Que tal criar ou contar histórias com origami? Autora da oficina: Tereza Yamashita, escritora, artista gráfica, origamista e ceramista. Contato: t.yamashita@uol.com.br. Oficina publicada originalmente em 2016 na Plataforma do Letramento (Cenpec). Banner: ilustração de Suppa para o livro Mãos mágicas (Tereza Yamashita, Sesi, 2013).
Oficina de origami (dobradura em papel) e criação textual
Encontros presenciais ou remotos*: – Para escrita: lápis, caderno, computador. – Para leitura: livros de todos os tipos e dicionário. – Para origami: papel sulfite, color set, color plus, kraft, papel espelho, dobradura ou gessado (com as faces de cores diferentes, para adultos iniciantes e crianças) e outros.
Promover o gosto pela leitura e a produção textual de forma lúdica e criativa.
Expandir as percepções, potencializando as habilidades de observação, imaginação, criação e experimentação, tanto com o uso das imagens como com o das palavras.
Crianças de educação infantil e ensino fundamental (6 a 10 anos)
Sala de aula, sala de atividades, biblioteca, centro cultural, ou ambiente on-line.
2 a 5 encontros de 1h30min cada.
Início de conversa
“A fantasia, a invenção, a criatividade pensam, a imaginação vê.” Fayga Ostrower
Ler um livro ou ouvir uma história é como pegar uma carona numa bicicleta, num trem, num ônibus, num transatlântico ou mesmo num foguete mágico. A narrativa pode levar a uma maravilhosa aventura, uma viagem ao mundo insólito da imaginação. Nessa viagem, o(a) leitor(a) encontrará personagens que o(a) encantarão. Serão seus heróis e heroínas, amigos e amigas eternas… Ou quem sabe ele tomará o(a) vilão(ã) como seu(sua) personagem preferido(a)?
Agora, imagine se um desses personagens tomar forma em suas próprias mãos? Magia? Sim! Com o origami, isso pode acontecer. “Como?”, você, professor(a), me perguntará. Eu respondo: simplesmente dobrando um papel quadrado e soltando a criatividade.
Relato agora um pouco da minha experiência com origami. Sou escritora infantojuvenil e, em meus lançamentos, eu sempre faço uma atividade com os convidados. Durante o evento, conto um pouco sobre a obra e convido todos a dobrarem comigo um personagem ou um elemento do cenário.
As crianças adoram dobrar, principalmente os personagens animais. Enquanto o papel quadrado e sem graça vai sendo dobrado, percebo em seus olhinhos euforia, interrogação e curiosidade. No início, elas não conseguem visualizar o que estão dobrando, mas, dobra após dobra, começam a descobrir e a entender o que está acontecendo. E, como num passe de mágica, surge em suas mãos um personagem real, vindo diretamente da história, das páginas do livro! Com elas poderão brincar, contando, recontando, criando e reinventando a história que leram.
De fato, criar e viver se interligam… O homem cria, não apenas porque quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer enquanto ser humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando.”
Fayga Ostrower
Dobrando histórias
Por meio das atividades artísticas, temos uma ótima oportunidade para expandir as percepções, potencializando as habilidades de observação, imaginação, criação e experimentação, tanto com o uso das imagens como com o das palavras. Esses são os primeiros passos para uma viagem criativa ao mundo da escrita e das artes, tendo como recurso de sensibilização a arte de dobrar o papel, o origami.
Sem perceber, os alunos estarão treinando a coordenação motora fina, a atenção, cultivando a paciência e a perseverança, desenvolvendo a percepção espacial. Ludicamente, por meio de uma simples folha de papel, começam a tomar conhecimento de uma parte importante da matemática, a geometria. O origami é feito basicamente com os formatos básicos: quadrado, retângulo e triângulo. A folha, que era plana, se transforma em um objeto tridimensional. Magia? Não? Pura matemática!
O objetivo de qualquer atividade com origami é potencializar a criatividade, no simples ato de escrever, dobrar, desenhar e contar uma história. A proposta aqui é começar pelo fim e terminar no começo, experimentar: dobrar, desdobrar ou desenhar para criar os personagens, o cenário e depois contar a sua história.
A raiz de todas as histórias está na experiência de quem as inventa; o que se viveu é a fonte que irriga a imaginação.”
Mario Varga Llosa
Na prática
Roda de conversa
Muitas vezes, as crianças ou mesmo os professores acham que nunca fizeram um origami/dobradura. Mas, quando você pergunta se eles já dobraram um aviãozinho de papel, um barquinho, uma capucheta/pipa simples de jornal, todos levantam a mão. Esses exemplos são de dobraduras, mas, como são tão corriqueiros em nossas vidas, nem percebemos. Ao dobrarmos um guardanapo de papel, ou mesmo de pano, estamos fazendo uma dobradura. Quando dobramos uma folha para fazer um cartão de Natal, de aniversário ou mesmo uma carta, uma roupa, um lençol, também estamos praticando a dobradura.
