O Hip Hop na educação

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O Hip Hop na educação

Saiba mais sobre a história do movimento e confira entrevista com o arte-educador e rapper P.MC sobre como relaciona o rap ao letramento de crianças. Entrevista publicada originalmente em 2013 na Plataforma do Letramento

Por Tamara Castro

“Problema com escola eu tenho mil, mil fita
Inacreditável, mas seu filho me imita
No meio de vocês ele é o mais esperto
Ginga e fala gíria; gíria não, dialeto”

Racionais MC’s, Negro Drama

Nascido na década de 1970, o Hip Hop é um movimento artístico e social criado entre comunidades afro-latino-americanas de Nova York, nos Estados Unidos. Em contexto social marcado por racismo, exclusão social e, violência, as ruas eram espaço de formação, afirmação e expressão, além de ser a única possibilidade de lazer para essa juventude.

hip (inglês): “o que está na moda, acontecendo agora”
+ hop: movimento de dança

Encontrando na música (DJing), poesia (rap), dança (break) e pintura (graffiti) formas de protesto, denúncia e reflexão sobre sua realidade, essa juventude desenvolveu uma cultura que se popularizou e se espalhou por todo o mundo, tornando-se um importante caminho de conscientização e transformação social.

Foto: reprodução

Afrika Bambaataa

Um dos grandes nomes da cultura Hip Hop é Afrika Bambaataa, pseudônimo de Lance Taylor, DJ do Bronx. Líder da banda Zulu Nation, Bambaataa criou as bases artísticas e técnicas e artísticas do rap.
Afrika Bambaataa também criou a ONG Zulu Nation, que buscava inclusão dos jovens, oferecendo palestras e aulas sobre matemática, economia, ciências, prevenção de doenças e outros. A ideia da Zulu Nation era mudar o comportamento violento e autodestrutivo das gangues que dominavam a periferia de Nova York, valorizando a educação, o diálogo, a igualdade, a justiça e a paz.

Hip Hop no Brasil

A cultura Hip Hop chegou ao Brasil por meio da break dance, que ganhou as ruas do centro de São Paulo, onde os artistas faziam performances para quem passasse. O primeiro disco do movimento em nosso país é o álbum Cultura de Rua (1988), que teve participação de vários rappers, entre eles Thaíde e Dj Hum.

Desde então, o hip hop brasileiro vem crescendo e formando gerações, trazendo a periferia para o centro do debate com pautas que denunciam as desigualdades sociais, o racismo, a violência policial, entre outras mazelas que fazem parte do cotidiano dessas populações, especialmente da juventude.

“O hip hop me educou e me ajudou a ser o que eu sou. Através do hip hop que eu fui estudar história. Através do hip hop que eu aceitei meu cabelo, meu corpo, minha resistência. O racismo está muito longe de acabar.”

Preta Rara, rapper paulistana

Hip hop, arte e educação: entrevista com P.MC

P.MC. Foto: reprodução

José Paulo, 47, mais conhecido como P.MC ou Mestre P, é MC (mestre de cerimônias no Hip Hop) e arte-educador. Trabalhando com crianças e adolescentes em desde os anos 1990, atuou no Projeto Educação com Arte, parceria entre o Cenpec e a Fundação CASA, em São Paulo. Sua trajetória na educação, no entanto, começou antes, na década de 1980, momento em que se construíram as bases do Hip Hop nacional.

Natural de Juiz de Fora (MG), Pê era bom aluno, principalmente em Língua Portuguesa. Gostava da escola, mas sua paixão sempre foi a música. Desde menino, se empolgava com as batucadas de escolas de samba, os cantos de Folia de Reis, as rodas de calango mineiro, entre outras manifestações culturais de nosso país.

