Autora da oficina: América dos Anjos Costa Marinho, pedagoga, licenciada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e formadora de leitores. Conteúdo publicado originalmente na Plataforma do Letramento
Sequência de atividades que apresentam o gênero poesia visual e proposta de produção textual com os estudantes.
• Computadores com acesso à internet. • Livros de poesia. • Revistas. • Canetas, tintas, lápis, tesoura, papéis coloridos.
• Relacionar poema visual ao seu contexto de produção (interlocutores, finalidade, lugar e momento em que se dá a interação) e suporte de circulação original (objetos elaborados especialmente para a escrita, como livros, revistas, suportes digitais). • Estabelecer conexões entre texto e conhecimentos prévios, vivências, crenças e valores. • Estabelecer a relação entre o título e o corpo do texto. • Reconhecer os efeitos de sentido da diagramação, de recursos gráfico-visuais (tipo, tamanho ou estilo da fonte), identificando possíveis elementos constitutivos da organização interna do poema visual: arranjo gráfico e espacial do poema. • Examinar em textos o uso de recursos gráficos no poema: grafia das palavras e sua exploração visual; associação das palavras a objetos visuais (fotos, desenhos, pinturas, colagens). • Reconhecer o emprego de linguagem figurada e compreender os sentidos pretendidos, inferindo, com base em elementos presentes no próprio texto, o uso de palavras ou expressões de sentido figurado. • Planejar um poema visual: pesquisar e selecionar componentes verbais e visuais, observar a grafia das palavras e suas possibilidades de exploração visual e sonora, observar possibilidades de associação das palavras selecionadas a objetos visuais (fotos, desenhos, pinturas, colagens), explorar tecnicamente imagens de modo que produzam efeitos visuais adequados aos propósitos do texto. • Produzir poema visual, levando em conta o gênero e seu contexto de produção.
Compreender e apreciar poemas visuais. Produzir seus próprios poemas visuais e compartilhar/apreciar as criações dos colegas.
Estudantes do Ensino Fundamental II e Médio
Sala de aula, biblioteca, ateliê de artes ou outro espaço
3 a 5 encontros de 1h a 1h30
Início de conversa
A poesia visual é uma forma de expressão artística que se caracteriza quase sempre pela combinação de palavra e imagem. É um gênero artístico de pequeno formato que, empregando alguns poucos elementos – como a disposição gráfica de palavras e/ou letras, bem como de imagens –, tem a capacidade de produzir grande impacto. A mensagem do poema é captada pela visualização da forma, que muitas vezes explora aspectos lúdicos, sonoros e visuais.
O poema visual utiliza, com rara felicidade, a combinação dos signos verbais com a expressividade de linguagem icônica. Assim os dois códigos, o digital e o icônico, se combinam à perfeição para traduzir imagens poéticas e juízos críticos.” Fábio Lucas, escritor e crítico literário
Nossa proposta é desafiar os alunos a compreender e apreciar visualmente muitos poemas visuais interessantes. Depois, eles poderão criar suas próprias produções e observar como outros reagem diante de sua criatividade.
A poesia visual é um tipo de poesia em que – abolindo-se certas distinções entre os gêneros textuais e outras formas de arte – o texto, as imagens e os símbolos são dispostos de tal forma que o elemento visual assume papel preponderante na obra, não dependendo de elementos verbais para ser caracterizado como poesia. O ovo, do grego Símias de Rodes (300 a.C.), ao lado, é o poema visual mais antigo de que se tem notícia.
A poesia visual Representar pensamentos, sentimentos, histórias, experiências pessoais e coletivas, conferindo a eles uma dimensão estética, é o que o homem vem fazendo há milhares de anos por meio da linguagem artística ou pelos diversos caminhos e motivações da arte. Outras experiências envolvendo escrita e imagem datam do início do século XVI até meados do século XVIII, momento que corresponde esteticamente ao Maneirismo e ao Barroco. Um exemplo é o poema Labirinto cúbico, datado do século XVIII.
