Fluência

Nos estágios iniciais da alfabetização, a atenção do aprendiz está toda voltada para a decodificação do texto.

Nesse momento, a leitura não tem fluência.

Quando o aprendiz lê sem fluência, de forma lenta, hesitante e inexpressiva, ignorando as marcas de pontuação, o texto se torna um amontoado de sílabas, palavras ou frases soltas.

Esse tipo de leitura dificulta a compreensão do texto. Isso ocorre porque o cérebro do leitor está ocupado com a decodificação.

Análise da leitura de Mônica

MÔNICA (nome fictício)

Tem 13 anos. Cursava o 6º ano do Ensino Fundamental do Projeto Estudar para Valer!,
em São Roque (SP), numa sala em que a maioria não sabia ler nem escrever no início do ano.
Foi realizado um projeto especial para essa turma.

Mônica lê de forma pouco fluente, com muitas pausas e hesitações, e não usa a ênfase
adequada, conforme se pode observar nas marcações realizadas nos textos lidos:





Quando o leitor é pouco fluente, lê mais devagar que leitores mais fluentes.

O progressivo domínio da fluência e a ampliação de vocabulário mental permitem:

  • ler com mais rapidez;
  • reconhecer palavras, grupos de palavras e frases automaticamente;
  • apreender o texto e partes dele como um todo significativo; compreender o texto e seu sentido global.

Para desenvolver a fluência, é importante trabalhar com três componentes:

Precisão

A precisão resulta de um domínio mais amplo e sistemático das relações entre grafemas e fonemas, sobretudo das habilidades de ler irregularidades ortográficas, estruturas silábicas não canônicas e palavras com número maior de sílabas.

Habilidades envolvidas

1. Decompor e compor palavras polissílabas.

2. Decompor e compor palavras compostas de sílabas com diferentes padrões (V, CV, VC, CCV, CVC, CCVC etc.)

3. Dominar, na leitura, os casos em que os valores do grafema variam de acordo com sua posição.

4. Apoiar-se em constituintes de palavras (sufixos e prefixos) para ler com precisão e rapidez.

Por isso é importante propor atividades de decomposição e composição de palavras polissílabas e de palavras com diferentes padrões silábicos.

Automatismo

Resulta da capacidade de reconhecer palavras isoladas e palavras em textos, em vez de decodificá-las.
A decodificação envolve o acesso ao significado mediado pela via fonológica.
Quando se torna capaz de reconhecer as palavras, o leitor acessa o significado pela via lexical, pois as palavras são conhecidas por ele, já fazem parte de seu vocabulário mental. Ao apreender esse processo, o leitor terá condições de ler com compreensão.

Habilidades envolvidas

Para desenvolver o automatismo, é preciso dar oportunidades para o aluno ampliar seu vocabulário mental. A leitura silenciosa de textos escolhidos pelos alunos é importante. As pesquisas têm mostrado que a leitura oral de textos significativos, lidos previamente pelo aluno, é uma atividade fundamental para o desenvolvimento dessa capacidade. Veja algumas sugestões de práticas.

Exige muito esforço do leitor porque seu cérebro fica ocupado em prestar atenção nas letras e sílabas. Isso dificulta a compreensão do texto.

sapeca histerese

Se a palavra não integra seu vocabulário mental, o leitor vai ler usando a via fonológica.

Indica uma identificação automática de palavras e frases, sem a necessidade de ler cada letra e sílaba. Possibilita uma leitura mais rápida e fluente, focada no sentido do texto.

inconstitucional caricatura

Se a palavra já integra seu vocabulário mental, o leitor vai ler usando a via lexical.

Leitura expressiva

Resulta da precisão e do automatismo da leitura de palavras em textos e, especialmente, da atenção aos elementos prosódicos (que conferem expressividade à leitura), marcados ou não por sinais de pontuação. Fazem parte desses elementos o ritmo, a entonação, as pausas, a preservação de unidades sintáticas de sentenças e o recurso à ênfase.

Habilidades envolvidas

Habilidade de ler em voz alta: ler, oralmente e sem hesitações, textos curtos e de complexidade média, atentando para os sinais de pontuação no interior das frases e nos aspectos sintático-semânticos no final delas. Essa leitura oral deve ser precedida de leitura silenciosa e preparação prévia.



