Recursos digitais para engajar estudantes a distância
Confira as dicas do educador Leandro Holanda sobre ensino híbrido e práticas engajadoras durante o primeiro webinar da 8ª edição do Prêmio Respostas para o Amanhã
Por Stephanie Kim Abe
Qual a diferença entre ensino híbrido, ensino a distância (EaD) e ensino remoto? Foi explicando esses conceitos, tão falados atualmente, que o professor Leandro Holanda iniciou o webinar Ensino híbrido: uso de recursos digitais para práticas engajadoras, no dia 29 de abril, promovido pelo Prêmio Respostas para o Amanhã – iniciativa brasileira do Solve For Tomorrow, programa global da Samsung.
Especialista em Tecnologias Educacionais, professor universitário e cofundador da Tríade Educacional, Leandro Holanda explicou que EaD é uma modalidade de educação regulamentada no Brasil, na qual os(as) alunos(as) aprendem por meio de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). O ensino remoto acontece quando os(as) estudantes não estão no ambiente físico da escola. Ainda que não seja um termo novo, começou a ficar mais presente com a pandemia, sendo utilizado para se referir às adaptações realizadas para que os(as) alunos(as) pudessem continuar aprendendo de casa, com as escolas fechadas.
Já o ensino híbrido, explicou Leandro, “é uma abordagem que conecta o on-line com o presencial”. Ou seja, é preciso que haja também a dimensão presencial para que ele aconteça. Se, antes da pandemia, a dimensão on-line dos modelos de ensino híbrido acontecia também dentro da escola, nas salas de informática, hoje em dia essas atividades estão previstas para ser realizadas em casa, em um contexto de reabertura gradual das escolas.
O nosso grande desafio hoje é: como eu integro o que ele fez on-line com o que ele vai fazer presencialmente?”
Inscreva-se na 8ª edição do Prêmio Respostas para o Amanhã As inscrições para o Prêmio estão abertas até o dia 30 de junho de 2021. O objetivo é estimular e divulgar projetos de investigação e experimentação científica e/ou tecnológica desenvolvidos por estudantes do Ensino Médio de escolas públicas.
O Prêmio Respostas para o Amanhã é a iniciativa brasileira do Solve For Tomorrow, programa global da Samsung que em 2021 acontece em 35 países. No Brasil, é realizado desde 2014 e tem abrangência nacional, com coordenação geral do CENPEC Educação.
O professor citou o modelo de rotações como um dos mais comuns utilizados no ensino híbrido e presente nas escolas. Dentro dele, estão a sala de aula invertida, a rotação por estações, o laboratório rotacional e a rotação individual.
Na sala de aula invertida, por exemplo, o(a) estudante se prepara para a aula em casa, assistindo a algum vídeo ou lendo algum texto, e durante a aula ele(a) mobiliza esses conceitos em atividades com o grupo, como em um projeto, um debate ou outra dinâmica proposta pelo(a) educador(a). A rotação por estações permite que o(a) estudante realize diferente tipos de atividades, curtas e interativas, que abordam o mesmo conteúdo de diferentes formas. Leandro lembrou que essa abordagem, que antes funcionava muito bem, pode ser adaptada para o momento atual:
Você pode criar três salas virtuais. Então, em 45 minutos de aula, em vez de ficar ouvindo o professor em videoconferência, o aluno vai passar por diferentes propostas. Quando estamos falando de estudantes brasileiros, a gente deve considerar que a maior parte deles não tem uma boa conexão, então talvez essa rotação possa ser adaptada para uma lista impressa, em que o aluno não precise estar conectado o tempo todo.”
Leandro Holanda
Outra adaptação que vale a pena investigar mais é o modelo virtual enriquecido, em que o(a) estudante tem uma rota virtual como principal trabalho a ser realizado e as atividades realizadas presencialmente em sala de aula servem para enriquecer o que já foi feito em casa. “Ele vem à escola para fazer um reforço, trabalhar em um projeto ou fazer uma oficina”, explica Leandro.
Durante o webinar, o professor compartilhou alguns recursos digitais gratuitos que podem ser utilizados por educadores(as) para estimular o engajamento de estudantes em disciplinas das áreas de Ciências e Matemática, em estratégias de ensino híbrido. Listamos as dicas abaixo, com o link e uma breve descrição sobre cada uma dessas ferramentas:
GeoGebra – para criar e experimentar diversos aplicativos matemáticos;
Phet – para simulações interativas de Ciência e Matemática;
WebQuest – traz a possibilidade de criar processos investigativos
EdPuzzle – permite editar vídeos e inserir perguntas ao longo deles para que os(as) alunos(as) respondam
Mentimeter – permite a coleta de dados e informações em tempo real. É possível criar uma nuvem de palavras, por exemplo.
