Oficina de cartografia por meio da criação de maquete da escola. Autor da oficina: Marcos Roberto dos Santos, professor e mestre em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP). Publicada originalmente na Plataforma do Letramento (Cenpec), em 2017.
Oficina de cartografia e construção de maquete da escola
Cartolinas e papelão para suporte;
bloquinhos de isopor ou objeto similar, embalagens (plástico, madeira) e palitos de sorvete;
caixas de fósforo vazias e caixas tetrapak (caixas de leite, de suco grandes e pequenas);
tintas guache (cores primárias), canetas hidrocor; lápis de cor;
pincéis, cola, tesoura e panos para limpeza dos pincéis.
Levantar o conhecimento prévio dos(das) estudantes sobre as perspectivas de observação dos objetos, superfícies e paisagens (visão vertical, oblíqua e horizontal).
Promover a exploração da percepção espacial e as diferentes formas de representação dos espaços e dos objetos, elaboração e interpretação de legenda e noções de escala.
Desenvolver a percepção de proporcionalidade.
Explorar a percepção espacial. Desenvolver habilidades para encontrar soluções cartográficas simples e diretas. Promover senso crítico, capacidade de expressão oral e conscientização sobre a dimensão ambiental. Pensar coletivamente o espaço escolar e suas possibilidades.
Estudantes do ensino fundamental I.
Sala de aula, sala de atividades, biblioteca, centro cultural, ou ambiente on-line.
3 encontros de 1h30min cada.
Início de conversa
A arte da cartografia está presente em nossa cultura desde o início da história humana. Antes mesmo do desenvolvimento da linguagem, cartografar foi uma das primeiras habilidades desenvolvidas pela humanidade.
Atualmente, recursos tecnológicos como as imagens de satélite permitem acesso fácil e rápido a qualquer ponto da Terra apenas com um clique. Trata-se de um avanço fantástico para o conhecimento de diferentes partes do mundo e do lugar onde vivemos.
No entanto, é preciso preservar nossa habilidade natural de explorar os espaços e territórios por meio das ferramentas da percepção − o olhar, o escutar, o tocar −, que foram nossos primeiros recursos tecnológicos.
Representar graficamente a percepção espacial é fundamental não só na aprendizagem da Geografia mas também em outros campos do conhecimento.
O uso de imagens aéreas como as fotografias e as imagens de satélite são recentes na cartografia. Antes disso, para produzir os mapas era preciso sair a campo e observar de forma atenta, registrar e organizar o mundo numa placa de barro, no pergaminho, no tecido ou no papel.
Considera-se que o primeiro mapa da história tenha sido confeccionado pelo povo sumério cerca de 2.500 a.C. Em uma placa de barro cozido com inscrições em caracteres cuneiformes (escrita suméria) foi representado o norte da região mesopotâmica.
Mas bem antes disso, a humanidade já explorava a representação espacial. Várias pinturas rupestres, por exemplo, representavam o caminho dos locais de caça.
O desafio desta oficina é explorar a percepção espacial e desenvolver habilidades para encontrar soluções cartográficas simples e diretas. Dessa forma, estudantes com poucos recursos tecnológicos podem resolver problemas de representação espacial.
Antes é preciso aprimorar a capacidade de observação e sistematização em campo e, desse modo, permitir que os(as) estudantes explorem de forma mais consistente as possibilidades que as tecnologias da informação oferecem no campo da cartografia.
Na prática
Originalmente, esta oficina foi pensada para ser realizada presencialmente. No entanto, em razão da pandemia, muitas escolas estão em adaptação de tempos e espaços para reabertura e as aulas estão acontecendo em formato híbrido ou remoto.
Considerando isso, os dois primeiros encontros desta oficina podem ser virtuais. Já o terceiro encontro (trabalho de campo), por envolver vistoria do espaço escolar e maior mediação do(da) professor(a), o ideal é que aconteça presencialmente.
Ainda assim, é possível adaptar a proposta. No caso de aulas em formato híbrido, é possível organizar que a visita à escola aconteça de acordo com o revezamento das turmas. Para as escolas que ainda estão funcionando apenas remotamente, o(a) professor pode modificar a proposta inicial, combinando que cada estudante faça a cartografia da própria casa ou de outro espaço a que tenham acesso neste momento.
Primeiro encontro: roda de conversa
Inicie com uma roda de conversa sobre como e o que os alunos observam dos lugares onde vivem: a casa, a rua, o bairro, a escola e a cidade. Destaque também a importância do meio ambiente para a qualidade de vida das pessoas, a produção de lixo, a poluição do ar, das águas, e como esses aspectos estão presente no cotidiano e nos espaços de convivência das pessoas.
Em seguida, faça uma enquete sobre a importância de se conhecer os diferentes espaços da superfície terrestre (a rua, o bairro, a cidade, o estado, o país, o continente…) para o pleno exercício da cidadania e dos direitos na sociedade.
Trabalhe com os alunos o poema de Alberto Caeiro (heterônimo do poeta português Fernando Pessoa):
“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo… Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura…
Nas cidades a vida é mais pequena Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar, E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.“
Fernando Pessoa/Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos”, 1914.
Pergunte aos(às) estudantes como veem o espaço a sua volta: a cidade, o bairro, a escola. Questione se conseguem se orientar, se localizar nesses espaços.
Em seguida, apresente uma imagem de satélite a partir do aplicativo GoogleEarth, observando com a turma a área em que a escola se localiza.
Discuta o que pode ser observado em seu entorno (prédios, ruas, praças, etc.) e como a tecnologia moderna permite o acesso virtual a vários lugares da Terra, como museus, pontos turísticos, reservas naturais etc.
