Eu e minhas escolhas

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Eu e minhas escolhas

Autoria: Pró-menino e Instituto Fonte
O que é?

Elaboração de diferentes histórias de vida, a partir de quadros sugestivos que expressam situações do universo de adolescentes e jovens, particularmente dos mais vulneráveis.

Materiais

•  Barbante para varal.
•  Pregadores.
•  Baú de adereços.
•  Conjunto de figuras do material “Quadros”. (Baixe o material aqui.)
• Apostila (1 por grupo) com as imagens impressas em tamanhos menores, com a respectiva numeração, disponível nas páginas de 112 a 116 do livro Vozes e olhares – uma geração nas cidades em conflito. (Baixe o livro aqui.)

Finalidade

Exercitar escolhas e estimar as possíveis decorrências delas; compreender o que leva as pessoas a diferentes escolhas; valorizar e respeitar a vida de todos.

Expectativa

Desenvolver a reflexão sobre as escolhas, avaliando antecipadamente as consequências para si e para os outros.

Público

Adolescentes e jovens

Local

Sala de aula, sala de leitura ou biblioteca

Duração

1 a 3 encontros de 1h30

Na prática

Sugestão de encaminhamento

Antes de começar a oficina, é importante você conhecer um pouco de QUADROS. É um material que foi elaborado, inicialmente, pelo Instituto Fonte, no contexto da avaliação do Programa Pró-menino: Jovens em Conflito com a Lei, da Fundação Telefônica, após sete anos de vigência. Quatro municípios foram envolvidos nessa pesquisa.

O material é composto por 27 quadros que apresentam situações do universo desses adolescentes, que podem ser tratadas com diferentes significados por eles.

O objetivo do material, na avaliação do programa, era facilitar o diálogo entre educadores e adolescentes que cumpriram medida socioeducativa em meio aberto (liberdade assistida ou prestação de serviços à comunidade), para trazer à tona situações marcantes da trajetória de suas vidas que poderiam oferecer subsídios importantes para a pesquisa.

No entanto, o material, ao ser usado em várias outras situações socioeducativas, revelou-se totalmente adequado para o trabalho educacional com jovens em situação de risco ou vulnerabilidade social, quer seja nas escolas quer seja nas organizações socioeducativas da sociedade civil. A possibilidade de extrapolar o público para o qual foi criado conferiu a ele o Prêmio Fundação Banco do Brasil, de Tecnologia Social, em 2009.

Assista ao vídeo abaixo, em que a equipe coordenadora
do projeto apresenta o método e a proposta pedagógica de Quadros no Instituto Fontes, por ocasião da conquista do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, 2009.

Você pode também consultar o livro Vozes e olhares que apresenta o método Quadros, a proposta pedagógica e os dados da pesquisa avaliativa realizada pelo Instituto Fontes  – Vozes e Olhares. Instituto Fontes.

1º encontro: O que escolho?

Para receber os adolescentes e jovens, prepare a sala de atividades com alguns varais de barbante nos quais estarão penduradas as figuras de Quadros.

Ao entrarem na sala, oriente que circulem e observem as figuras. Após o tempo de circulação, forme a roda inicial do dia e comente que o tema da oficina são as escolhas que fazemos em nossas vidas.

Sempre fazemos escolhas diante do que a vida nos oferece e do que queremos dela, desde as pequenas coisas do dia a dia, como comer banana de manhã, fazer um determinado caminho para a escola, usar um amuleto, até aquelas escolhas mais marcantes, que definem a nossa profissão, o nosso jeito de ser na família e na sociedade, que definem a nossa vida, enfim. É verdade que nem sempre temos no cardápio o que gostaríamos de ter para escolher e isso por vários motivos: econômicos, sociais, culturais. Há muitas coisas que precisam ser transformadas em nossa sociedade para que todos tenham as mesmas oportunidades de escolha. Ainda estamos longe de ser uma sociedade mais igualitária quanto às oportunidades oferecidas às pessoas. Uma de nossas escolhas pode ser, inclusive, querer exatamente transformar essa realidade.

