Alexsandro Santos: “É preciso mobilizar o princípio da equidade em todas as decisões educacionais”

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Alexsandro Santos: “É preciso mobilizar o princípio da equidade em todas as decisões educacionais”

Doutor em Educação pela USP, o conselheiro do Cenpec fala sobre o que é preciso fazer para enfrentar as desigualdades educacionais

Por Stephanie Kim Abe

Comprometido com o enfrentamento das desigualdades educacionais e a promoção da equidade na Educação, o Cenpec tem nomes de peso em seu Conselho de Administração. Entre seus(suas) integrantes, estão pessoas com vasta experiência em gestão educacional e políticas públicas para garantir que as ações da organização estejam de acordo com o seu propósito. 

Um deles é Alexsandro Santos, atual diretor-presidente da Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo e professor do Mestrado e do Doutorado em Educação da Unicid. Ao longo de toda a sua trajetória, Alexsandro já atuou como professor, coordenador pedagógico, diretor e secretário adjunto de educação. 

Foto: arquivo pessoal

Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), Alexsandro é também pesquisador em estágio pós-doutoral junto ao Programa de Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB), e ao Programa de Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Desde o ano passado, ele integra o Programa Internacional de Fellows da Fundação Ford, iniciativa para lideranças globais pela equidade.

Em breve entrevista para o Portal Cenpec, Alexsandro fala sobre a importância de compreender e enfrentar as desigualdades educacionais para que o direito à educação de qualidade de todas e todos seja garantido. O especialista comenta também a atuação do Cenpec na defesa desse direito. Confira!


Portal Cenpec: Qual a importância de entender as desigualdades educacionais no contexto atual de pandemia?

Alexsandro Santos: Em primeiro lugar, as desigualdades educacionais são uma das distorções do abismo social que o Brasil construiu ao longo da sua história. Então compreender e enfrentar as desigualdades educacionais é uma forma de a gente corrigir o projeto de sociedade desigual que a gente desenhou no passado. A pandemia fez com que a gente enxergasse com mais crueza e dramaticidade o peso das desigualdades estruturais na oferta do direito à educação.

Se antes a gente já tinha compromisso com o enfrentamento das desigualdades educacionais por causa dessa dívida histórica acumulada, agora enfrentá-las ficou mais urgente e incontornável, porque a gente pode estar perdendo duas gerações de brasileiros e brasileiras por causa do peso acentuado das desigualdades na pandemia.

Portal Cenpec: Quais estratégias podemos lançar mão para enfrentar as desigualdades na educação e promover a equidade?

Alexsandro Santos: Eu penso que são quatro campos prioritários de ação. O primeiro é trabalharmos insistentemente na formação de professores(as), mas também de gestores(as) educacionais, para que sejam capazes de compreender essas desigualdades e saibam como agir para corrigi-las no nível da sala de aula, da gestão escolar e dos sistemas de ensino. Então é preciso reforçar nossas estratégias de formação e que elas dialoguem com os desafios da prática.

O segundo campo tem a ver com a redistribuição das oportunidades educacionais com base no princípio da equidade. Os dados da Prova Brasil comprovam que, mesmo quando estudam na mesma sala de aula, com o(a) mesmo(a) professor(a), as crianças negras aprendem menos. Então a gente tem que pensar como corrigir as diferenças de aprendizagem do grupo populacional negro (crianças pretas e pardas) e não negro.

Por exemplo, desenhar um modo de financiamento da educação que distribua mais recursos para as escolas que mais precisam ou um modelo de distribuição das vagas no ensino médio técnico nos institutos federais e no ensino superior que reconheça que a equidade tem que vir na frente. É preciso mobilizar esse princípio em todas as decisões educacionais.

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No terceiro campo está a necessidade de o Brasil se comprometer a investir mais na educação. A gente tem que aumentar o investimento, porque gastamos menos do que deveríamos, e também qualificar esse gasto. Temos que gastar com aquilo que importa, de forma correta, evitando desperdício e combatendo a corrupção. 