Padlet – para criar murais virtuais colaborativos.
É preciso levar em conta a diversidade de realidades brasileiras para pensar nas soluções para as práticas pedagógicas remotas. Em um contexto em que os estudantes não tem conexão de internet de qualidade ou mesmo equipamentos adequados, o professor alerta para a necessidade de adaptação e personalização das estratégias utilizadas:
Não é possível, por exemplo, estruturar tudo em videoconferências se os estudantes não têm conexão. Se seguirmos uma linha única de raciocínio e de estratégia, pode ser que a gente esteja alcançando sempre e apenas o mesmo grupo de estudantes.”
Leandro Holanda
Essas diferentes soluções pedagógicas vão alcançar mais alunos(as) e podem colocar todos(as) no mesmo patamar, garantindo então uma equidade na aprendizagem.
Os recursos digitais são uma fonte rica e abundante de apoio para a personalização de estratégias. Além de trazerem diversificação, eles permitem a coleta de dados e evidências sobre o progresso e o aprendizado dos(as) alunos(as), ajudando na tomada de decisões pelo(a) professor(a) sobre quais caminhos seguir.
O webinar trouxe relatos de práticas feitas por docentes que participaram de edições anteriores do Prêmio Respostas para o Amanhã. O professor Joanderson de Santana Lacerda, da Escola de Referência em Ensino Médio de Ipojuca (PE), contou como a equipe trabalhou, no início da pandemia, com “minilaboratórios” entregues nas casas dos estudantes. O projeto Análise do efeito de plantas medicinais para a produção de biorepelente em difusor elétrico e larvicida orgânico no combate a mosquitos hematófagos foi um dos finalistas da 7ª edição do Prêmio.
Já o professor Gustavo Santos Bezerra, de Flores (PE) e orientador de outra equipe finalista – com o projeto Revestimento em ovos de granja a partir do amido do arroz vermelho –, contou que trabalha em uma escola rural e que a maioria de seus alunos só tem acesso à internet por dados móveis. Vários deles conseguem acessar apenas o WhatsApp e o Instagram. Pensando nisso, Bezerra produziu animações e vídeos para divulgar justamente nesses aplicativos. Além disso, adaptou as práticas de laboratório para serem realizadas nas cozinhas das casas dos alunos.
Veja a íntegra do webinar Ensino híbrido: uso de recursos digitais para práticas engajadoras:
Integração de habilidades
Leandro Holanda chamou atenção para a importância de garantir que os(as) alunos(as) não só conheçam e saibam usar essas ferramentas, como também criem a partir delas. Para isso, é preciso realizar o uso guiado desses recursos, ou seja, eles devem fazer parte de um percurso pedagógico e estar alinhados aos objetivos de aprendizagem. “Não é só usar o aplicativo. Os alunos têm um percurso de investigação e algo para criar”, disse o professor.
Entre as pesquisas que apontam as diferenças de impacto na aprendizagem desses recursos, Leandro citou o estudoO BID e a tecnologia para melhorar a aprendizagem: como promover programas eficazes?, que indica que o uso guiado dos recursos digitais chega a impactar quase 18% do rendimento acadêmico de estudantes, enquanto que o não-usado é bem menor (cerca de 4%).
Nesse cenário, o(a) professor(a) tem o papel de mediador(a) e curador(a) dos recursos digitais, pensando também em quais conteúdos serão ministrados com a ajuda dessas ferramentas. Utilizando o modelo TPACK, o professor Leandro lembrou que os(as) docentes precisam integrar três níveis de conhecimentos para que possam criar atividades engajadoras para aprendizagem de estudantes: do conteúdo, de práticas pedagógicas e da tecnologia.
Essa intersecção entre o conhecimento do conteúdo e o pedagógico é a didática. Ou seja, para cada conteúdo, eu tenho uma estratégia que se faz melhor para ensiná-lo. Aprendemos a criar essas práticas pedagógicas na nossa formação, na licenciatura. O outro ponto é o conhecimento da tecnologia. Eu não necessariamente domino essa tecnologia, mas escolho quais recursos digitais vão me ajudar e vão se integrar ao conteúdo e à proposta que eu estou fazendo. Se eu vou fazer uma rotação por estações, qual o conteúdo dessa rotação? Que recursos eu vou utilizar para fazer isso? Qual a melhor estratégia?.”
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