Inclusão de pessoas com deficiência pela abordagem STEM

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Inclusão de pessoas com deficiência pela abordagem STEM

Escola Estadual Tristão de Barros cria laboratório maker e impacta políticas de descarte do lixo eletrônico após participação no Prêmio Respostas para o Amanhã

Por João Marinho

O município de Currais Novos, no Rio Grande do Norte, tinha dois problemas que afligiam a comunidade.

O primeiro era o descarte inadequado do lixo eletrônico, problema este compartilhado por todo o País, que não tem um modelo de política pública em vigor para a questão. O segundo, o pó de madeira produzido pelas serrarias da região.

A situação levou o professor Ivanês Oliveira Alexandrino e os alunos da Escola Estadual Tristão de Barros a proporem soluções para ambos – e, como resultado, a escola foi vencedora em duas edições subsequentes no Prêmio Respostas para o Amanhã, em 2014 e 2015, respectivamente.

O projeto “Equilíbrio – para uma inclusão sustentável e um meio ambiente melhor”, grande vencedor da 1ª edição (2014), destacou-se ainda por outro motivo: é que o lixo eletrônico se tornou matéria-prima para a produção de equipamentos e tecnologias para pessoas em cadeiras de rodas e com deficiência visual que estudavam na mesma escola. Assista ao vídeo.

Confira, na entrevista com o Prof. Ivanês Alexandrino, os impactos que o Prêmio Respostas para o Amanhã trouxe para a escola e para o município de Currais Novos.

Ivanês Oliveira Alexandrino tem graduação em física e matemática pela UFRN.
Foto: Arquivo pessoal.

CENPEC Educação: A Tristão de Barros participou logo da primeira edição do Prêmio Respostas para o Amanhã. Na época, de que forma você e os alunos souberam da existência do Prêmio?

Ivanês Alexandrino: A Tristão de Barros participava da Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura (CIENTEC), na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – mas, justamente em 2014, não ocorreu a parceria que, até então, havia entre o governo do estado e a universidade. Ficamos sem financiamento para apresentar nosso projeto com lixo eletrônico na feira. Então, minha turma e eu fomos ao laboratório de informática para procurar na internet sites de feira e eventos onde pudéssemos demonstrar nosso projeto. Foi assim que “descobrimos” o Respostas para o Amanhã.

CENPEC Educação: E o que chamou a atenção para que vocês se inscrevessem?

Ivanês Alexandrino: Quando líamos o edital, a cada item, a cada parágrafo, nós nos identificávamos com o Prêmio, porque ele trazia algo que estava dentro do que trazíamos e que está no próprio nome: respostas para o amanhã. Nosso projeto procurava dar uma solução para as pessoas com deficiência física e visual. Eram respostas que dávamos à comunidade escolar e à sociedade.

CENPEC Educação: Ter sido premiado mudou algo na escola?

Ivanês Alexandrino: Nossa escola foi premiada duas vezes, e temos muito orgulho disso. As transformações no colégio foram imensas, assim também como na comunidade e na metodologia que nós utilizamos aqui. Mudou o modo de pensar, a cabeça dos nossos alunos. Houve, de fato, um protagonismo, a partir do momento em que esse aluno se sentiu capaz de criar, de fazer, de acreditar no que faz.

Alunos da Escola Estadual Tristão de Barros testam painéis solares. Foto: Ivanês Alexandrino/Arquivo pessoal.

CENPEC Educação: Conte um pouco para nós sobre o projeto. Como ele dava respostas para a questão do lixo eletrônico e para os desafios enfrentados por pessoas com deficiência?

Ivanês Alexandrino: Trabalhamos com dois problemas em nossa comunidade: o primeiro era o lixo eletrônico, que começou a ser recolhido, em quantidade bem acentuada, por nossos alunos.

O segundo foram as deficiências que alguns de nossos estudantes tinham. Havia uma turma com três pessoas com deficiência visual ou física, e, a partir do recolhimento daquele lixo eletrônico, resolvemos fazer protótipos que atendessem às necessidades desses estudantes.

Nossos primeiros protótipos foram uma bengala eletrônica e uma cadeira de rodas motorizada, que testamos e aprovamos por meio da abordagem STEM (science, technology, engineering, and mathematics): criávamos os protótipos, testávamos, fazíamos adequações, aperfeiçoávamos.

No fim, esse projeto acabou servindo não apenas aos nossos alunos, mas também para a comunidade: ajudamos várias associações, doamos cadeiras, doamos bengalas… e o que é mais interessante: estimulamos uma lei no nosso município. Hoje, nossa escola é um ecoponto oficial para descarte e recolhimento de material eletrônico, e, com isso, criamos nosso laboratório maker.

Alunos em atividade no laboratório maker da Escola Estadual Tristão de Barros. Foto: Ivanês Alexandrino/Arquivo pessoal.

CENPEC Educação: Então, hoje, vocês têm um laboratório somente para a produção de protótipos?

Ivanês Alexandrino: Sim, e ele aproveita todo o material eletrônico recolhido, com ferramentas fabricadas por nossos alunos a partir da sucata.

Esse material, nós transformamos em peças no nosso laboratório, que atende às necessidades das disciplinas de física, química, matemática e biologia e permite que o aluno materialize a pesquisa que está fazendo. Há alicate, chave de fenda, multímetro, martelo… É uma verdadeira fábrica de materialização dos projetos escritos.

Já no segundo ano do laboratório maker, conhecemos a plataforma Arduino, que emite comandos a distância, e, com esses materiais, ampliamos a criação, com robótica.

Hoje, nosso laboratório é um galpão de criação, onde podemos produzir um motor de dois tempos, criar placas de energia solar e o que estiver na cabeça do aluno. Tudo a partir de computadores quebrados, impressoras quebradas, com a ajuda fundamental do Arduino.

Confira o que é a plataforma Arduino e como ela auxilia em projetos maker.

CENPEC Educação: Que planos vocês têm para o laboratório maker, para um futuro próximo?

Ivanês Alexandrino: Estamos nos aperfeiçoando a cada dia e já contamos com uma cortadora laser. Nossa meta agora é uma impressora 3D, que pretendemos adquirir até o final do ano. Inclusive, temos um segundo laboratório, de informática: o Samsung Smart School, com equipamento de ponta, doado pela empresa.

CENPEC Educação: Qual mensagem você deixa para os professores e estudantes interessados em se inscrever na 6ª edição do Prêmio Respostas para o Amanhã?

Ivanês Alexandrino: Nosso projeto deu uma guinada e transformou a vida deste colégio, que hoje é conhecido nacional e internacionalmente, graças à divulgação e reconhecimento que tivemos por meio do Prêmio Respostas para o Amanhã.

Hoje, nós nos sentimos capazes, pois, antes, não sabíamos do nosso potencial enquanto professores, enquanto alunos, enquanto comunidade – que começou a olhar com outros olhos o que fazíamos aqui, nesta escola.

Conheça os vencedores da 6ª edição do Prêmio Respostas para o Amanhã (2019)

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