Como desenvolver a fluência

Quanto mais o aprendiz for incentivado a ler, conversar sobre textos e se familiarizar com a cultura escrita, mais ele desenvolverá a fluência e o gosto pela leitura

É necessário trabalhar sistematicamente com a precisão (exploração sistemática das relações grafofônicas em palavras), especialmente em palavras:

  • com maior número de sílabas;
  • com sílabas não canônicas;
  • com grafemas cujo valor varia de acordo com a posição na palavra (como o s em sapo, casa, lápis e pássaro).

Sugestões de atividade: ler e analisar os elementos constituintes da sílaba (separação de palavras em sílabas e análise de sua estrutura).

Automatismo e leitura expressiva:  é importante criar situações significativas para a leitura em voz alta, sempre antecedida pela leitura silenciosa. A leitura prévia é fundamental porque permite a construção de um vocabulário mental e o desenvolvimento do automatismo na leitura, possibilitando a fluência. Tanto a leitura silenciosa como a leitura em voz alta colaboram para uma adequada segmentação sintática e a atenção aos elementos que conferem expressividade à leitura, os quais contribuem para a compreensão do texto.

Nas situações de leitura em voz alta, o professor deve ser um modelo de leitor fluente e, se possível, apresentar outros modelos similares. Veja alguns exemplos nos vídeos abaixo:

Para assistir na íntegra, clique aqui.

Avaliação da fluência em leitura oral

Durante a leitura de pequenos textos, o professor pode verificar se a decifração é feita com ou sem fluência, ou seja, se a leitura é marcada por lentidão, se o aluno apresenta hesitação e faz pausas prolongadas entre palavras e se constrói o sentido apenas depois de decifrar todas as sílabas das palavras ou todas as palavras da frase. Também é possível verificar se o aluno lê globalmente palavras ou unidades que constituem uma sentença ou frase. Nessa avaliação, o professor pode constatar o nível de fluência por meio de um diagnóstico e, caso seja necessário, preparar atividades de intervenção.

Nível 4

Lê primordialmente por meio de grupos de frases maiores e com sentido. Embora algumas regressões, repetições e desvios do texto possam ocorrer, eles não parecem desvirtuar a estrutura da história. A preservação da sintaxe do autor é consistente. A maior parte da história ou alguma parte dela é lida com interpretação expressiva.

Nível 3

Lê primordialmente por meio de grupos de três ou quatro palavras. Alguns grupos menores podem estar presentes. Entretanto, a maior parte das sentenças é lida de modo apropriado e com a sintaxe do autor preservada. A leitura expressiva é pequena ou não está presente.



Nível 2

Lê principalmente por meio de grupos de compostos de duas palavras, mas grupos com três ou quatro palavras podem também estar presentes. A leitura palavra por palavra pode também ocasionalmente ocorrer. Agrupamentos de palavras podem soar de modo estranho e sem relação com o contexto mais amplo da sentença ou da passagem.

Nível 1

Lê principalmente palavra por palavra. Ocasionalmente, a leitura de grupos de duas ou três palavras pode acontecer, mas ela é infrequente e/ou nela o sentido não é preservado.

Análise da leitura de Mônica

MÔNICA (nome fictício)

Tem 13 anos. Cursava o 6º ano do Ensino Fundamental do Projeto Estudar para Valer!,
em São Roque (SP), numa sala em que a maioria não sabia ler nem escrever no início do ano.
Foi realizado um projeto especial para essa turma.

Mônica lê de forma pouco fluente, com muitas pausas e hesitações, e não usa a ênfase
adequada, conforme se pode observar nas marcações realizadas nos textos lidos:





Exemplo de Diagnóstico

A professora solicitou que o aluno lesse o texto abaixo.

Contexto

  • O aluno Luís (nome fictício) tem 12 anos. Nasceu e mora em Resende (RJ).
  • Já foi reprovado três vezes e cursava o 4º ano quando entrou na classe de Aceleração da Aprendizagem, projeto especial realizado em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
  • Estudava na escola havia quatro anos (entrevista realizada em agosto de 2011), mas não ficou nenhum momento
    sem estudar.

Diagnóstico:

  • O aluno está no nível 3. O registro feito pela professora indica que Luís teve dificuldades para ler as seguintes palavras: caricaturas, naturalidade (troca de palavras), ironia, modéstia (hesitação).
  • Essas dificuldades decorrem do fato de essas palavras serem novas para o aluno (não fazem parte de seu léxico mental). Além disso, a professora indicou em seu registro que Luís demonstrou dificuldade com a entonação a ser dada à frase "Muito bonito isso, não é verdade, seu Juquinha?". Apesar desses pequenos problemas, o registro
    mostra que o aluno lê com relativa fluência em relação ao início do ano, quando tinha dificuldade na
    decodificação de palavras.

