Interrupções na sala de aula e o processo de ensino-aprendizagem

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Interrupções na sala de aula e o processo de ensino-aprendizagem

Pesquisa da OCDE destaca pouco tempo dedicado às atividades pedagógicas na sala de aula, mas traz resultados positivos quanto a práticas inovadoras e apoio entre professores

Lançada na última quarta-feira (19/06), a Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizagem (TALIS, na sigla em inglês) trouxe resultados sobre as condições de trabalho e do ambiente de ensino-aprendizagem em que atuam professores e líderes de escola de 48 países.

Com o tema “Professores e Líderes Escolares como Eternos Aprendizes”, a TALIS aplicou questionários e entrevistas a 250 mil profissionais em todo o mundo. Um dos destaques no Brasil foi o tempo de aula que o professor realmente dedica ao processo de ensino-aprendizagem – apenas 67% –, assunto abordado no Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, pela diretora-executiva do CENPEC Educação, Mônica Gardelli Franco. Confira.

Menor tempo dedicado ao ensino-aprendizagem

Em uma aula típica, os professores gastam hoje mais tempo no ensino-aprendizagem que em anos anteriores? Eles se sentem preparados para ensinar ao iniciarem a carreira? Quais são os principais cursos que procuram para se aprimorarem? Quantos são homens e quantos são mulheres e qual a idade média? As relações entre professores e alunos tendem a ser amistosas ou hostis?

Essas são algumas das perguntas que a TALIS busca responder a cada cinco anos. A pesquisa é realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com professores e líderes escolares e publicada a cada cinco anos. Por meio dela, é possível realizar um diagnóstico que pode ajudar os diferentes países a desenvolver políticas de educação a partir do que os próprios profissionais de educação dizem sobre si.

O tempo de aula efetivamente dedicado às atividades pedagógicas no Brasil, por exemplo, destoa em 10 pontos percentuais da média dos países da OCDE, que chegam a atingir 78%. No cômputo geral, o Brasil fica à frente apenas da África do Sul e da Arábia Saudita.

Para Mônica Franco, uma das razões é o excesso de interrupções durante a aula. “Se, de fato, o professor tivesse 40 minutos em que pudesse se dedicar (…) à qualidade de seu trabalho, poderia atingir os resultados esperados”, diz a diretora-executiva.

Mônica Gardelli Franco.

O que percebemos é que não há um tempo linear. É um tempo que vai sendo interrompido: o professor precisa fazer muitas interrupções para poder retomar o processo pedagógico.”

Mônica Gardelli Franco

Inovação e formação continuada

Nem tudo, porém, são más notícias. A maioria dos professores e diretores, por exemplo, vê suas escolas e colegas como abertos à inovação, e a prática da mentoria entre profissionais mais antigos e novatos é superior à média da OCDE. Confira outros dados do estudo para o Brasil.

• O ensino foi a primeira opção de carreira para 65% dos professores no Brasil, e para 67% dos docentes nos países da OCDE e nos que participaram do TALIS – e pelo menos 95% dos brasileiros citam a oportunidade de influenciar o desenvolvimento das crianças ou contribuir para a sociedade como as maiores motivações para terem escolhido a carreira docente;

• Em média, os professores brasileiros têm mais de 15 anos de carreira e 42 anos de idade. Outros 23% têm 50 anos ou mais, o que demonstra a necessidade de que o Brasil renove cerca de um a cada quatro professores para manter a força atual de trabalho;

• 69% dos docentes é do sexo feminino. Entre os diretores de escola, o percentual chega a 77%;

• 94% dos professores concordam que professores e alunos geralmente se dão bem em sala de aula. No entanto, 28% dos diretores reportam episódios regulares de bullying e intimidação entre seus estudantes – o dobro da média da OCDE, que é de 14%. Em 10% das escolas, a intimidação se dirigiu a educadores;

• Uma vasta maioria dos professores e líderes escolares veem seus colegas e suas escolas como capazes de adotar práticas inovadoras. Além disso, 80% dos professores brasileiros (e 78% dos de outros países) afirmam que os colegas dão suporte uns aos outros na implementação de novas ideias;

• 87% dos professores e 94% dos diretores se engajaram em algum tipo de atividade para o desenvolvimento profissional no ano anterior à realização da TALIS. Participar de cursos e seminários são os principais tipos de atividades nesse sentido, referidos por 65% dos docentes;

• 11% dos professores no Brasil trabalham com aulas em que há pelo menos 10% de estudantes com necessidades especiais (físicas, mentais ou emocionais), abaixo da média dos países da OCDE e da TALIS (27%); 58% relataram alta necessidade para treinamento profissional visando a atuar com esses estudantes.

Acesse o site com o relatório completo (em inglês)

Acesse o resumo geral (em espanhol)