No início do século XX, com as vanguardas artísticas, experimentações envolvendo escrita e imagem ganham novo destaque. É o caso dos célebres caligramas do poeta francês Guillaume Apollinaire. No Brasil, o movimento concretista se destaca no cenário artístico da década de 1950. Saiba mais sobre poesia concreta.
A seguir, assista à adaptação audiovisual dos poemas concretos “Cinco” (José Lino Grunewald, 1964), “Velocidade” (Ronald Azeredo, 1957), “Cidade” (Augusto de Campos, 1963), “Pêndulo” (E. M. de Melo e Castro, 1961/62) e “O organismo” (Décio Pignatari, 1960). Direção: Christian Caselli.
Na prática
Sugestão de encaminhamento
Primeiros contatos com a poesia visual Antes de falar sobre poesia visual com seus alunos, leia para eles o poema “Oco”, de Jorge Miguel Marinho, abaixo. (Clique aqui para acessar o texto do poema.) Estimule comentários, para perceberem que o poema trata da tentativa de compreensão do eu por um adolescente. Depois mostre a eles uma cópia ampliada do poema e faça nova leitura, acompanhando o texto com o dedo, e pergunte qual das duas formas de apresentação do poema é mais significativa.
A seguir, organize a turma em duplas e apresente alguns poemas de outro autor, Sérgio Capparelli, representativos desse gênero. Mostre o poema “Falta de sorte”, ao lado. Sugerimos outros poemas do autor: “A primavera endoideceu”, “Urgente!” e “Jacaré letrado”. (Baixe-os aqui.)
Proponha que leiam os poemas com atenção, procurando observar, além das palavras, o jeito como elas vêm escritas no papel e de que forma esse jeito interfere na compreensão dos poemas. Depois de um tempo, converse com eles sobre o que observaram. Pergunte se gostaram dos poemas e procure explorar cada um deles.
Sugestões de perguntas: • Em “Falta de sorte”, que figura o poema forma? O que acontece com a palavra “cai”? Com que intenção o autor teria desenhado esse círculo vermelho? • Em “A primavera endoideceu”, como a disposição das palavras colabora para a compreensão do poema? Por que o autor escolheu as expressões “bem me quer/ mal me quer” para formar as pétalas e repetiu a palavra “zum” para formar o miolo? Por que o caule é formado pelos versos “Nos meus olhos zumbiam mil abelhas/ e me fitavam detrás da cerca dos cílios”? • No poema “Urgente!”, que figura lembra a disposição das palavras? Observando só o título e as palavras, o texto lembra que gênero textual? O que confere caráter poético a esse texto? • Em “Jacaré letrado”, por que o autor deu esse título ao poema? Finalmente, proponha a seguinte reflexão: os quatro poemas provocariam o mesmo impacto se, por exemplo, em vez de serem publicados em livros, fossem apenas ouvidos no rádio? Por quê?
Essas questões são propostas mais com o objetivo de levar os estudantes a refletir sobre os poemas visuais e a perceber suas características, do que de encontrar uma resposta única. Por isso, lembre a eles que em literatura e, sobretudo, em poesia são possíveis múltiplas interpretações, desde que fundamentadas no texto.
Diga que os poemas mostram, principalmente, a maneira como os poetas veem as coisas. Assim, as palavras ganham um sentido mais rico, como se quisessem dizer mais de uma coisa ao mesmo tempo. No caso desses poemas, o poeta resolve recorrer à disposição gráfica das palavras para enriquecer o sentido do que queria dizer.
Muitas vezes, os alunos vão precisar de sua ajuda para estabelecer relação entre os poemas e outros conhecimentos: por exemplo, a função do caule na sustentação e na alimentação da planta e a função dos dois versos (que graficamente remetem ao caule) na sustentação do poema, isto é, são eles que explicitam a ligação da primavera com o zumbido das abelhas e com o aspecto romântico de despetalar uma flor para saber se seu amor é correspondido. Ou para perceber que o poema “Urgente!” lembra uma notícia sensacionalista de jornal, ou ainda que a bandeira do Japão é branca com um círculo vermelho no centro. Sugira aos alunos que procurem livros de Sérgio Capparelli na sala de leitura.
