Proposta de pesquisas escolares com base em situação-problema para despertar o espírito investigativo da turma. Autora da oficina: Paula Baracat De Grande, doutora em Linguística Aplicada. Publicada originalmente na Plataforma do Letramento (Cenpec), em 2015.
Proposta de pesquisas escolares com base em situações-problema de interesse das(os) estudantes para despertar o espírito investigativo da turma
A depender da natureza e da temática da pesquisa.
Criar situações-problema que despertem a curiosidade da turma.
Desenvolver pesquisa para resolver a situação-problema.
Escolher um gênero para apresentar resultados de pesquisa (cartaz, infográfico, exposição oral, verbete de curiosidade etc.).
Apresentar a solução da situação-problema a outras turmas e/ou aos pais.
Estimular o espírito investigativo nas(os) estudantes por meio de projetos de pesquisa sobre temas variados.
estudantes do 1º ao 5º ano do ensino fundamental
Sala de aula, sala de atividades, biblioteca, centro cultural, ou ambiente on-line.
encontro de 1h30 cada
Início de conversa
É muito comum, na escola, solicitarmos pesquisas a nossas(os) estudantes. Contudo, muitas dessas pesquisas não partem de uma curiosidade ou dúvida real delas(es) e acaba se tornando uma atividade de cópia: a(o) aluna(o) acessa a internet, digita a palavra-chave no site de buscas e copia o conteúdo do primeiro ou segundo link que aparece. Muitas vezes, a(o) estudante nem mesmo lê o texto que entrega à(ao) professora(or).
Assim, a pesquisa perde seu caráter de investigação e construção de novos saberes e acaba se tornando uma tarefa de reprodução.
Que tal repensar as pesquisas escolares para despertar o espírito investigativo nas(nos) estudantes?
É esse o objetivo desta oficina. Para isso, partimos da criação de uma situação-problema.
Mas o que é um problema? Podemos definir problema como uma situação que se quer resolver e para a qual ainda não há um caminho conhecido que leve à solução. Assim, a pesquisa se torna necessária, o que estimula o espírito investigativo das(os) alunas(os).
Quando propomos situações-problema, temos que estar abertas(os) a respostas inesperadas, arriscadas, que vão além da reprodução do considerado “correto” ou do que está no livro didático.
Na prática
Planejamento de uma situação-problema para entender como vivem as formigas
Cada professora(or) pode adaptar o planejamento a depender dos interesses de sua turma. É interessante que a situação-problema surja de uma curiosidade ou de um interesse das(os) estudantes ou, ainda, esteja relacionada a um conteúdo do planejamento prévio do professor. Imaginamos uma situação em que o interesse da turma pela vida dos insetos é despertado pela leitura de um livro de fábulas.
A(O) professora(or) lê para as(os) estudantes uma versão da fábula A cigarra e a formiga. Depois das atividades de leitura e interpretação, questiona a turma sobre as personagens:
De quem mais gostaram? Por quê?
Imaginemos que as crianças afirmam ter gostado mais da formiga e a relacionam com uma personagem de um filme infantil conhecido pela turma.
Explorando o interesse das crianças nesse inseto, a(o) professora(or) as leva para observar um formigueiro no parquinho da escola ou em outro espaço (caso não haja essa possibilidade, é possível levar uma foto de um formigueiro) e pergunta:
Como será que vivem as formigas?
Pra onde elas vão quando entram no buraquinho na terra?
Onde elas moram?
Onde dormem?
Algumas hipóteses são levantadas nesse momento. Na conversa, a(o) professora(or) pergunta:
como podemos descobrir como vivem as formigas? 🐜🐜🐜
A turma ainda não sabe como chegar a essas respostas, então o professor propõe a situação-problema: “Como vivem as formigas?”
Discussão sobre o tema: levantamento de conhecimentos prévios
De volta à sala de aula, a(o) professora(or) questiona a turma sobre o que sabem sobre as formigas. Com a participação das crianças, vai registrando na lousa o que é dito. Algumas crenças sobre o tema podem aparecer nessa conversa.
Por exemplo, no caso das formigas, um aluno pode dizer que comer formigas faz bem para a vista, uma crença comum em alguns grupos sociais e regiões. A(O) professora(or) pode propor que as crianças investiguem esses pontos:
Será que comer formiga faz bem para a vista?
