Trabalhar o gênero “carta pessoal” por meio de cartas trocadas por escritores brasileiros e criar diálogos fictícios entre esses autores com perfis em redes sociais. Autora da oficina: Paula Baracat De Grande, doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Publicada originalmente na Plataforma do Letramento/CENPEC
leitura de cartas entre escritores brasileiros, reconhecimento das características do gênero textual “carta pessoal” e produção de textos para compartilhamento em redes sociais
Para encontros presenciais ou remotos*: livros de literatura já lidos pela turma; biografias de autores selecionados (livros impressos ou digitais); computador, tablet ou smarthphone com acesso à internet.
Retomar autores e obras de literatura brasileira. Conhecer o gênero “carta pessoal” explorando as cartas de alguns autores estudados, disponíveis no acervo do Instituto Moreira Salles. Criar perfis fictícios em rede social para os autores selecionados. Elaborar interações entre os autores.
Construir o conhecimento do gênero “carta pessoal”. Promover o gosto pela leitura literária. Trabalhar leitura, literatura e produção de texto na hipermídia.
estudantes do ensino fundamental II e médio
Sala de aula, sala de atividades, biblioteca, centro cultural, ou ambiente on-line.
3 encontros de 1h30
*Em razão do cenário atual de ensino remoto para o combate à pandemia, fizemos observações para apoiar os(as) educadores a desenvolver esta proposta tanto em ambiente virtual como presencialmente.
Início de conversa
As cartas pessoais caíram em desuso. Mas a prática de trocar mensagens por escrito entre amigos, familiares, colegas de profissão, casais de namorados continua por meio das novas mídias: e-mail, Facebook, WhatsApp, Twitter, SMS e outras tecnologias disponíveis na palma da mão impulsionam a troca de mensagens pessoais.
Que tal apresentar o gênero “carta pessoal” à turma por meio de cartas trocadas por escritores brasileiros? E ainda criar diálogos fictícios entre esses escritores com perfis em redes sociais?
Esta oficina busca aproximar os alunos de autores importantes de nossa literatura e mostrar a eles como a prática de escrever sobre si a pessoas próximas existiu de outras maneiras e continua existindo com as mudanças trazidas pelas novas tecnologias.
Para isso, vamos explorar o acervo de cartas do Instituto Moreira Salles. Você pode fazer uma seleção prévia de cartas escritas por autores já lidos pelos alunos ou deixar que eles as selecionem por data, local, tema, título de cartas etc. O acervo é riquíssimo e oferece inúmeras possibilidades de trabalho.
Sugestões de temas: – composição musical e criação de canções (trocas de cartas entre Vinicius de Moraes e Chico Buarque sobre a composição de “Valsinha”); – momentos históricos marcantes no Brasil e no mundo, como a ditadura militar no país e a criação artística da época (ver, por exemplo, as cartas sobre cinema) etc.
Para inspirar, ouça a canção “Carta ao Tom 74”, de Toquinho e Vinícius de Moraes. Abaixo, o poeta Vinícius conta sobre essa composição e a canta acompanhado de Toquinho e do conjunto vocal Quarteto em Cy.
Na prática
Conversa inicial
Em uma roda de conversa presencial ou virtual, pergunte se os estudantes já escreveram ou receberam uma carta pessoal. Provavelmente, a maioria nunca trocou cartas. Para exemplificar, leia com a turma uma das cartas pessoais encontradas no acervo do Instituto Moreira Salles. Uma opção interessante é a carta de Clarice Lispector, que simula um diálogo com um destinatário, o poeta e dramaturgo Lúcio Cardoso, a seguir:
Leitura e análise dos textos
Na carta acima, é possível explorar, entre outros elementos:
estrutura composicional − local e data no início, com saudação ao destinatário e assinatura ao final;
estilo − escolhas linguísticas que marcam a relação pessoal informal entre os interlocutores e a comunicação direta entre eles;
conteúdo temático − bastante original no caso dessa carta, que pode ser comparada com as trocas de mensagens instantâneas de hoje: Clarice reclama da demora do amigo em lhe enviar cartas e simula um diálogo face a face ou instantâneo (semelhante aos de hoje nas redes sociais), ironizando a falta de respostas do amigo.
Com base na carta de Clarice Lispector, discuta com a turma as diferenças entre esse tipo de correspondência em relação à comunicação instantânea pela internet e também seus possíveis problemas.
Questione o que, na visão deles, pode ser interessante na troca de cartas pessoais pelo correio. Para ampliar a discussão, sugerimos que assista com a turma a cena inicial do filme Central do Brasil (Walter Salles, 1998).