Conte aos estudantes que Sérgio Capparelli nasceu em Uberlândia (MG), mas viveu em Porto Alegre durante muitos anos. Foi professor de Comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É autor de prosa e poesia, com muitos livros premiados. Entre suas obras estão Tigres no quintal (1989) e Poesia visual (2006), este último em parceria com Ana Claudia Gruszynski, designer e professora de Comunicação Visual da UFGRS.
Brincando com ciberpoemas No laboratório de informática, proponha que eles acessem o site Ciber & Poemas, que traz poemas de Ana Cláudia Gruszynski e Sérgio Capparelli. Além de apreciar outros poemas visuais dos autores – e dar opinião sobre eles no “Mural de recados” da sala –, eles vão poder criar seus próprios poemas, na seção “Ciberpoemas”. Aperte a tecla “Ctrl” e, ao mesmo tempo, clique na imagem do poema para ver as imagens e letras em movimento e participar de sua organização. É só continuar clicando quando o poema estiver animado e novas surpresas podem aparecer.
Poemas mais visuais ainda Agora, apresente aos estudantes outros poemas que apostam mais na visualidade que os anteriores. Organize um círculo com as carteiras para que todos possam se olhar. Proponha a leitura de um poema de cada vez, e explore a leitura do maior número possível de estudantes, evitando, porém, que as falas se tornem muito repetitivas.
É claro que, dada a pouca experiência de vida, eles terão dificuldades para compreender muitas das referências implícitas nos poemas. Mas você pode ajudá-los, contextualizando os textos no tempo e no espaço e fornecendo a eles as informações necessárias para ampliar sua compreensão. Para facilitar, apresentamos algumas referências sobre os autores e suas obras.
Paulo Leminski é um dos mais respeitados e conhecidos poetas brasileiros. Nasceu em 1944, em Curitiba (PR). Em 1964, morando em São Paulo, publicou poemas na revista Invenção, dedicada à poesia concreta. Trabalhou como redator de publicidade, foi tradutor de várias obras de língua inglesa e estudou língua e cultura japonesa. Como compositor, teve canções gravadas por Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Guilherme Arantes, entre muitos outros. Ganhou o prêmio Jabuti de Poesia em 1995, com o livro Metamorfose. Foi casado com a poesia Alice Ruiz. Faleceu em 1989, na cidade natal, Curitiba.
Apresente à turma o poema “Brasa” (In: Almanak 88. São Paulo: Kraft, 1988), de Paulo Leminski. A composição forma uma figura geométrica – um octógono – e duas palavras: brasa e brisa. Você pode perguntar aos alunos por que o autor escolheu essa forma para se expressar. Embora a resposta seja pessoal, eles podem, por exemplo, comparar a figura à imagem de um ventilador, que produz brisa para aplacar o calor abrasador. Ou podem observar que, como o “i” é muito pequeno (dentro do “a” central), a “brisa” não é suficiente para abrandar o calor, daí a sensação de “brasa”.
Agora, mostre o poema “Vazio agudo” (In: Leminski, Paulo; Suplicy, João. Winterverno. São Paulo: Iluminuras, 2001). Nele, o texto apresenta muitos contrastes: vazio/cheio; agudo/cheio; vazio/tudo; meio/cheio… Talvez os alunos consigam estabelecer uma relação entre as palavras do texto e a forma em que elas estão inseridas: o círculo incompleto e o texto ocupando só metade da circunferência lembram uma lua minguante, o que remete à ideia de esvaziamento; a pincelada mais larga na parte de baixo do círculo em contraste com o fino traço da parte cima podem remeter, respectivamente, a cheio e agudo. Talvez possa se referir ao fato de o eu lírico andar “meio cheio de tudo”, isto é, sentir um grande (agudo) vazio, não ver sentido nas coisas…
Além da visualidade, o poema tem uma sonoridade bem marcada. O que contribui para isso são as rimas: meio/cheio; tudo/agudo. Observe se eles percebem que as letras “p.l.” no texto significam a assinatura do autor, Paulo Leminski.
