LITERATURA, GÊNEROS, LINGUAGENS
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Transposição para outros gêneros textuais
A inspiração para a criação literária pode partir de uma obra já existente, por meio do diálogo intertextual. Essa atividade proporciona o aumento de repertório literário e a análise das obras, uma vez que o aluno precisa conhecer e entender a obra original a fim de utilizá-la como matéria-prima para a sua.
A transposição de um gênero a outro (por exemplo, de carta a poema, de conto a peça teatral, de crônica a notícia de jornal etc.) favorece o estudo das características formais de cada gênero. Um exemplo bem conhecido de contaminação entre gêneros textuais é o poema “Tragédia brasileira” (Manuel Bandeira), que traz um tema típico das notícias policiais (o homicídio passional) para a linguagem lírica.
Leia este artigo, que analisa a integração de diversos gêneros (carta, epitáfio, poema, convite, telegrama…) na obra Reinações de Narizinho (Monteiro Lobato). Uma atividade interessante pode ser observar com os estudantes do Ensino Fundamental como esses diferentes gêneros aparecem na narrativa e propor atividades de transposição de gêneros em grupo. Por exemplo: as crianças podem escrever um poema sobre o episódio em que Narizinho e Emília viajam para o Reino das Águas Claras, ou uma notícia de jornal sobre o casamento de Narizinho com o Príncipe Escamado.
Um texto que já inspirou muitas paródias e paráfrases é a Carta de Pero Vaz de Caminha. Leia o poema de Murilo Mendes baseado nela.
A terra é mui graciosa,
Arquivo Murilo Mendes /
Fundação Casa de Rui Barbosa
Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear,
No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
Tem goiabas, melancias,
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos muito,
De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais
Diamantes tem à vontade
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca,
Cruzados não faltarão,
Vossa perna encanareis,
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui.
MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Você pode propor a leitura de trechos da Carta de 1500 em que há diálogo direto com o poema e discutir com os estudantes: Quais são os pontos em comum em relação à linguagem? E em que eles se diferenciam? Que versos de Murilo Mendes indicam ironia em relação ao discurso de Caminha?
Depois de discutir e observar as diferenças de estilo, você pode propor a criação de uma narrativa sobre uma terra imaginária recém-descoberta: pode ser um conto maravilhoso (com as características dos contos de fada), uma notícia de jornal ou uma reportagem, por exemplo. A Carta pode inspirar outras criações, como peças de teatro, radionovelas, jogos envolvendo língua portuguesa e história (comparação entre o português da época e o atual) etc. Assista a esta paródia criada por um grupo de estudantes.
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Outras linguagens
Contar um romance, uma crônica ou um poema por meio de outras linguagens artísticas costuma ser uma boa estratégia para envolver os alunos. Os estudantes podem recontar a história por meio da dramatização com máscaras, do teatro de fantoches, do teatro de sombras, de uma dança ou de uma música.
Na televisão e no cinema é muito comum vermos transposição de linguagens. Em vídeo também é possível recriar histórias de literatura. Assista a duas adaptações de texto literário para vídeo:Livro infantil A maior flor do mundo, de José Saramago.
Conto “Aurora sem dia”, de Machado de Assis.
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Literatura e linguagem visual
Assim como a expressão verbal, a expressão visual é constituída por um sistema de linguagem. Enquanto o sistema de linguagem verbal baseia-se em letras, palavras, frases, o sistema de linguagem visual baseia-se em elementos como cor, proporção, figura e fundo.
A imagem é um elemento muito presente na literatura, quando se pensa em livros ilustrados, impressos ou digitais. Por isso, conhecer um pouco sobre a linguagem visual pode ser muito enriquecedor para a leitura literária.
A leitura de imagens pode ser desenvolvida com leitores de diversos níveis de escolaridade. Com crianças pequenas, pré-alfabetizadas, os livros sem texto escrito (ou com poucos textos) e muitas ilustrações estimulam a imaginação, possibilitando que a criança explore a oralidade interagindo com as imagens, o que favorece diferentes leituras e interpretações. Com leitores já alfabetizados, é possível explorar mais sutilezas da relação entre imagem e texto escrito. Por exemplo: pode-se observar se a imagem procura “traduzir” o que é expresso em palavras ou traz outros sentidos ao texto escrito, ampliando as leituras possíveis; pode-se atentar para as técnicas, as cores, a disposição das imagens no livro e discutir as possíveis intenções do ilustrador ao fazer essas escolhas. Uma atividade interessante é convidar um autor e um ilustrador para falar sobre seus trabalhos e a complementaridade entre texto e imagem. Ouça o que os ilustradores Fernando Vilela, Lúcia Hiratsuka e Odilon Moraes dizem a respeito nesta entrevista.
Entre as selecionadas neste mapa, há várias obras ilustradas, que possibilitam leituras de imagem e texto com diversos níveis de aprofundamento. Em Lá e aqui (Carolina Moreyra e Odilon Moraes), por exemplo, a brevidade do texto abre largo espaço para que os sentidos da narrativa sejam construídos em conjunto com as imagens. De acordo com a maturidade do leitor, é possível fazer diferentes interpretações de detalhes da obra, como o papel do elemento aquático, a representação da casa nos diversos momentos da narrativa, entre outros aspectos que envolvem o texto escrito e a imagem. Veja algumas ilustrações dessa obra na resenha publicada na Revista Emília.
O bicho alfabeto (Paulo Leminski) é outro livro interessante para explorar a relação entre texto escrito e imagem. Você pode explorar com os estudantes a forma como as ilustrações de Ziraldo interagem com os poemas de Leminski: elas ajudam o leitor a compreender o sentido dos textos? Trazem novos sentidos? Uma atividade interessante pode ser propor que os estudantes (do Ensino Fundamental e Médio) leiam os poemas deste ou de outro livro e criem novas imagens para acompanhá-los, usando técnicas diversas: colagem, pintura, desenho, foto etc. Esse trabalho pode ser desenvolvido junto com o professor de Artes.
No Especial Leitura de imagens, você vai encontrar informações sobre leitura de textos ilustrados que poderão inspirá-lo no trabalho com os alunos.
Veja também o Experimente sobre poesia visual, que traz diversas dicas de como trabalhar esse gênero híbrido de palavra e imagem.
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Literatura e linguagem teatral
Assim como a linguagem verbal e a linguagem visual, há outros sistemas de linguagens para a expressão humana. A linguagem teatral é um deles, e mescla vários tipos de códigos e sistemas, tanto verbais como visuais e sonoros, que ganham corpo no cenário, no figurino, nos objetos de cena, na sonorização, na entonação das falas e até nos silêncios e espaços vazios.
No mapa, há obras teatrais que podem ser trabalhadas com a turma. Uma delas é Auto da Compadecida (Ariano Suassuna), bastante popular após a recente adaptação para o cinema, no filme de Guel Arraes. Uma atividade interessante é ler com a turma o texto original e depois assistir à versão cinematográfica, observando as diferenças e semelhanças entre eles. Outra atividade pode ser observar as influências da literatura de cordel na obra de Suassuna, como ele mesmo declara neste vídeo.
Veja neste Experimente dicas de como trabalhar com texto teatral.