LUIZ GAMA, CONSCIÊNCIA NEGRA, JUSTIÇA E LIBERDADE
“Nasci na cidade de S[ão] Salvador, capital da província da Bahia, em um sobrado da Rua do Bângala, formando ângulo interno, na quebrada, lado direito de quem parte do adro da Palma, na Freguesia de SantAna, a 21 de junho de 1830, pelas 7 horas da manhã, e fui batizado, 8 anos depois, na igreja matriz do Sacramento, da cidade de Itaparica.
Sou filho natural de uma negra, africana livre, da Costa Mina, (Nagô de Nação) de nome Luíza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã.
Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor era de um preto retinto e sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa.
[…] Meu pai, não ouso afirmar que fosse branco, porque tais afirmativas, neste país, constituem grave perigo perante a verdade, no que concerne à melindrosa presunção das cores humanas: era fidalgo e pertencia a uma das principais famílias da Bahia de origem portuguesa. Devo poupar à sua infeliz memória uma injúria dolorosa, e o faço ocultando o seu nome.”
Com essas palavras, Luiz Gama conta de suas origens ao escritor e amigo Lúcio de Mendonça em carta datada de 25 de julho de 1880.
Mas quem é este personagem que há poucos anos passou a ganhar espaço nas páginas da história brasileira? Por que, durante tanto tempo, seu nome e sua obra foram desconhecidos da maioria, mesmo tendo sido um dos nossos maiores abolicionistas?
Luiz Gonzaga Pinto nasceu em Salvador, Bahia, em 21 de junho de 1830. Filho de Luiza Mahin, negra africana livre, e de um fidalgo de origem portuguesa, sua trajetória é marcada pela luta em prol da libertação das pessoas escravizadas e pela valorização da cultura afro-brasileira.
Nas palavras de José do Patrocínio, outro grande abolicionista brasileiro, Luiz Gama era o “grande chefe”, “o símbolo da grande causa”.
De fato, ao longo de seus 52 anos de vida, usou o sistema jurídico para libertar centenas de pessoas, organizou conferências, escreveu inúmeros artigos polêmicos, além de ter encabeçado iniciativas para o alforriamento de escravizadas(os) promovidas pela loja maçônica América, de São Paulo.