Cartografando a escola

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Cartografando a escola

Marcos Roberto dos Santos, professor e mestre em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP)
O que é?

Construção de maquete para representação cartográfica do espaço da escola. 

Material

• Cartolinas.
• Caixas de fósforo vazias.
• Bloquinhos de isopor ou objeto similar.
• Palitos de sorvete.
• Caixas tetrapak (caixas de leite, de suco grandes e pequenas).
• Embalagens (plástico, madeira).
• Papelão para suporte.
• Tintas guache (cores primárias), canetas hidrocor, lápis de cor.
• Pincéis e panos para limpeza dos pincéis.
• Cola e tesouras. 

Finalidade

• Considerar o conhecimento prévio dos alunos sobre as perspectivas de observação dos objetos, superfícies e paisagens (visão vertical, oblíqua e horizontal).
• Promover a exploração da percepção espacial e as diferentes formas de representação dos espaços e dos objetos, elaboração e interpretação de legenda e noções de escala. 
• Desenvolver a percepção de proporcionalidade. 
• Desenvolver habilidades para representação cartográfica. 

Expectativa

Trabalhar observação sistemática e representação espacial. Desenvolver habilidades associada à representação cartográfica do espaço por meio da observação e descrição. Desenvolver dinâmica de trabalhos em equipe. Desenvolver censo crítico, expressão oral e conscientização sobre a dimensão ambiental.

Público

Alunos do Ensino Fundamental I 

Espaço

Sala de aula, ateliê de artes ou pátio

Duração

3 a 5 aulas (45 a 50 min)

Início de conversa

A arte da cartografia está presente em nossa cultura desde o início da história humana. Antes mesmo do desenvolvimento da linguagem, cartografar foi uma das primeiras habilidades desenvolvidas pelo homem. Assim, representar graficamente a percepção espacial é fundamental não só na aprendizagem da ciência geográfica mas também em outros campos do conhecimento.

Atualmente, recursos tecnológicos como as imagens de satélite permitem acesso fácil e rápido de qualquer ponto da Terra apenas com um clique. Isso representa um avanço fantástico no conhecimento de diferentes partes do mundo e do lugar onde vivemos. No entanto, é preciso preservar nossa habilidade natural de explorar os espaços e territórios por meio das ferramentas da percepção − o olhar, o escutar, o tocar −, que foram nossos primeiros recursos tecnológicos.

O uso de imagens aéreas como as fotografias e as imagens de satélite são recentes na cartografia. Antes disso, para produzir os mapas era preciso sair a campo e observar de forma atenta, registrar e organizar o mundo numa placa de barro, no pergaminho, no tecido ou no papel.

O desafio é explorar a percepção espacial e promover habilidades para encontrar soluções cartográficas simples e diretas, de modo que alunos com poucos recursos tecnológicos possam resolver problemas de representação espacial. Antes é preciso aprimorar a capacidade de observação e sistematização em campo e, desse modo, explorar de forma mais consistente as possibilidades que as tecnologias da informação oferecem no campo da cartografia.

Na prática

Sugestão de encaminhamento

Inicie com uma roda de conversa sobre como e o que os alunos observam dos lugares onde vivem: a casa, a rua, o bairro, a escola e a cidade. Destaque também a importância do meio ambiente para a qualidade de vida das pessoas, a produção de lixo, a poluição do ar, das águas, e como esses aspectos estão presente no cotidiano e nos espaços de convivência das pessoas.

Em seguida, discuta a importância de se conhecer os diferentes espaços da superfície terrestre (a rua, o bairro, a cidade, o estado, o país, o continente…) para o pleno exercício da cidadania e dos direitos na sociedade.

Trabalhe com os alunos o poema de Alberto Caeiro (heterônimo do português Fernando Pessoa): 

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…
 
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.”

Fernando Pessoa. “O Guardador de Rebanhos”. In: Poemas de Alberto Caeiro. 10. ed Lisboa: Ática, 1993.

Pergunte aos alunos como eles veem o espaço a sua volta: a cidade, o bairro, a escola. Questione se eles conseguem se orientar, se localizar nesses espaços. Em seguida, apresente uma imagem de satélite por meio do aplicativo GoogleEarth, observando com a turma a área em que a escola se localiza. Discuta o que pode ser observado em seu entorno (prédios, ruas, praças, etc.) e como a tecnologia moderna permite o acesso virtual a vários lugares da Terra, como museus, pontos turísticos, reservas naturais etc. 

Depois dessa introdução, apresente aos alunos a ideia de construírem juntos a representação cartográfica do espaço da escola sem o uso das tecnologias modernas. Para isso, é preciso trabalhar com os alunos dois conceitos básicos. Um deles é a seleção cartográfica: um mapa é uma abstração e uma síntese da realidade, por isso não pode representar tudo que existe na superfície mapeada. Assim, é fundamental identificar feições e objetos a ser mapeados. Discuta com os alunos alguns critérios de seleção dos elementos observados na imagem. Além disso, é preciso trabalhar o conceito de escala, ou seja, da relação de proporcionalidade dos objetos no mundo real e sua representação cartográfica no papel. 