Exemplo de Diagnóstico

A professora solicitou que o aluno lesse o texto abaixo.

Contexto

  • O aluno Luís (nome fictício) tem 12 anos. Nasceu e mora em Resende (RJ).
  • Já foi reprovado três vezes e cursava o 4º ano quabdo entrou na classe de Aceleração da Aprendizagem, projeto especial realizado em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
  • Estudava na escola havia quatro anos (entrevista realizada em agosto de 2011), mas não ficou nenhum momento
    sem estudar.

Diagnóstico:

  • O aluno está no nível 3. O registro feito pela professora indica que Luís teve dificuldades para ler as seguintes palavras: caricaturas, naturalidade (troca de palavras), ironia, modéstia (hesitação).
  • Essas dificuldades decorrem do fato de essas palavras serem novas para o aluno (não fazem parte de seu léxico mental). Além disso, a professora indicou em seu registro que Luís demonstrou dificuldade com a entonação a ser dada à frase "Muito bonito isso, não é verdade, seu Juquinha?". Apesar desses pequenos problemas, o registro mostra que o aluno lê com relativa fluência em relação ao início do ano, quando tinha dificuldade na decodificação de palavras.

Práticas de leitura que ajudam a desenvolver a fluência

Leitura de palavra com sílabas não canônicas

  • Alguns alunos têm dificuldade em decodificar palavras compostas por determinadas sílabas (gue, bru etc.). O mesmo pode ocorrer com palavras desconhecidas. Nesse caso, antes de propor a leitura de um texto que contém palavras com essas características, sugere-se que o professor as escreva no quadro de giz, explique seu significado e faça a leitura delas com os alunos até que se tornem familiares.

Leituras repetidas

  • Abrir espaço para a leitura repetida de um texto para a turma ou um grupo de colegas e realizar leituras dirigidas de frases ou pequenas porções de sentido (por exemplo: o título do livro que será lido). Como na prática anterior, recomenda-se que o professor escreva o texto de forma que todos possam ler e converse sobre o significado, antes de repetir a leitura com os alunos.

Leitura eco

  • O professor ou outro leitor fluente lê uma frase ou um parágrafo de cada vez, enquanto os estudantes acompanham com o dedo. Assim que o leitor fizer uma pausa, os estudantes repetem a leitura da mesma frase ou do parágrafo lido, indicando com o dedo o que está lendo. Após a leitura eco, os alunos fazem uma leitura coletiva do texto inteiro.

Leitura de poesias, trovas, letras de canções, trava-línguas, parlendas

  • O professor seleciona poesias, trovas, letras de canções, trava-línguas e parlendas para que os alunos leiam em voz alta individual ou coletivamente.
Acesse o material da Olimpíada de Língua Portuguesa “A hora e a vez do conto”.

Leitura dramatizada

  • O teatro é uma das melhores maneiras de promover a fluência em leitura. Cada aluno deve ter em mãos uma cópia do roteiro para ler em voz alta. Faz-se uma leitura coletiva do texto. Em seguida, o professor convida diferentes alunos a ler diferentes partes do script. A repetição ajuda no desenvolvimento da expressividade.
  • Também se pode escolher um texto com vários personagens. Solicita-se a que cada aluno leia as falas de um personagem, usando a entonação adequada e observando como a linguagem pode expressar o perfil de cada um (mais calmo, mais autoritário, mais medroso...). Depois de ensaiar bem as falas, pode-se fazer a leitura dramatizada, com a encenação do texto para a turma.

Telejornal, programa de rádio ou jornal falado

  • Os alunos devem preparar-se para apresentar notícias como se fosse um telejornal ou noticiário de rádio. O professor precisa ajudá-los na seleção das notícias e no ensaio da apresentação.
  • É importante dar suporte ao aluno enquanto estiver realizando a leitura. Chame a atenção para os elementos prosódicos (expressivos) e para a pontuação adequada. Isso pode ser feito depois de o aluno ouvir a gravação, para que possa reler com mais desenvoltura.

Jogral

  • Cada aluno é encarregado de ler um verso ou uma estrofe de um poema. Para isso, devem ser incentivados a ensaiar bastante e caprichar na entonação e na expressividade.