Se sim, por que faz bem?
Após o registro dos conhecimentos prévios, a(o) professora(or) organiza, junto com as(os) estudantes, uma lista sobre o que mais elas(es) querem saber sobre as formigas. Essa lista será a base para a pesquisa.
Orientação sobre busca e apresentação de resultados
A turma também deve decidir como os resultados serão expostos ao restante da escola e às famílias. É interessante conversar sobre a importância de divulgar o que descobrirem para os outros, que talvez também não saibam como as formigas vivem.
As propostas de divulgação podem se basear em diferentes gêneros, a depender dos recursos e espaços da escola:
Como explorar a leitura de textos multimodais na aprendizagem? Esta oficina explora este gênero de divulgação científica
A ideia é que a turma consiga representar graficamente a vida dentro de um formigueiro. Assim, as crianças aprenderão tanto sobre a vida das formigas como sobre a produção textual do gênero escolhido, além da própria participação na prática social de divulgar resultados de pesquisa.
Nossa proposta é a produção de uma maquete e cartazes para exposição a outras turmas da escola. A(O) professora(or) divide a turma em grupos e orienta as pesquisas com base na lista com os pontos que a turma quer saber sobre as formigas.
A pesquisa pode ser dividida em duas etapas:
Descobrir respostas para os pontos a serem investigados: selecionar livros da biblioteca, sites, entrevistas com especialistas, programas de TV sobre o assunto etc.
Planejar como fazer a maquete: pesquisar materiais, planejar tamanho, pensar sobre os espaços a serem representados etc.
Outros pontos podem ser adicionados tendo em vista os gêneros escolhidos para a produção. Por exemplo, no caso da maquete, as crianças devem pesquisar materiais para a reprodução do formigueiro, descobrir como ele é internamente, se é dividido, organizado etc.
Pesquisando
Você pode levar as(os) estudantes ao laboratório de informática e orientar os grupos em pesquisas na internet. Cada grupo pode ficar com um ou alguns pontos da lista previamente elaborada. A biblioteca também pode ser usada.
Outro recurso é realizar uma entrevista com o professor de Ciências ou Biologia da escola ou outro profissional da área que possa dar mais informações sobre as formigas e seus hábitos. Para isso, a turma deve planejar as perguntas antes de realizar a entrevista e fazer o registro das respostas.
A(O) professora(or) também pode pesquisar programas de TV que tratem do assunto e que estejam disponíveis na internet para levar às(aos) estudantes e pedir que registrem o que considerarem relevante para responder à situação-problema.
Uma boa sugestão sobre o tema é o documentário A superorganização das formigas:
Após cada grupo realizar as pesquisas, a primeira socialização deve ser feita na sala de aula. A(O) professora(or) deve organizar as contribuições de cada grupo. A turma deve checar se todos os pontos planejados como o que queriam saber sobre a vida das formigas foram respondidos. Caso ainda existam dúvidas, a turma deve se replanejar para descobrir as respostas.
Elaborando o produto final
Para a construção da maquete, a turma, com a ajuda do professor, deve planejar o espaço, medir o tamanho da maquete e escolher os materiais. Nessa construção, vários conteúdos matemáticos podem ser relembrados com a turma ou apresentados à turma.
Uma maneira possível é fazer a base com isopor e a reprodução do formigueiro com argila e tinta. As(Os) estudantes também podem separar lixo reciclável para isso.
A maquete pode ser complementada com a produção de cartazes com as explicações e curiosidades encontradas pela turma.
Que tal explorar conceitos de representação espacial por meio da cartografia e maquete da escola?
Divulgando resultados de pesquisa
Decida com a turma se a exposição da maquete e dos cartazes será voltada apenas às outras turmas da escola ou será aberta aos pais. De qualquer forma, o evento é uma ótima oportunidade para o trabalho com outros gêneros, como o convite e a exposição oral dos estudantes. Eles podem se revezar na explicação da maquete.
Hora de avaliar
Combine com a turma um dia para avaliar a pesquisa e o evento, procurando identificar o percurso de aprendizagem, partindo dos saberes prévios em direção aos conhecimentos construídos. É fundamental valorizar esse percurso e, estimulando a participação de todas(os) as(os) estudantes, discutir o que pode ser aprimorado nos próximos.
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