Por que precisamos de formação docente sobre inclusão?
Estudo aponta que maioria das(os) docentes entende benefícios da educação inclusiva, mas 40% não têm formação específica
Por Stephanie Kim Abe
Durante a sua carreira de 12 anos como professora de química do estado do Espírito Santo, Ívina Langsdorff Santana já teve diversas(os) estudantes com deficiência em suas salas de aula de ensino médio. Alguns(as) com Síndrome de Down, outras(os) autistas, outras(os) com problemas de cognição.
Apesar dessa realidade, ela nunca teve uma formação sobre educação inclusiva. Por isso, mesmo contando com a presença da(o) profissional de Atendimento Educacional Especializado (AEE), ela reconhece as dificuldades de trabalhar nessa perspectiva e sempre buscou ajuda:
Eu não sou formada na área, não faço ideia de como trabalhar muitas vezes com essas(es) estudantes e o apoio às vezes é falho. Não porque as(os) professoras(es) de AEE não saibam, mas porque é muita criança para poucos profissionais disponíveis. Infelizmente, temos falta de recursos. Então vai do interesse de cada docente – e eu sempre tive – de procurar essas(es) profissionais para pedir ajuda na adaptação das atividades. E, quando conseguimos adaptar, percebo que a experiência é muito gratificante – para estudantes com deficiência, para a turma, para as(os) professoras(es).”
Ívina Langsdorff Santana
Uma dessas experiências marcantes aconteceu no fim de 2019, quando ela lecionava na EEEM Colégio Estadual do Espírito Santo, com um aluno de 17 anos que tinha idade mental de 5 anos durante uma aula prática em que realizaram o experimento do foguete com garrafa pet para estudar as reações químicas. A professora conta:
“O estudante ficou encantado quando o foguete estourou e adorou a aula – tanto que chorou quando bateu o sinal que a aula tinha acabado. Ele acabou ficando comigo para a mesma aula com as turmas seguintes, e sempre que as(os) colegas entravam ele mostrava o que tinha feito, como tinha pintado a sua garrafa pet com as cores do Flamengo. O adolescente não participava de todas as disciplinas, porque precisava estar sempre com cuidador, mas, depois desse dia, começou a falar que gostava de química e física, que eram suas matérias favoritas, e passou a frequentar todas as minhas aulas.”
Cenário da docência no Brasil em relação à inclusão
A professora Ívina não é a única que se sente despreparada para lidar com a inclusão em sala de aula. Um estudo realizado com 967 docentes do ensino fundamental e médio de escolas públicas de todas as regiões do país revelou que 40% nunca fizeram uma formação sobre inclusão de estudantes com algum tipo de deficiência.
O destaque vai para a falta de formação geral ou específica no tema entre docentes do ensino médio – metade delas(es) nunca teve formação a respeito da temática.
Com relação às regiões brasileiras, docentes do Nordeste (49%) e do Norte (41%) formam os maiores grupos dos que nunca fizeram esse tipo de formação. Na região Sudeste, são 40%, na Sul 28%, tal como na região Centro-Oeste.
O estudo, apresentado pelo Instituto Rodrigo Mendes em maio e realizado pelo Datafolha a pedido da Fundação Lemann no final de 2021, buscou entender o cenário da docência no Brasil com relação à inclusão, a fim de detectar possíveis barreiras do professorado à educação inclusiva.
Nesse sentido, os resultados foram positivos. A maioria das(os) docentes (70%) acredita que a escolarização de crianças com deficiência junto às demais beneficia a todas(os). Para 12% das(os) docentes entrevistadas(os), a inclusão prejudica estudantes sem deficiência, sendo que 11% lecionam para os anos iniciais do ensino fundamental, 14% lecionam para os anos finais do fundamental e 9% para o ensino médio.
Os resultados indicam que pelo menos 70% das(os) docentes entendem que a educação inclusiva beneficia não só estudantes com deficiência, mas todas(os) as(os) estudantes da escola. O fato de as(os) professoras(es) acreditarem na educação inclusiva é condição indispensável para ela acontecer. As(Os) docentes da sala de aula têm que confiar na aprendizagem daquelas(es) estudantes. Elas(es) têm que se sentir desafiadas(os) pela presença daquelas(es) estudantes.”