Capa: CD Pé de Palavra

Nos anos 1980, Pê e seu amigo de infância Vander descobriram o movimento Hip Hop. E foi assim que Vander virou DJ Dehco Wanlu e José Paulo se tornou P.MC (ou Mestre Pê). Após diversas experimentações nesse universo, Pê voltou a estudar e se graduou em Pedagogia.

Na faculdade, o artista teve a ideia de utilizar o rap (sigla para “ritmo e poesia”, em inglês) – um dos elementos constitutivos do movimento – no ensino e aprendizagem da leitura e da escrita em escolas. Dessa maneira, ao lado de Vander, Pê criou o Pé de Palavra, projeto em que trabalha a linguagem do Hip Hop com crianças e adolescentes de escolas públicas da cidade de São Paulo. 


🎤 A seguir, José Paulo fala como surgiu o Hip Hop, a relação do movimento com a escola e como o rap pode estimular o gosto pela leitura e pela escrita em crianças e adolescentes. 

(Áudio: locução e edição de Ralph Izumi para a Plataforma do Letramento em 2013)

Primeiro bloco – entrevista com P.MC

“Se a escola abrir as portas pra cultura Hip Hop, estará abrindo as portas pra comunidade. É importante se despir de preconceitos e se abrir para a arte do Hip Hop”, afirma P.MC.

“Trabalhar com rimas colabora com a oralidade, com a dicção, com o diálogo com o outro: con-versar, versar com o outro”, explica o rapper.

Segundo bloco – entrevista com P.MC

🎶 É hora de brincar!

Assista ao clipe e entre no ritmo do Pé de Palavra:

Acesse o canal Pé de Palavra no Youtube.

Letramentos e culturas juvenis

Foto: reprodução

… cabe à escola propiciar aos jovens a possibilidade de experimentarem diferentes formas de ser jovem e estudante, que estão profundamente atreladas às chamadas culturas juvenis: articulações que os jovens estabelecem com base na produção cultural de massa, com a elaboração de estilos distintivos e a articulação de práticas sociais em grupo ou em rede que se expande pelo espaço urbano.”

Alexandre Barbosa Pereira (Unifesp)

Leia o artigo na íntegra.

Racionais: Das Ruas de São Paulo pro mundo

Da esquerda para a direita: Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay. Foto: reprodução

Racionais MC’s é o maior grupo brasileiro de rap. Fundado em 1988, é formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. Suas letras denunciam a perseguição e a violência que jovens negras(os) e pobres das periferias brasileiras sofrem, fruto do racismo e da exclusão social.

Inicialmente conhecido apenas na capital paulista, o grupo ganhou repercussão nacional e internacional com álbuns como Raio X Brasil (1993), Sobrevivendo no inferno (1997) e Nada como um dia após o outro dia (2002).

O documentário Racionais: Das Ruas de São Paulo pro mundo, dirigido por Juliana Vicente e lançado na Netflix em 16 de novembro, conta a história do grupo e a influência do movimento negro para o despertar da consciência social presente em suas composições.

O tipo de racismo que se vive no Brasil é o racismo que esvaziou o preto. Ele não deixou nem o ódio. Porque o ódio é um sentimento útil numa guerra. Uma coisa é você ter revolta. Outra coisa é você não ter nada.”

Mano Brown

Mês do Hip Hop em São Paulo

Realização da Cultura Hip Hop da cidade de São Paulo, o Mês dp Hip Hop é uma parceria da sociedade civil com a Secretaria Municipal de Cultura, a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. O objetivo é fomentar artistas e coletivos interessados em realizar vivências e apresentações artísticas ligadas aos elementos do Hip Hop.

Acompanhe a programação no Instagram.

Meninos de palavra

Documentário realizado pela Plataforma do Letramento (Cenpec) mostra o trabalho das oficinas de arte e cultura com adolescentes em privação de liberdade. O enfoque são as ações de letramento presentes nas oficinas do Projeto Educação com Arte (Cenpec/Fundação Casa). Entre as linguagens estão o rap, a dança de rua e a capoeira.

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