Leitura coletiva

  • Leituras em grupo são estratégias eficazes para a promoção da fluência porque os alunos estão ativamente engajados e menos apreensivos com a possibilidade de cometer um erro, o que geralmente ocorre quando realizam a leitura em voz alta sozinhos.

Diálogos

  • Os alunos devem preparar-se para ler diálogos escritos por eles ou extraídos de textos de outros autores. É uma variante do teatro.

Gravação da leitura do aluno

  • Pode-se adotar esse procedimento para que, depois da leitura, o aluno analise, com a colaboração do professor, as pausas, a pontuação e a entonação.
Trocando em miudos

Modelo de leitura fluente

  • O professor é modelo de leitura fluente e deve ler em voz alta para os alunos, muitas vezes e com grande expressividade. Mas deve preparar-se para essa leitura.
  • É fundamental expor os alunos a uma grande variedade de gêneros (poesia, crônica, contos de aventura, contos de tradição oral etc.) e a textos de boa qualidade.
  • O professor pode também fazer leituras repetidas de um mesmo texto curto, que deve ser registrado no quadro de giz. Os alunos também devem receber uma cópia dele. Após a leitura, é importante verificar se os alunos notaram seu comportamento de leitor fluente. São características da uma leitura fluente, por exemplo, a capacidade de ler várias palavras juntas em uma respiração (fraseado), a velocidade de leitura, a entonação (a ênfase a determinadas palavras ou frases), o respeito à pontuação.

Jogos

  • Os jogos listados abaixo podem ajudar na automatização:
  • Palavra dentro de palavra
  • Caça-rimas
  • Troca-letra
  • Transformando
  • Batalha de palavras
  • Palavra mágica

Para aprofundar

Leia mais sobre o assunto no artigo
“Processos cognitivos na leitura inicial:
relação entre estratégias de reconhecimento de
palavras e alfabetização”
(MONTEIRO; SOARES, 2014).

Para aprofundar

Leia mais sobre o assunto no artigo
“Processos cognitivos na leitura inicial:
relação entre estratégias de reconhecimento de
palavras e alfabetização”
(MONTEIRO; SOARES, 2014).

ENTONAÇÃO

Entonação: altura da voz e modo como se pronuncia uma frase
(com severidade, com suavidade, afirmando, perguntando...).
Tem ligação direta com a pontuação. Ouça:

PAUSAS

Recurso que confere cadência e clareza à leitura.
Pausas muito longas e sem relação com as unidades sintéticas
presentes no texto indicam falta de fluência. Ouça:

CITAÇÃO

“Quando uma frase, palavra ou trecho não parece essencial para a compreensão do texto, a ação mais inteligente que nós, os leitores, realizamos, é a de ignorá-la e continuar lendo. Isto às vezes dá resultado e de fato é uma estratégia que os leitores experientes utilizam com grande frequência; por isso, entre outras razões, sua leitura é rápida e eficaz. Mas outras vezes não funciona: se a palavra aparece repetidamente, ou se ao saltear o parágrafo problemático percebemos que nossa interpretação do texto se ressente, não podemos continuar ignorando e precisamos fazer algo mais [tentar inferir pelo contexto ou buscar o significado exato no dicionário]. Antes de nos ocuparmos do ‘algo mais’, gostaria de salientar que é muito difícil aprender a estratégia de ‘ignorar e continuar lendo’ em situações de leitura em que o erro ou a lacuna é sistematicamente corrigido, seja qual for seu valor para a compreensão geral do texto.” (SOLÉ, 2008)

EXEMPLO DE LEITURA EXPRESSIVA

EXEMPLO DE LEITURA EXPRESSIVA

EXEMPLO DE LEITURA EXPRESSIVA

EXEMPLO DE LEITURA EXPRESSIVA

EXEMPLO DE LEITURA EXPRESSIVA

Exemplo de leitura sem fluência

Exemplo de leitura sem fluência

Programa "Todos podem aprender a ler"
(na íntegra)


Nível 1 - Infográfico - Práticas de leitura na escola


Vídeo

ÁUDIO

Ouvir bons modelos de leitura e narração de histórias é uma ótima maneira de observar
a expressividade na leitura. Ouça a narração do conto “O voador”, dos Irmãos Grimm,
áudio criado pela Olimpíada de Língua Portuguesa.

ÁUDIO

Ouvir bons modelos de leitura e narração de histórias é uma ótima maneira de observar
a expressividade na leitura. Ouça a narração do conto “O voador”, dos Irmãos Grimm,
áudio criado pela Olimpíada de Língua Portuguesa.