Arnaldo Antunes (São Paulo, 1960) é músico, ensaísta, compositor e artista visual. Iniciou o curso de Letras na Universidade de São Paulo (USP), mas não o concluiu em virtude do sucesso da banda Titãs, da qual fazia parte. Deixou a banda em 1992, mas continuou compondo com os demais integrantes. Em 2002, formou o trio Tribalistas, em parceria com Marisa Monte e Carlinhos Brown. É um dos principais compositores da música pop brasileira, respirando influências concretistas e pós-modernas. Lançou, em 1983, seu primeiro livro de poemas, Ou/e. De lá para cá, publicou dezenas de livros, entre eles Cultura (2012), voltado ao público infantil.
Em relação ao poema “Vejo miro” (In: Palavra desordem. São Paulo: Iluminuras, 2002), de Arnaldo Antunes, os estudantes podem, por exemplo, pensar na determinação com que o eu lírico vai atrás daquilo com que sonha; contrapondo o desejo (“vejo como um beijo”), com todos os sentidos do corpo, à luta para conseguir o que quer (“miro como um tiro”), oposição marcada pela inversão espacial das frases. Muitas outras interpretações são possíveis e desejáveis. Assista abaixo à radioarte criada por Diego Lima dos Santos com base nesse poema visual.
Jacira Fagundes é professora e escritora. Nascida em Porto Alegre (RS), sua trajetória literária, encarada como ofício, começou em 2002, com o conto “Noite fria de vigília”, contemplado com o prêmio literário Nova Prova – 20 anos. Sua primeira obra é Um desafio para Manoel, voltada ao público infantojuvenil . Tem diversos outros livros, tanto dirigidos a crianças e adolescentes como para adultos, como a novela Dois no Espelho (2007) e o livro de contos No limite dos sentidos (2009).
Apresente o poema “Corte”, de Jacira Fagundes. É interessante perguntar aos alunos se o significado desse poema estaria claro sem o título.
Acesse aqui outras sugestões de poemas para trabalhar com a turma.
Produção de provérbios visuais Proponha aos alunos que pesquisem com seus familiares e amigos alguns ditos populares e que os tragam para a sala de aula. Distribua tiras de papel pardo para que escrevam esses ditos. Exponha-os nas paredes da sala e estimule-os a brincar com eles, procurando possíveis sentidos na seleção de algumas letras. Por fim, peça que ilustrem os poemas, de acordo com o que querem destacar.
Criação de outros poemas visuais Combine com o professor orientador da sala de leitura uma visita da turma voltada à consulta de livros de poesia. Oriente os estudantes a escolherem um poema que gostariam de configurar como poema visual, sem alterar o texto verbal. Caso tenham dificuldades, você poderá organizar com eles um dos poemas que a turma conheça e de que goste. Depois, poderão fazer suas tentativas individualmente ou em duplas, se preferirem. Ajude-os dando dicas para que aprimorem seus trabalhos. Depois, junto com a turma, bolem um jeito bem criativo de expor os trabalhos!
Avaliação O momento da avaliação de um trabalho é muito importante. Comece com uma conversa informal, dando oportunidade para que todos se manifestem. Depois, com a ajuda deles, reveja todo o trabalho desenvolvido e vá elencando as aprendizagens feitas durante o processo. Valorize bastante as conquistas e minimize as dificuldades, dizendo que eles ainda têm muito tempo para vencê-las.
Por fim, avalie os poemas visuais produzidos e a apresentação deles, levantando os pontos positivos e os aspectos a serem aperfeiçoados para as próximas vezes.
Assista também ao bate-papo sobre poesia visual com Sérgio Capparelli e Ana Cláudia Gruszynski, que realizado pela Plataforma do Letramento em março de 2014.
Um pensamento em “Criando poemas visuais”
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