Luiza Corrêa
Luiza destaca que 13% das(os) respondentes disseram que a educação inclusiva contribui apenas para as(os) estudantes com deficiência. “Ou seja, na verdade, 83% das(os) professoras(es) confiam no princípio da educação inclusiva, apesar de não entenderem que ela também contribui para as(os) colegas. É um cenário muito positivo para começar a melhorar a qualidade da recepção de estudantes de inclusão em sala de aula.”
Além disso, 95% das(os) professoras(es) conhecem os direitos de estudantes com deficiência terem acesso a escolas comuns e compartilharem seus espaços com as(os) demais.
É o caso da professora Ívina:
A educação inclusiva é benéfica para todos os lados. Não vejo nenhum problema, nenhuma desvantagem. Para os estudantes com deficiência, estar na escola permite que eles convivam com crianças e adolescentes da idade deles e aprendam mais, não só do ponto de vista do aprendizado, mas da interação social, contribuindo para que possam viver da maneira mais independente possível na sociedade. Além disso, quebra aquele estigma de antigamente, de ser da Apae, de ficarem isolados. Para os demais estudantes, é uma formação humana, pois eles só vão aprender a lidar com a diversidade se ela for permitida dentro da sala de aula e da escola.”
Para Luiza Corrêa, não é nenhuma novidade que falta formação e preparo para as(os) professoras(es) lidarem com a educação inclusiva, já que o Instituto Rodrigo Mendes trabalha há 28 anos com a temática. De acordo com ela, há pouco investimento público, ainda que haja demanda, em formação de professoras(es) no tema e, quando há, ele é voltado para as(os) profissionais do AEE.
A professora Ívina, por exemplo, sente falta de formações que tratassem das deficiências mais comuns e como lidar com estudantes autistas, surdos, cegos etc, e acredita que as secretarias precisam investir nesse tema. Mas ela entende que são vários tipos de atendimento especial e que cada criança e adolescente tem a sua peculiaridade, o que torna tudo mais complicado:
A formação precisa ter algo prático, para que as(os) professoras(es) consigam aplicar em sala de aula. É lógico que cada deficiência precisa de uma adaptação, que cada docente se planeja de um jeito, mas as formações poderiam trazer exemplos do que se fazer em determinados casos. Até porque, em algumas situaçõers, descobrimos que são detalhes que fazem com que a(o) estudante se sinta mais mais à vontade em sala de aula.”
Ívina Langsdorff Santana
Outro problema é que as formações sobre a modalidade de educação especial nem sempre adota a perspectiva inclusiva. Isso significa que elas focam estritamente no impedimento daquela pessoa. Por exemplo, no caso de estudantes cegas(os), as(os) educadoras(es)entendem que precisam aprender como ensinar essas(es) estudantes a ler e escrever em braille. Porém, nem toda(o) estudante cega(o) quer ou precisa usar braille, necessariamente.
“Existe diversidade entre os impedimentos das pessoas. O que define aquela pessoa não é o impedimento, mas sim a sua facilidade em aprender algo, as suas potencialidades. Então a perspectiva inclusiva olha muito mais para o sujeito do que para a sua deficiência. Assim, essas formações têm uma perspectiva muito mais multifuncional, dialógica, de tentar remover as barreiras, no lugar de tentar só apenas compensar o impedimento. Nada nos impede de investir em tecnologia assistiva, em recursos de acessibilidade – que são ótimos! Mas também precisamos investir em metodologias que sirvam para todas(os) as(os) estudantes. Assim, todas as escolas podem Assim, todas as escolas podem receber toda(o) e qualquer aluna(o)”, explica Luiza.
O que é tecnologia assistiva? Esse termo denomina uma gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas voltadas a proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e promover sua independência e inclusão. Por exemplo: lupas e lentes para pessoas cegas ou com visão subnormal; telefones com teclado para surdas(os) ou com déficit auditivo; andadores e cadeiras de roda para pessoas com dificuldade. Saiba mais.
Assim, focar em metodologias alternativas de ensino, explorar diferentes recursos que podem ser usados para cada estudante e também oportunizar o diálogo entre as(os) docentes da sala de aula, as(os) profissionais de AEE, as(os) estudantes e a sua família, para entender o que essas(es) crianças e e adolescentes precisam para avançar são algumas das medidas que valem o investimento das redes de ensino.
Formação em EAD sobre educação inclusiva
Na plataforma de formação do Instituto Rodrigo Mendes, é possível encontrar cursos on-line e gratuitos sobre educação na perspectiva inclusiva.
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