Artigo de Claudia Lemos Vóvio e Maria José Nóbrega publicado originalmente em 2015 na Plataforma do Letramento
Claudia Lemos Vóvio e Maria José Nóbrega
Letramento é um conceito que diz respeito ao conjunto de práticas de uso da linguagem escrita numa dada sociedade ou contexto; “um conjunto de práticas sociais, observáveis em eventos que são mediados por textos escritos” (HAMILTON e BARTON, 2000). Trata-se de um processo que tem início quando se começa a conviver com as diferentes manifestações da língua escrita na sociedade e se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade de participação em variadas práticas nas quais se faz necessário agir por meio da e com base na palavra escrita.
Essas práticas de letramento, nas quais a língua escrita tem um papel crucial, são muito variadas. Se pararmos para refletir sobre o que as pessoas fazem com essa modalidade da língua, podemos concluir que diferentes sociedades e grupos sociais que as compõem desenvolvem diversas formas de letramento, isto é, criam maneiras de usá-la, atribuem significados culturais de acordo com seu modo de vida, seus padrões culturais, costumes e necessidades.
Nas sociedades contemporâneas, nas quais grande parte das atividades que realizamos não depende unicamente da fala e do contato face a face, a língua escrita está presente em boa parte das interações e seu uso efetivo exige das pessoas o emprego de capacidades diversas e a mobilização de saberes variados. Designamos de grafocêntricas as sociedades nas quais a escrita constitui grande parte das relações sociais, ordena e regula a vida e condiciona o desenvolvimento, a construção e circulação de conhecimentos.
Com os jovens, alfabetizados ou não, isso não é diferente, porque, vivendo em sociedades em que a escrita tem tal centralidade, encontram-se enredados a outras pessoas, grupos e instituições e em contato com diversos discursos e práticas sociais, lidando como diferentes exigências sociais de acordo com o ciclo de vida em que se encontram.
Jovens e adolescentes encontram-se num ciclo de vida caracterizado como momento de experimentação, emancipação e de construção identitária, na condição de sujeitos em integração na sociedade, ainda que se trate de um processo reconhecidamente tenso e difuso. Uma característica desse ciclo é a necessária integração entre experiências passadas com perspectivas futuras, o que está fortemente articulado às condições sociais e de vida desses sujeitos. Esse processo interfere na possibilidade construir e concretizar projetos de futuro, podendo favorecê-los ou criar obstáculos difíceis de ser superados. Temos em mente práticas e experiências de e com base na escrita que atuam ao longo desse processo, potencializando-as, uma vez que se constituem em situações nas quais falar, escutar, ler e escrever se coadunam para (re)construir significados sobre a própria existência, para olhar adiante, atribuir sentidos à ação, escolher uma direção, criar cenários e construir visões estratégicas para um momento próximo.
Para jovens e adolescentes, as Artes, a Música e a Literatura, articuladas à oralidade, à leitura, à produção de textos e a múltiplas linguagens para além da modalidade oral e escrita, colaboram para identificar campos de possibilidades e associam-se à construção de projetos de vida…
Democratizar a escrita e seus usos tem sido uma meta almejada, tanto pelos benefícios atribuídos a esses usos e ao acesso a certas produções culturais escritas, em nível individual e social, como pela exigência democrática de igualdade. Na mesma medida, formar usuários autônomos e reflexivos da língua escrita é algo desejado a todos. Os cenários de desigualdade socioeconômica e educacional mostram as dificuldades de distribuir igualmente oportunidades de usufruto desses bens culturais para enormes contingentes populacionais em todo mundo e, especificamente, para muitos jovens e adolescentes das camadas populares no Brasil. Para Marcuschi (2007, p. 36):
A escrita é sem dúvida um bem inestimável para o avanço do conhecimento, mas ainda não se acha tão bem distribuída na sociedade a ponto de todos poderem usufruir de suas decantadas vantagens.”