Antes de iniciar um origami, é importante fazer uma roda de conversa com as crianças para levantar os conhecimentos prévios da turma. Você pode estimular o bate-papo com algumas questões:
Que tipos de papel vocês têm em casa? A maioria com certeza vai responder que é o sulfite, ou citar o nome de alguma marca conhecida. Outros dirão: de blocos, de caderno, de presente, jornal e até mesmo papel higiênico. Assim, podemos ensinar que todos esses papéis podem ser dobrados, inclusive o papel higiênico (em hotéis do Japão, usa-se a dobradura na ponta do rolo de papel, para impressionar os hóspedes e embelezar o banheiro, como também dobraduras em toalhas, de animais estilizados, tão na moda atualmente).
Que livros vocês têm em casa? Quais já leram ou quem leu para vocês? Perguntas dessa natureza ajudam a levantar os conhecimentos literários das crianças. Estimule-as a lembrar e contar um pouco dos livros que já leram ou que já ouviram. Caso não possuam livros em casa, aproveite a ocasião para organizar com a turma uma visita à biblioteca da escola ou da comunidade. Faça uma lista de livros indicados e ajude-as na escolha dos livros, observando os interesses de cada criança. Você também pode incentivar o empréstimo de livros entre a turma.
Quem tem animais de estimação em casa? Quais? Como eles se chamam? Como eles se comportam com vocês: são brincalhões, tranquilos, agitados? Com essa conversa, ajude-os a notar as diferenças físicas e comportamentais entre os animais: Como é a orelha do seu gato? E do seu cachorro? E como é o focinho deles? Qual é a cor do seu peixinho? Como ele se movimenta na água? etc. Assim, procure inspirá-los a representar seus bichinhos preferidos por meio de dobraduras alegres e coloridas.
A seguir, apresentamos algumas sugestões de atividades com crianças de educação infantil (0 a 3 anos e de 4 a 6 anos) e de ensino fundamental I (6 a 10 anos).
Antes, vale uma observação sobre a principal matéria-prima do origami: o papel.
Muitos acreditam que só é possível fazer origami com papéis específicos para dobradura, vendidos em papelarias especializadas. É claro que as dobraduras ficarão mais bonitas com papéis coloridos e com texturas e gramaturas diferentes. Mas, felizmente, a falta desses materiais não impede a prática do origami. Podemos usar qualquer papel, dependendo da dobradura. Mas, para os origamis mais simples, de nível básico, e com as crianças, poderemos utilizar o papel sulfite, tão usado nas escolas. Podemos também reutilizar papéis de revista, de presente, folhas escritas e até de jornal. Assim começamos a cultivar nas crianças a importância da sustentabilidade, divulgando o conceito dos três Rs: Reduzir, Reaproveitar e Reciclar.
Algumas ideias
“Todo origami começa quando colocamos as mãos em movimento. Há uma grande diferença entre compreender alguma coisa através da mente e conhecer a mesma coisa através do tato.” Tomoko Fuse
Educação Infantil, para crianças de 0 a 3 anos e de 4 a 6 anos
Podemos introduzir o origami/dobradura para as crianças menores de uma forma bem lúdica e engraçada.
Por exemplo, apenas manipulando o papel: amassando, torcendo, rasgando ou picando. É com base nesses movimentos que a criança começa a ter consciência do seu próprio corpo, do próprio ritmo, do controle de suas ações, estimulando as funções psicomotoras de coordenação. Exemplificando: no livro A família Fermento contra o supervírus de computador (Luiz Brás e Tereza Yamashita. Atual, 2008), a ilustradora caracterizou um dos personagens, o supervírus, como uma bola vermelha (foto ao lado).
A atividade consiste em amassar dois papéis: um branco, formando a primeira bola de papel, e outro colorido, envolvendo a bola formada. Decoramos com olhos, nariz, pernas, orelhas, rabo, dentes etc. Também podemos pintar, fazendo manchas ou texturas no papel.
Aqui é possível um diálogo com outras disciplinas (interdisciplinaridade), por exemplo, com as Ciências da Natureza e a Matemática.
O vírus monstrinho pode ter três olhos, cinco pernas!
O ser humano tem quantas pernas, quantos olhos?
Nessa atividade podemos utilizar uma história com monstros, ou o(a) professor(a) poderá fazer primeiro o monstrinho com as crianças, e depois inventar uma história de acordo com as ideias que partirem delas.
