pequenos grupos de estudantes, e começamos a participar de competições”, relembra.
Galileu da Silva Pires
Desde então, os seus projetos voltados para tecnologia e pesquisa científica têm dado muitos frutos e atraído cada vez mais estudantes. O projeto de um grupo do 1o ano que estudou escamas de peixe regionais (como aruanã e pirarucu) em fibra, por exemplo, foi ganhador da 6a edição do Solve for Tomorrow, em 2019. Confira o vídeo de apresentação do projeto.🔬
Com o apoio da prefeitura, a escola montou uma sala maker e tem incentivado a participação de meninas nas ciências. No ano passado, a escola promoveu a primeira competição de robótica. Este mês, uma sala de japonês será inaugurada na escola, fruto da iniciativa das(os) próprias(os) estudantes.
Galileu conta como esse movimento vem transformando não só as(os) alunas(os) da escola Nazaré, mas o município de Manacapuru como um todo:
Aqui no nosso interior do Amazonas, as(os) estudantes são desacreditadas(os) devido à falta de informações, à dificuldade de ter um aprendizado de qualidade, muito por causa das grandes distâncias do estado. Mas temos visto crianças do ensino fundamental que já sonham em, quando chegarem no ensino médio, ir pra Nazaré e participar de projetos científicos. Criou-se uma bola de neve do bem. A educação começou a ter uma outra perspectiva aqui no município, e nos tornamos exemplos para outras cidades da região.”
Galileu da Silva Pires, professor de Biologia da E. E. Nossa Senhora de Nazaré, em Manacapuru (AM)
Às(Aos) demais educadoras(es) brasileiras(os), Galileu pede que, apesar de todas as dificuldades, acreditem no potencial de seu trabalho e no impacto que as suas práticas pedagógicas vão ter no futuro das(os) estudantes e da sociedade brasileira:
Não é fácil, mas não podemos desistir. Eu me senti na obrigação de dividir e retornar todo o conhecimento que adquiri ao longo da vida para as(os) estudantes. E a minha maior motivação é pensar no resultado que nossas ações vão gerar não só para mim, mas para a sociedade lá na frente. Eu penso no retorno social, o que meus(meus) alunas(os) vão ser no futuro, e não no financeiro”
Galileu da Silva Pires, professor de Biologia da E. E. Nossa Senhora de Nazaré, em Manacapuru (AM)
📍 José Ozenir Dias Jacauna, diretor da ETI Rodrigo de Argolo Caracas, rede municipal de Guaramiranga (CE)
Guaramiranga é uma dessas muitas cidades espalhadas pelo Brasil em que prevalece aquele sentimento de que todo mundo conhece todo mundo. Afinal, tem pouco mais de 5 mil habitantes. Não é de se espantar, portanto, que o corpo docente e a gestão de cada uma das três escolas do município troquem figurinhas sobre as(os) suas(seus) estudantes.
O público é praticamente o mesmo, porque quando os alunos saem de uma escola no 6o ano, eles vão pra outra. Quando uma estudante se sai bem nas provas, todo mundo vibra, porque é considerada nossa aluna também”, explica.
Tereza Dayane Lopes de Sousa Barros, diretora da Escola Municipal de Tempo Integral (ETI) Professora Maria Ylma de Amorim Moreira.
São essas trocas e diálogos que permitem manter um trabalho coeso relacionado ao acolhimento, uma das prioridades da rede de educação desse município cearense, que recebe assessoria do projeto ImpulsiONar para a melhoria da aprendizagem em Língua Portuguesa e Matemática.
Isso não quer dizer que as ações são as mesmas. Na ETI Maria Ylma, por exemplo, as professoras realizam rodas e projeto de leitura, além de comemorarem datas, sempre abrindo os festejos para a comunidade. A festa junina, por exemplo, acontece no centrinho do território rural onde se localiza a escola.
O nosso foco é chamar a comunidade para dentro da escola, buscando acolher as(os) estudantes e também os familiares, que aqui estão bem presentes na educação das(os) filhas(os)”, conta
Antonia Érika Vieira Jorge, coordenadora do Tempo Integral da ETI Maria Ylma.
Na Escola Municipal Ensino Fundamental Rodrigo Argolo Caracas, há um painel onde o corpo docente e a gestão escolar controlam a frequência das(os) estudantes, acionando a busca ativa caso as faltas frequentes acendam um alerta. Por lá, o acolhimento é diário e envolve também o corpo docente, como explica o professor Ozenir Jacaúna:
Fazemos tudo com muito carinho, cuidado e zelo, seja pela carência das famílias, seja porque acreditamos que o acolhimento é necessário antes de começar uma manhã ou tarde de estudos. Esse acolhimento passa principalmente pelo professor, que é quem está na ponta, quem acolhe e está mais em contato com estudantes e familiares”.
Ozenir enfatiza que esse acolhimento é trabalhado por toda a gestão educacional e compartilhado pelas equipes gestoras e docentes das escolas, sempre com um objetivo em vista: a garantia dos resultados acadêmicos das(os) estudantes.
“Independentemente da função que exerce, todo mundo realiza um trabalho coletivo de acolhimento para garantir um bom clima escolar, com foco na melhoria da aprendizagem das(os) nossas(os) alunas(os)”, diz Ozenir.
E você, que tal compartilhar com a gente iniciativas inspiradoras em escolas? Conta pra gente!
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