Ampliar o repertório de práticas letradas “implica saber como funcionam os textos nas diversas práticas socioculturais” (KLEIMAN, 2002, p. 31). Essa ampliação pode colaborar para que as pessoas transitem com familiaridade entre diversas práticas culturais e em diferentes instituições, conscientes de seus papéis, possibilidades e modalidades de ação. Especificamente para jovens e adolescentes, as Artes, a Música e a Literatura, articuladas à oralidade, à leitura, à produção de textos e a múltiplas linguagens para além da modalidade oral e escrita, colaboram para identificar campos de possibilidades e associam-se à construção de projetos de vida, de um futuro desejado.
Tais situações relacionam-se com a palavra escrita e a extrapolam. Nelas jovens e adolescentes podem constituir comunidades de práticas, um grupo que compartilha uma preocupação, um conjunto de interesses ou paixões, que buscam apropriar-se de variados saberes, desenvolvem capacidades e atitudes, cultivam gostos e valores, constroem conhecimentos por meio de compartilhamento e de interação com o outro. Essas experiências estão integralmente conectadas às identidades e à consciência que se tem de si mesmo, porque implicam transformações nas formas de interação, em valores e gostos e de modelos de ação para agir no mundo.
A seleção dessas práticas implica compreender quais se mostram relevantes para adolescentes e jovens, quais experiências de participação na e com base na língua escrita são potentes para seus projetos de futuro, para democratizar o acesso a produções culturais que se distribuem de modo tão desigual em nossa sociedade. Criar ambientes para falar, escutar, ler, compreender e escrever, e ampliar as oportunidades de participação envolve também pensar em sua composição e organização, possibilitando aos sujeitos efetivamente participarem, constituindo-se em um espaço aberto ao diálogo e à mobilização de recursos materiais e de infraestrutura necessários para executar uma atividade.
Os ambientes geradores de usos da escrita abarcam tanto as vias de acesso, as relações com os outros participantes, com os textos, conhecimentos, propósitos e funções sociais próprias dessas situações, bem como os modos como cada um se apropria de práticas letradas, de suas formas, temas e procedimentos importantes para agir ou que se aprendem ao fazê-los. A constituição de ambientes propícios para ampliar o letramento de adolescentes e jovens também diz respeito à interação ali desenvolvidas, as quais devem favorecer a colaboração, o intercâmbio e a produção de conhecimentos entre os envolvidos na situação de aprendizagem.
Referências: BARTON, D.; HAMILTON, M.; IVANIC, R. Situated literacies: reading and writing in context. Londres: Routlege, 2000. KLEIMAN, A. B. Contribuições teóricas para o desenvolvimento do leitor: teorias de leitura e ensino. In: RÖSING, T. M. K.; BECKER, P. (Orgs.). Leitura e animação cultural: repensando a escola e a biblioteca. Passo Fundo: UPF, 2002, p. 49-68. KALMAN, J. (2004). El studio de la comunidad como un espacio para leer y escribir. Revista Brasileira de Educação, maio/jun/jul/ago 2004, n. 26. Campinas: Autores Associados, 2004. p. 5-28. MARCUSCHI, L. A. A oralidade e letramento. In: ______. Da fala para a escrita: atividade de retextualização. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2007. Cap. 1, p. 15-43.
Especialista em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP), tem larga experiência em alfabetização e letramento. Professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), colaboradora do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da ONG Ação Educativa e coautora do livro Viver, aprender: educação de jovens e adultos (vencedor do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (CBL), em 2006, na categoria Material Didático).
Mestre em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). Tem larga experiência como professora de Língua Portuguesa e como assessora em programas de formação continuada. É professora do curso de pós-graduação “Formação de escritores e especialistas em produção de textos literários”, do Instituto Superior de Educação (ISE) Vera Cruz, em São Paulo (SP). Assessora o Programa Leitores em Rede (ed. Moderna) e as revistas Carta na Escola e Carta Fundamental (ed. Confiança).
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