Seleção cartográfica
É a simplificação dos elementos topográficos extraídos da documentação básica visando a escala final do trabalho. A seleção deve ser equilibrada e a densidade dos elementos topográficos a ser representados deve refletir as características básicas da região, mantendo as feições do terreno.
A representação deve incluir todos os elementos significativos para a escala final do trabalho, sem comprometer a legibilidade do mapa.
a) Hidrografia: inclui todos os detalhes naturais e/ou artificiais, tendo a água como principal componente.
b) Planimetria: a seleção dos elementos planimétricos deve ser criteriosa, considerando-se localidades (cidades, vilas, povoados, lugarejos, núcleos e propriedades rurais…), sistema viário (rodovias e ferrovias que interligam as localidades represenadas).
c) Altimetria: representa o relevo através de convenções cartográficas na forma de curvas de nível, escarpas etc.
d) Vegetação: é feita separadamente a partir da documentação topográfica básica em base de poliéster, considerando-se como elementos de seleção as matas, florestas, reflorestamentos, culturas temporárias e permanentes, campos e mangues.
Fonte: IBGE, Noções básicas de cartografia. Acesso em: abr. 2019.

Trabalho de campo
Acompanhe a turma em uma vistoria nas dependências da escola, sobretudo em sua parte externa. O objetivo é elaborar uma planta baixa da escola (parte edificada), com a separação das áreas internas principais (pátio, salas de aula, quadras) e externas (muros, portões e ruas laterais). Utilize a trena para fazer a medição das principais dimensões do edifício da escola, paredes, corredores, muros, quadras, etc. 

Ao final dessa vistoria, os alunos deverão retornar para a sala de aula e elaborar, individualmente, um desenho na forma de uma planta baixa da escola e seu entorno.

Em seguida, proponha a formação de grupos de trabalho (3 ou 4 alunos). Os grupos vão, em primeiro lugar, fazer uma avaliação conjunta dos desenhos elaborados e, com base na produção de cada integrante, elaborar uma versão final da planta da escola, que será utilizada como base para construção da maquete.

O ideal é que os alunos trabalhem com materiais reutilizáveis (papel, plástico, madeira e metal). É possível inserir uma discussão sobre consumo sustentável, produção de resíduos sólidos, além de estimular a criatividade e a responsabilidade comum com relação ao meio ambiente. Combine com os alunos a data para trazerem os materiais (veja lista no início da oficina).

Oriente a turma na seleção, separação e recorte dos materiais e sua preparação para uso na construção da maquete (pintura e texturização das superfícies e objetos). Na folha de cartolina, os alunos devem colar os objetos representando os espaços da escola (edifício, quadras, horta etc.) e a área de entorno (ruas, parques etc.). Por fim, procure mediar a elaboração de legendas. É importante ressaltar a importância da legenda como elemento cartográfico e como chave de interpretação dos elementos presentes nos mapas e na maquete. 

Para avaliar
Existem três momentos de avaliação inseridos na proposta. A primeira refere-se à capacidade representação dos elementos observados durante a vistoria da escola. Nesse processo, é avaliada a capacidade de percepção espacial e a habilidade motora de representação espacial. 

O segundo momento de avaliação ocorre no trabalho em grupo, quando os integrantes, coletivamente, analisam as ilustrações dos colegas para em seguida elaborar uma versão final da representação.

O terceiro momento de avaliação pode acontecer ao final do trabalho, quando os grupos apresentam suas maquetes expondo à turma os resultados do trabalho. 

É possível ainda fazer uma avaliação diagnóstica de competências e habilidades associadas à oralidade e à compreensão da organização do espaço geográfico e dos procedimentos de observação e registro. 

Para finalizar, pode-se realizar uma roda de conversa com os grupos e fazer uma avaliação da atividade como um todo, do envolvimento dos grupos e da participação. Isso pode inclusive ser concluído com um pequeno texto coletivo em que os estudantes apresentem suas impressões sobre a experiência. 

Para ampliar a discussão
NOGUEIRA, A. R. B. Mapa mental: recurso didático no ensino de geografia no 1º grau. Dissertação de mestrado. São Paulo: DG-USP, 1994.
FONSECA, E. P. Cartografia: mapas e arte. Disponível em: https://cartografiaescolar.wordpress.com/cartografismo/. Acesso em: mar. 2017.
SIMIELLI, M. E. R. et al. Do plano ao tridimensional: a maquete como recurso didático. In: Boletim paulista de geografia, n. 70, São Paulo: AGB, p. 5-21, 1992. 

Conheça também as oficinas: Navegar é preciso e Jogar: uma estratégia de letramento cartográfico.