O último item – e talvez o mais relevante para o cenário atual – é fazer política educacional numa perspectiva de intersetorialidade. Não conseguiremos enfrentar essas desigualdades tão densas que temos hoje se só atuarmos no campo da política educacional. Ela precisa dialogar com a política de assistência social, com a de saúde, de habitação, de economia etc. 

Portal Cenpec: Qual a importância de ter uma perspectiva de educação integral e inclusiva ao trabalhar o enfrentamento das desigualdades educacionais?

Alexsandro Santos: A ideia de “educação inclusiva” é um pleonasmo, porque uma educação que não é inclusiva não é educação. Mas, dado o cenário que a gente vive, de forças políticas e interesses sobre o sistema educacional que tem pautado um retrocesso nessa agenda e proposto caminhos de segregação e exclusão, é muito importante que organizações como o Cenpec façam esse posicionamento em defesa radical dessa concepção inclusiva de educação.

O mesmo vale para a educação integral. Eu costumo dizer que não existe uma educação séria que não seja uma educação integral. Uma educação que não tem o compromisso com a integralidade do sujeito não é educação – é farsa. Isso também parecia óbvio para todo mundo, mas cá estamos voltando a defendê-la. Então se a gente considera que cada criança, cada adolescente, cada jovem, é um ser complexo, multidimensional e integral, então a educação que será oferecida a eles(as) também precisa ser integral. 

Portal Cenpec: Como o Cenpec tem contribuído para a construção de uma educação de qualidade com equidade?

Alexsandro Santos: O Cenpec tem atuado nos quatro campos prioritários que eu citei acima, seja diretamente, seja fazendo advocacy e convencendo a todos os públicos relevantes sobre a importância de determinadas pautas. 

Além disso, o Cenpec tem uma produção de conhecimento e um trabalho de formação muito relevantes. A organização sabe sair de um campo de formação exclusivamente teórico e ir para um campo de formação que ajuda a compreender os dilemas práticos da realidade socioeducativa. Também tem feito experiências exitosas de formação de secretários(as) de educação, para que eles(as) fiquem atentos(as) às questões de financiamento. E com o olhar sempre voltado para a educação integral, o Cenpec ainda vai além dos(as) profissionais de educação e também dialoga com a sociedade.

Em seus mais de 30 anos, o Cenpec ajudou a construir uma série de políticas educacionais, sempre em diálogo com a sociedade e se posicionando ao lado das escolas públicas e das pessoas que mais precisam.

A organização tem uma importância enorme como guardião dessa memória de lutas da história da educação pública de qualidade no Brasil, e por isso o Cenpec é uma instituição tão relevante.

Saiba mais sobre como o Cenpec atua para promover a equidade na educação


Desigualdades educacionais em foco: dia 16/9, às 14h

Crianças sorrindo

Para discutir e compreender as desigualdades que limitam o acesso à e a permanência na escola, o Cenpec promove o evento on-line Desigualdades educacionais em foco na próxima quinta-feira (dia 16/09), às 14h. Na ocasião, será lançado o Painel de desigualdades educacionais no Brasil, produzido pela organização.

Interativo, o Painel traz uma série de dados e análises sobre as condições de trabalho dos(as) professores(as) e os contextos de desigualdades vivenciados por estudantes, escolas e territórios brasileiros. A ideia é democratizar a informação sobre as principais barreiras educacionais do país. O Painel também dedicará um espaço colaborativo para a criação de uma rede pela equidade na educação, que agregará informações sobre iniciativas comprometidas com o enfrentamento desse cenário. 

O evento terá a participação de Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da educação e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); Petronilha Silva, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e especialista em educação e relações étnico-raciais; Maria Alice Setubal, fundadora do Cenpec e integrante do Conselho de Administração; Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec; e Romualdo Portela, diretor de Pesquisa e Avaliação do Cenpec.

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