Por Stephanie Kim Abe
Comecemos com uma pergunta central: você se considera uma pessoa leitora?
Para aquelas pessoas que lêem livros com certa frequência, provavelmente não há hesitação em responder sim. Aquelas que não o fazem, devem tender para o não. Outras vão entender a pergunta como vaga e se perguntar: mas ler o que?
A verdade é que o fato de você estar lendo essa reportagem já te faz uma pessoa que, sim, lê.
“O que você já leu desde a hora que acordou? Um letreiro de ônibus? A chamada da notícia na televisão? A bula do remédio antes de dar a medicação para o filho? A discussão no grupo de professoras do WhatsApp? É preciso desmistificar que pessoa leitora é só aquela que lê livros e acreditar no seu potencial leitor. Eu leio vários gêneros textuais ao longo do dia, eu leio o mundo. É para isso que aprendemos a ler e escrever”, diz Ariana Coelho R. Rocha.
Ariana é pedagoga e formadora de formadoras(es) e professoras(es). Essa sua fala costuma ser feita quando faz formações e quer problematizar essa temática com seu público de profissionais da educação que hesitam em se considerar leitoras(es).
É também um ponto de vista compartilhado pelas suas colegas pesquisadoras que fazem parte do Grupo de Estudos Alfabetização em Diálogo (GRUPAD). Vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (GEPEC) da Faculdade de Educação da Unicamp, o GRUPAD existe há 14 anos para discutir ideias e compartilhar relatos sobre formação leitora, práticas pedagógicas que estimulam esse hábito e dificuldades e insights que surgem das experiências de suas(seus) integrantes em diferentes espaços escolares.
A importância de nos formarmos leitoras(es)
Para Heloísa Martins Proença, formadora do Cenpec e outra participante do GRUPAD, é importante considerar as múltiplas dimensões da formação de uma pessoa leitora:
“Ler é muito genérico. E ler tampouco é um dom. A leitura é uma construção social que depende de intervenção sistemática para que aconteça. Assim, quando pensamos na formação leitora, precisamos pensar numa prática intencional e que tenha a possibilidade de ser particularizada para cada sujeito, para que cada um se encontre dentro de uma dinâmica do que é ler para si – seja uma leitura literária, uma leitura como prática social, uma leitura do cotidiano”
Já Fernanda Dalmatti, outra integrante do grupo que é professora de educação infantil do município de Campinas (SP) e mestranda em Educação escolar pela Unicamp, lembra que professoras e professores, ao serem responsáveis pela formação leitora das(os) estudantes, devem estar particularmente vigilantes à sua própria formação.
“As professoras lêem, tal como foi dito acima, das mais diferentes formas. Mas, como tal, precisamos dar um passo para podermos assim formar melhor nossos estudantes e garantir o seu direito de ler. E esse processo de me formar enquanto leitora foi algo que eu aprendi no coletivo – tanto entre pares, por exemplo, com as minhas colegas do GRUPAD, como com as crianças da minha turma. Ambos os grupos me impulsionaram a buscar leituras, autores e a abrir meu repertório”, diz.
Como garantir, assim, uma formação continuada de leitoras(es) críticas(os) e fluentes? A partir da experiência das pesquisadoras do GRUPAD e da forma como estruturam metodologicamente suas formações, elencamos abaixo alguns elementos que elas consideram essenciais nesse processo.
Os relatos das educadoras indicam que as dicas valem tanto para quem trabalha na educação infantil, ou seja, com crianças que nem ainda estão alfabetizadas, quanto para quem lida com adolescentes do Ensino Médio – inclusive, até, para a Educação Superior.
“Claro que, se um sujeito do Ensino Médio passou por um processo de escolarização que não privilegiou a sua formação leitora, ele terá mais dificuldades de ler. Mas isso pode acontecer com todos os públicos que, infelizmente, passarem por isso. Se eu trabalhar em uma escola de educação infantil onde a leitura não circula, também terei dificuldade de despertar esse hábito e desenvolver essa habilidade com meus estudantes pequenos”, alerta Heloísa.
Uma formação continuada de leitoras(es) deve:
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