Respeitável público: a Grande EnCIRCOpédia Virtual tá no ar!

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Respeitável público: a Grande EnCIRCOpédia Virtual tá no ar!

Conheça a vida e a arte itinerante das trupes circenses em site que reúne vídeos com depoimentos, histórias e atrações de artistas de todo o Brasil

Por Stephanie Kim Abe

É sempre uma alegria quando o circo chega na cidade! Para as crianças, é uma forma de entrar em um mundo mágico, maravilhar-se com as acrobacias e vivenciar uma experiência fora da rotina. Para os adultos, é rememorar suas lembranças de infância, um passado em que divertir-se sob a lona de um circo era mais comum do que ocorre para as crianças de hoje. 

Mas o que acontece depois que o número acaba, a temporada se encerra e o circo é desmontado? Para onde vai a trupe circense? Quais os percalços que elas encontram no caminho? Será que para artistas é sempre uma magia estar no picadeiro?

Encircopédia – Dicionário Crítico Ilustrado do Circo no Brasil
Encircopédia – Dicionário Crítico Ilustrado do Circo no Brasil (capa)

O projeto Grande Encircopédia Virtual busca mostrar todos esses lados da vida dos(as) artistas circenses. Inspirada no livro homônimo da pesquisadora circense e autora Sula Mavrudis – que também faz a curadoria do projeto –, a iniciativa reúne histórias de vida e especificidades da vida no circo de famílias que há muitas gerações se dedicam ao exercício da arte do picadeiro. 

São, ao total, 87 vídeos-verbetes, produzidos em grande parte pelos próprios artistas, mesmo com as suas limitações técnicas. Os circos participantes são originários de vários estados brasileiros e os depoimentos incluem os mais diversos tipos de artistas e colaboradoras(es) que fazem parte do espetáculo: palhaças(os), trapezistas, malabaristas, icaristas, dançarinas(os), bailarinas(os), acrobatas aéreos e de solo, equilibristas, mágicas(os), hipnotizadoras(es), comedoras(es) de fogo, engolidoras(es) de espadas, secretárias(os) de frente, locutoras(es), eletricistas, técnicas(os) de luz, de som, montadoras(es), motoristas, carregadoras(es), vendedoras(es) da maçãs do amor…

A cada sexta-feira são divulgados três novos vídeos no canal do YouTube e no site do Bossa Criativa – Arte de Toda Gente, iniciativa que coordena o projeto. 

Como explica Marcelo Jardim, coordenador do Bossa Criativa:

Foto: Raffaella Bompiani

A Grande EnCIRCOpédia Virtual é composta pelas histórias e especificidades da vida no circo, contadas por famílias que há muitas gerações se dedicam ao exercício da arte do picadeiro. Artistas e técnicos cuja missão é levar alegria, diversão e arte onde o povo está, especialmente em lugares onde dificilmente chegariam apresentações ao vivo.”

Marcelo Jardim

Os depoimentos também trazem à tona as dificuldades crônicas que esse povo tradicional e nômade enfrenta para exercer a sua arte, que tem tanta relação com o território, seja por falta de reconhecimento e amparo adequado de políticas culturais e de apoio a essa comunidades ou pelo preconceito que sofrem cotidianamente.

Marcelo reforça:

É importante pontuar que os desafios desse povo compreendem também, além da execução de seus números no picadeiro, vencer diariamente, em cada cidade por onde passa, os obstáculos burocráticos, os preconceitos e as indiferenças cristalizadas nas atitudes estruturais da sociedade. A falta de locais adequados destinados para a montagem de suas lonas, a falta de normas e legislação próprias para que as temporadas artísticas possam ser realizadas em cada localidade, entre tantos outros entraves, são vivenciados cotidianamente pelo povo do circo.”

Marcelo Jardim

Para o coordenador, esse universo bem diversificado dos artistas circenses, com modos, estilos, costumes próprios e singulares maneiras de transmitir seus conhecimentos, é algo que precisa ser divulgado e passado a todas e todos:

Além de ser uma forma de estimular as crianças e jovens nas diversas formas de arte envolvidas em um circo, esses vídeos evidenciam como essa comunidade nômade valoriza os saberes por tradição oral, de pai para filho, na prática do dia a dia. É um verdadeiro aprendizado de respeito à tradição e ao saber dos mais velhos.”

Marcelo Jardim

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