Ensino Fundamental I, para crianças de 6 a 10 anos
Atividade 1: para crianças dessa faixa etária, já podemos ensinar o origami com as dobras de nível básico e intermediário. Exemplo abaixo: dobrar um chapéu de samurai que se transforma em peixe. Na ilustração a seguir, eu criei um poema (acesse aqui o poema).
A atividade consiste em contar uma história e ao mesmo tempo ir dobrando os origamis. Deixe a imaginação correr solta. Assim, outras histórias ou poemas poderão ser escritos com base nos origamis: de chapéu, peixe ou barquinho (baixe o passo a passo da dobradura).
Outras ideias
Criar um cenário com base nos origamis e no poema. Utilizar o chapéu e fazer com que a criança imagine como é fisicamente o personagem (alto, baixo, magro etc.) que usa esse chapéu. Mudar o foco narrativo: da terceira para primeira pessoa (o narrador sendo um dos personagens).
A professora poderá usar o kabuto (chapéu japonês) para introduzir um pouco da história (samurais, cultura oriental) e da geografia do Japão.
Contar outras histórias de heróis, como os gregos Hércules, Ulisses e Aquiles, personagens dos épicos Ilíada e Odisseia; ou de outras culturas, como Zumbi e Dandara, símbolos da resistência africana contra a escravidão no Brasil; I-Juca Pirama, herói indígena do poema de Gonçalves Dias, e Iracema, protagonista do romance homônimo de José de Alencar etc.
Usar as dobras (quadrado, retângulo, triângulo, simetria, forma plana e tridimensional) para ensinar a geometria plana e espacial. O(A) professor(a) poderá usar a sequência de dobras para apresentar as formas geométricas. Usar os elementos gráficos para criar personagens.
Montar um livrinho de origami com os poemas criados e com os próprios origamis. Se preferir, apenas faça com que as crianças copiem poemas (elas podem escolher os poemas preferidos), assim elas fixarão a grafia correta das palavras. Você pode organizar também, junto com as crianças, uma exposição (presencial ou remota) para que a escola e as famílias possam apreciar as produções (origamis e poemas) da turma (baixe o diagrama dessa dobradura.)
Introduzir o dicionário na aula (presencial ou remota). Saber o significado de novas palavras vai ajudá-los com a qualidade dos textos. Com esse exercício, o vocabulário e a qualidade dos textos aumentarão.
Expectativas de aprendizagem
Com essas sugestões de atividades, pretendo, em primeiro lugar, promover a criatividade e a imaginação, o hábito da escrita e da leitura. Por meio do origami e da leitura, procuro estimular as crianças a observar mais os detalhes da vida, da natureza, dos animais, dos objetos. Esses pequenos detalhes são imprescindíveis para escrever, dobrar, desenhar, enfim, criar.
Além disso, essas atividades estimulam as crianças a cultivar a paciência, a persistência, a concentração e o foco. Acredito que, se essas ações forem cultivadas, os benefícios alcançados tanto na leitura como na escrita serão excepcionais. Ler e escrever são experiências imperdíveis, assim como desenhar e dobrar.
Em japonês, a palavra ganbatte significa: esforçar-se, dar o melhor de si e nunca desistir. Que o tsuru (grou), ave símbolo da longevidade e da paz, acompanhe vocês em todos os momentos.
Mais sobre a autora
“Em 2013 publiquei o livro Mãos mágicas, pela SESI-SP Editora, e com ele ganhei o 58º Prêmio Jabuti, na categoria Livro Digital. Na história acompanhamos a aventura dos irmãos Quadradinha de Papel e Fininho de Papel, e o espírito do origami está por toda parte. A técnica permite transformar o papel em mil coisas: animais, flores e objetos do cotidiano. Gosto de pensar que o ser humano, da mesma forma, também pode se transformar, se dobrar, se desdobrar, modificar, crescer, evoluir, aprender a conviver com medos e frustrações, e também a perceber que a vida pode ser bem divertida, com muita arte.”
3 pensamentos sobre “Histórias nas dobras de papel”
Simplesmente encantada com este espaço, conteúdos incríveis. Visitando hoje pela primeira vez o CENPEC.
Ainda em processo de descoberta!!!! Obrigada!!!
Muito obrigada por seu comentário, Ivete! Estamos com uma nova temática, Infâncias, e diversos materiais voltados a essa etapa fundamental para a educação e formação humana. Aguardamos seus comentários! Abraços
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Simplesmente encantada com este espaço, conteúdos incríveis. Visitando hoje pela primeira vez o CENPEC.
Ainda em processo de descoberta!!!! Obrigada!!!
Muito obrigada por seu comentário, Ivete! Estamos com uma nova temática, Infâncias, e diversos materiais voltados a essa etapa fundamental para a educação e formação humana. Aguardamos seus comentários! Abraços
encantada cada vez mais ……