Segundo encontro: trabalhando conceitos cartográficos
Depois dessa introdução, apresente a ideia de construírem juntos(as) a representação cartográfica do espaço da escola sem o uso das tecnologias modernas. Para isso, é preciso trabalhar dois conceitos básicos: seleção cartográfica e escala:
Seleção cartográfica: um mapa é uma abstração e uma síntese da realidade, por isso não pode representar tudo que existe na superfície mapeada. Assim, é fundamental identificar feições e objetos a ser mapeados. Discuta com a turma alguns critérios de seleção dos elementos observados na imagem.
Escala: relação de proporcionalidade dos objetos no mundo real e sua representação cartográfica no papel..
Seleção cartográfica É a simplificação dos elementos topográficos extraídos da documentação básica para a escala final do trabalho. A seleção deve ser equilibrada e a densidade dos elementos topográficos a serem representados deve refletir as características básicas do local, mantendo as feições do terreno.
A representação deve incluir todos os elementos significativos para a escala final do trabalho sem comprometer a legilibidade do mapa. Elementos importantes: – hidrografia: detalhes naturais e/ou artficiais que têm a água como componente principal; – planimetria: representação do terreno em um plano para mensurar distâncias, ângulos, áreas, perímetros e coordenadas; a seleção dos elementos planimétricos deve ser criteriosa e considerar localidades (cidades, vilas, povoados, lugarejos, núcleos e propriedades rurais), sistema viário (rodovias e ferrovias que interligam as localidades selecionadas); – altimetria: representa o relevo por meio de convenções cartográficas na forma de curvas de nível, escarpas etc.; – vegetação: essa representação se baseia na documentação topográfica, considerando matas, florestas, áreas de reflorestamento, culturas temporárias e permanentes, campos e mangues.
Fonte: IBGE
Terceiro encontro: trabalho de campo
Acompanhe a turma em uma vistoria nas dependências da escola, sobretudo em sua parte externa. O objetivo é elaborar uma planta baixa da escola (parte edificada), com a separação das áreas internas principais (pátio, salas de aula, quadras) e externas (muros, portões e ruas laterais); Utilize a trena para fazer a medição das principais dimensões do edifício da escola, paredes, corredores, muros, quadras etc.
Ao final dessa vistoria, os(as) estudantes deverão elaborar, individualmente, um desenho na forma de uma planta baixa da escola e seu entorno.
Em seguida, proponha a formação de grupos de trabalho (3 ou 4 estudantes). Os grupos vão, em primeiro lugar, fazer uma avaliação conjunta dos desenhos elaborados e, com base na produção de cada integrante, elaborar uma versão final da planta da escola, que será utilizada como base para construção da maquete.
Nos encontros anteriores, peça que cada estudante traga os materiais para a elaboração da maquete (veja lista no início da oficina).
O ideal é trabalhar com materiais reutilizáveis, papel, plástico, madeira e metal. Com isso é possível inserir uma discussão sobre a questão ambiental do consumo sustentável, produção de resíduos sólidos, descarte adequado e inadequado, entre outras.
Além disso, a proposta estimula a responsabilidade comum com relação ao meio ambiente e a criatividade no uso de seus recursos.
Oriente a turma na seleção, separação e recorte dos materiais e sua preparação para uso na construção da maquete (pintura e texturização das superfícies e objetos).
Na folha de cartolina, os(as) estudantes devem colar os objetos representando os espaços da escola (edifício, quadras, horta etc.) e a área de entorno (ruas, parques etc.). Por fim, procure mediar a elaboração de legendas. É importante ressaltar a importância da legenda como elemento cartográfico e como chave de interpretação dos elementos presentes nos mapas e na maquete.
Repensando o espaço escolar
Em um momento em que discutimos a retomada segura das aulas presenciais, o debate sobre que escola queremos é propício. Que tal aproveitar esta oficina para refletir com seus(suas) estudantes o que é importante mudar ou melhorar no espaço escolar?
OManual Técnico para Escolas Saudáveis traz dicas tanto para a elaboração de protocolos para manter a saúde de quem está na escola como para uma discussão mais ampla sobre o que seria uma escola saudável.
Para a educadora e psicóloga Maria Alice Junqueira (Cenpec):
O debate de que a escola precisa mudar ocorre já há muito tempo. Poderíamos aproveitar toda essa discussão […] para realizar uma modificação profunda. Poderíamos realmente transformar a escola naquilo que sempre sonhamos.”
O primeiro refere-se à representação dos elementos observados durante a vistoria da escola. Aqui é avaliada a capacidade de percepção espacial e a habilidade motora de representação espacial.
O segundo momento ocorre no trabalho em grupo, quando os(as) integrantes, coletivamente, analisam as ilustrações dos(das) colegas para em seguida elaborar uma versão final da representação.
O terceiro momento pode acontecer ao final do trabalho, quando os grupos apresentam suas maquetes expondo à turma os resultados do trabalho.
É possível ainda fazer uma avaliação diagnóstica de competências e habilidades associadas à oralidade e à compreensão da organização do espaço geográfico e dos procedimentos de observação e registro.
Para finalizar, é interessante realizar uma roda de conversa com os grupos para a avaliação da atividade como um todo, do envolvimento dos grupos e da participação de todo mundo. A finalização pode ser por meio de um pequeno texto coletivo em que os(as) estudantes apresentem suas impressões sobre a experiência.
Expectativas de aprendizagem
Durante e ao final do processo, espera-se que os(as) estudantes:
se apropriem de procedimentos de observação sistemática e representação espacial;
desenvolvam habilidades associada à representação cartográfica do espaço por meio da observação e descrição;
se apropriem de procedimentos de execução de trabalhos em equipe;
desenvolvam senso crítico, capacidade de expressão oral e conscientização sobre a dimensão ambiental.
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