Projeto de vida: livro organizado pelo Cenpec é aprovado no PNLD 2021

Por Stephanie Kim Abe

A obra Educação para a vida, organizada pelo CENPEC Educação em parceria com a Editora Moderna, foi aprovada para o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) 2021. O Programa é uma ação do Ministério da Educação (MEC) voltada a avaliar e disponibilizar, de forma gratuita, livros didáticos a todas as escolas públicas de Educação Básica de redes de ensino que aderiram formalmente ao Programa. Esta é a primeira obra inscrita pela instituição e aprovada para o PNLD.

O livro, escrito por Giselle Rocha, Renata Alencar, Danilo Eiji Lopes e Ana Paula Severiano, trabalha atividades e práticas que estimulam os(as) jovens a refletir sobre a sua trajetória e pensar quais caminhos futuros escolher, olhando para o seu projeto de vida. O material segue as propostas de reformulação do Novo Ensino Médio e as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Conheça aqui a obra por completo

Importância do projeto de vida

O Novo Ensino Médio (Lei nº 13.415/17) busca uma solução para o gargalo dessa etapa da Educação brasileira, na qual a evasão escolar e o número de adolescentes fora da escola refletem a preocupação com o desinteresse desses alunos pela instituição de ensino. Por isso, a proposta foca no protagonismo e na autonomia do(a) aluno(a).

“Há uma série de questões que tiram esse aluno da escola: trabalho, cuidar dos irmãos, falta de reconhecimento nas propostas da instituição. O Novo Ensino Médio propõe novos caminhos, não só de ensino das disciplinas convencionais, mas de fazer o jovem olhar para si e, a partir daí, fazer melhores escolhas. O projeto de vida entra como um guia, uma possibilidade dentro da escola de estar discutindo com o professor e os colegas sobre esses caminhos”, explica Giselle Rocha, técnica de projetos do CENPEC Educação e uma das autoras da obra.

Estrutura e conteúdo

Seguindo os parâmetros listados no edital do PNLD 2021, a obra é dividida em três capítulos: “Quem sou: o encontro comigo”, “Expansão e exploração: o encontro com o outro” e “Para onde vamos: o encontro com o nós”. Para cada atividade, há passo a passo sobre como realizá-las, assim como dicas teóricas que as contextualizam.

Capítulo 01 – Quem sou: o encontro comigo

A primeira parte trabalha o autoconhecimento, uma das competências gerais da BNCC, por meio de atividades que fazem o(a) aluno(a) reconhecer e valorizar suas características, seus desejos, sua história, seu contexto. Entre as atividades propostas, estão algumas relacionadas a autorretrato, discussões sobre selfies, escrita da sua própria narrativa, árvore genealógica etc.

“Há muitas provocações com metodologias ativas, como produção de mapa mental. Dependendo da necessidade, o professor pode trabalhar com o aluno essas novas formas de aprender, colocando-o como protagonista do seu processo de aprendizagem”, explica Giselle.

Capítulo 02 – Expansão e exploração: o encontro com o outro

No segundo capítulo, as atividades voltam-se para o território, para que os(as) estudantes conheçam o lugar onde vivem e façam uma cartografia, por meio de saídas investigativas, exploração do bairro e entrevistas com moradores(as). O tema da cidadania também aparece, a partir de uma reflexão sobre o que querem para este espaço e propostas que envolvam a criação de coletivos.

Capítulo 03 – Para onde vamos: o encontro com o nós

Por fim, o terceiro capítulo abre a janela de possibilidades para o futuro, com práticas que trabalham questões relacionadas a profissões e estudos, e caminhos para quando esses(as) estudantes saírem da escola.

“Olhamos muito para a diversidade de linguagens nos produtos que os estudantes criam. Então propomos edição das entrevistas, gravação de vídeos, desenho de mapas, produção de um portfólio para registro das atividades etc. No final deste capítulo, como apêndice, ainda sugerimos a criação de um projeto de intervenção – aos moldes do que foi proposto no programa Jovens Urbanos”, diz Giselle.

Acúmulo de experiências e projetos sobre juventudes

O Programa Jovens Urbanos foi chave para a construção da obra, sendo uma das principais experiências do CENPEC Educação com a temática das juventudes. O programa, realizado em parceria com o Itaú Social, buscava promover na perspectiva da Educação Integral, a ampliação do repertório sociocultural de jovens que vivem em territórios urbanos vulneráveis.

“Durante dez anos, o CENPEC Educação desenvolveu uma metodologia de trabalho com essa faixa etária, que foi realizada tanto com educadores de organizações sociais como em escolas estaduais da região da Grande Vitória, no Espírito Santo, e de Minas Gerais. Os jovens eram provocados a pensar na sua história de vida e viver ‘experimentações’ de diferentes linguagens (grafite, fotografia, cinema, pintura), porque acreditamos que essa possibilidade de experimentar o mundo auxiliava a escolher melhor o caminho a ser percorrido, como profissão. No final, o grupo podia fazer uma proposta de intervenção para o território, pensando em como acreditavam que poderia melhorar”, explica Giselle.

Essa preocupação com a intervenção na comunidade e com o aspecto social da proposta se reflete na obra, conforme explica Solange Petrosino, diretora acadêmica da Editora Moderna:

“É possível trabalhar um projeto de vida que olha para dentro e vê qual será o caminho para a vida, voltado apenas para o aluno. Mas o Educação para a vida tem essa perspectiva social mais ampla, porque tem um olhar para o que é melhor para o aluno, e também para o mundo”, diz.

A obra também traz a experiência em sala de aula dos demais autores(as), e inovações, pensadas a partir da junção de seus saberes acumulados.

Para Giselle, o material traduz uma das principais bandeiras da instituição: a Educação Integral e inclusiva, que significa a formação do aluno em todas as suas dimensões (emocional, intelectual, cultural etc).

A maneira como o CENPEC Educação construiu as suas práticas, nascidas no Jovens Urbanos, nos fez acreditar que esse modelo é uma forma de se alcançar a Educação Integral dos jovens. O projeto de vida, ao trazer para o centro o olhar das juventudes sobre elas mesmas, dialoga muito com tudo o que nós defendemos

Giselle Rocha, técnica de projetos do CENPEC Educação e autora da obra Educação para a Vida

Desafios para docentes

Um dos grandes desafios para se trabalhar projeto de vida na escola é que não há formação para docentes sobre o tema. Para Solange Petrosino, outra vantagem da obra Educação para a vida é justamente o fato de que leva em consideração essa ausência.

O CENPEC Educação faz um verdadeiro Manual do Professor, pensado para auxiliar esse profissional no momento das atividades. Independentemente de uma formação prévia, a obra o apoia bastante e o ajuda a implantar a proposta. Da maneira como o Manual foi muito bem estruturado, percebe-se que a instituição conhece muito sobre formação e necessidades do professor

Solange Petrosino, diretora acadêmica da Editora Moderna

Solange Petrosino também considera que o mais importante é o perfil do(a) profissional de educação que irá trabalhar a proposta na escola – seja ele(a) psicólogo(a), orientador(a) educacional, coordenador(a) e professor(a). Escuta atenciosa, mediação de conflitos e escolhas, perfil de pesquisador(a) e variado repertório cultural são algumas das características necessárias para que o projeto de vida seja discutido em toda a sua potência, garantindo que os mais variados caminhos sejam apresentados como possibilidades para os(as) estudantes.

Saiba mais sobre trabalhar projeto de vida no Ensino Médio nesta reportagem

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