Desvendando o baú de cartas
Convide a turma a explorar as cartas disponíveis no acervo do Instituto Moreira Salles. Essa pesquisa pode ser feita por data (desde 1500 até 2019), local (diveros paóses e regiões do Brasil), tema (alegria, amizade, amor, anistia, educação, erotismo, exílio, memória,solidão, sonho, viagem…), tipo de correspndência (bilhete, carta, aberta, pública, carta/crônica…), tipo de escrita (datiloscrito, digitado ou manuscrito) ou título da correspondência
Para examinar mais correspondências pessoais, você pode selecionar um assunto de interesse dos alunos. Com turmas do ensino fundamental II, uma boa sugestão é a carta da poeta Ana Cristina Cesar, escrita aos 10 anos de idade, sobre férias e infância, a seguir:
Com alunos do ensino médio, uma sugestão é ler a carta apaixonada e exagerada do poeta Augusto Frederico Schmidt, a seguir:
Debate
Com base nas cartas lidas e analisadas, promova um debate com a turma:
O que mudou na comunicação entre as pessoas com o advento da internet e dos aparelhos de comunicação portáteis? Quais são as vantagens e desvantagens dessas mudanças e avanços? Os assuntos tratados por meio de redes sociais e mensagens são semelhantes aos das cartas pessoais lidas?
Instigue a turma a compartilhar ideias sobre quais meios utilizam para trocar mensagens com teor semelhante às cartas lidas. Pergunte sobre o que conversam nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens na internet e no celular. Também é interessante saber se conversam com pessoas (amigos, familiares etc.) que estão distantes ou próximas.
Após a leitura e a análise das cartas e o debate sobre as maneiras de se comunicar ontem e hoje, leia a apresentação do acervo no site e conte um pouco sobre os(as) escritores(as) ou artistas envolvidos.
Do baú pra rede
Então, proponha aos alunos:
Que tal criarmos perfis em rede social parodiando os escritores preferidos da turma? E depois fazê-los trocar mensagens entre si?
Para aguçar a turma, você pode mostrar o exemplo a seguir.
Em seguida, divida a turma em trios ou quartetos. Cada grupo se encarregará de criar o perfil de um escritor estudado pela turma que tenha cartas disponíveis no acervo do Correio IMS. Oriente-os a pesquisar a biografia e a obra do escritor selecionado para montar um perfil em rede social condizente com a vida e a obra da pessoa.
Antes de criarem os perfis, oriente os grupos a pesquisar a biografia do autor, suas principais obras e as características de sua produção literária, além de selecionar trechos de obras (poemas, contos, romances, crônicas etc.). Se, na troca de cartas, há referência a alguma obra específica, é interessante que os alunos a pesquisem. Por exemplo, na carta escrita por Erico Verissimo a Lygia Fagundes Telles, em 1966 (“Um cômico pugilato”), o autor gaúcho comenta a coletânea de contos O jardim selvagem, de Lygia. Os(as) alunos(as) podem ler alguns contos da coletânea e selecionar trechos que os agradam.
Outra sugestão é trabalhar as obras de Carlos Drummond de Andrade e de João Cabral de Melo Neto, com base na carta escrita em 1942 por Drummond a João Cabral (“Mas o povo não lê poesia… Quem disse?”). Verifique a necessidade de explicar à turma a presença do P.S. nesta carta (“P.S.: Obrigado pela dedicatória! Ia-me esquecendo.”).
P.S. Eu te amo Essa fórmula era utilizada para indicar algo que o remetente considerava necessário acrescentar após o encerramento da correspondência, escrita à mão ou à máquina de escrever. Com o tempo, passou a ser usada para corrigir lapsos de memória ou informar que haviam ocorrido alterações depois que se deu por concluída a carta. Hoje, o P.S. é usado como estratégia para destacar algo (“Ah! Antes que eu me esqueça…“), geralmente anunciando o mais importante a dizer.
Com base nas pesquisas que desenvolverem, peça que elaborem cartazes ou, se possível, apresentações de slides (usando ferramentas como PowerPoint ou Prezi) com características da obra e fatos da vida do autor para mostrar aos outros grupos. Incentive que todos façam comentários e perguntas que ajudem a aprimorar os cartazes.
Então, oriente os grupos para criarem os perfis fictícios em rede social. Ao preencher o perfil, o grupo deve se basear nos cartazes que elaboraram. Cada grupo pode escolher o tom que dará ao perfil: informativo, humorístico, irônico, poético…
Você também pode criar um perfil de um escritor ou de uma escritora de sua preferência para interagir com os alunos. Suas postagens e comentários podem ajudar os grupos a compreender a brincadeira e encarnar as personagens. Evite postar como professor no perfil, para conferir um tom descontraído e lúdico à atividade.
Estimule cada estudante a curtir os perfis criados pelos(as) colegas e comentar as postagens. Inicialmente, é interessante restringir a rede de amigos(as) aos grupos de alunos(as). Ao longo do bimestre, você pode lançar desafios e provocações para que a turma poste trechos das obras e comentários sobre elas. Por exemplo, tendo em vista um tema ou conteúdo estudado, desafie os grupos a buscar um trecho de algumas obras que tenham relação com o tema para postarem na rede social.
Incentive os grupos a postarem links para sites relacionados ao escritor escolhido, assim como fatos (fictícios ou não) que tenham relação com sua vida e/ou sua obra. Essas postagens podem inclusive servir para comentar acontecimentos atuais de interesse dos alunos.
Os(as) estudantes também podem fazer montagens, postando imagens dos escritores juntos, brincando com a relação entre eles. Uma prática que faz bastante sucesso nas redes são os memes com imagens do escritor e frases que façam alusão à sua obra, seja reproduzindo trechos, seja parodiando-os. Veja alguns exemplos de memes sobre autores da nossa literatura.
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