No entanto, dentro do escopo de nossas experiências de vida, fazemos escolhas. Até não sair do lugar é fruto de uma escolha, consciente ou não. E, toda escolha, qualquer que seja ela, traz consequências. Pode trazer ganhos ou perdas, mudanças ou permanências, ser construtiva ou destrutiva. Quanto mais consciência a pessoa tiver do que pode advir das escolhas que fará (alegria, dinheiro, prazer, responsabilidade, risco, etc.) mais estará preparada para tomar uma decisão.

Às vezes, tomar uma decisão não é fácil, sendo necessária a ajuda de pessoas que entendam do assunto em questão, para tomarmos as decisões mais apropriadas ao que desejamos.

A proposta tem como objetivo levar os estudantes a exercitarem a escolha consciente, com base em situações que acontecem na vida dos adolescentes e jovens, algumas delas mais frequentemente do que imaginamos. As figuras de Quadros dão a oportunidade de desencadear diálogos entre adolescentes e educadores, que podem acolher histórias e sentimentos difíceis de eles expressarem em situações comuns de conversa. É muito importante trabalhar essas histórias e sentimentos na formação de adolescentes e jovens, por meio do diálogo e da reflexão, sem moralismos ou constrangimentos.
Para favorecer a possibilidade de conteúdos não convencionais ou escolares virem à tona, porém sem caracterizar pessoalmente as questões que surgirem, os estudantes criarão histórias fictícias, as quais serão base para o diálogo entre a turma e o educador.

Organize grupos de quatro ou cinco participantes. A tarefa será construir duas histórias com o mesmo tema e os mesmos personagens centrais, mas com diferentes desenvolvimentos e desfechos. A cada composição das figuras, os adolescentes e jovens lidarão com novas situações de vida e escolhas.
Veja a dinâmica da criação da história:

Num primeiro momento, todos os estudantes circularão pelos varais e cada participante escolherá um quadro que lhe toque mais e anotará o seu número para levar ao grupo.
Distribua, a seguir, as apostilas com as 27 imagens numeradas e impressas em tamanho menor, uma por grupo, para que cada participante possa identificar o quadro escolhido por ele, quando circulou pelos varais.
Alguém do grupo, que se voluntariar, começa então uma história coletiva, com os personagens do quadro escolhido, mostrando-o aos colegas.
Uma fala puxa outra. A seguir, outro participante dará continuidade à história iniciada pelo colega anterior, com base nas imagens do seu quadro e assim por diante, até que todos os quadros escolhidos pelos participantes do grupo tenham sido contemplados na história do grupo. Essa atividade de criação de histórias levará aproximadamente 20 minutos.

E se?
Se o educador preferir e achar mais prático ou mais atrativo, poderá fazer vários kits com os 27 quadros avulsos, no seu tamanho original, e distribuir um kit por grupo.
Nesse caso, os estudantes primeiro circulam pelos varais e, voltando ao grupo, procuram o quadro escolhido por ele, entre os 27 quadros do kit do grupo.
Da mesma forma que no exemplo anterior, alguém se voluntaria para começar a história a ser criada coletivamente, dispondo o seu quadro na roda, como a primeira cena de uma história em quadrinhos. Outro participante qualquer continua a história, expondo o seu quadro ao lado do primeiro, formando o segundo quadrinho da história e assim por diante até que todos exponham o seus quadros e tenham participado da criação da história.
Circule pelos grupos e, conforme observar que os participantes estão finalizando a primeira história, peça para contarem-na para você. Então problematize com o grupo que essa foi uma história possível. Haveria outras? Que outras possibilidades de desenvolvimento e desfecho poderia o grupo dar à história produzida, com esses mesmos personagens? Poderiam refletir um pouco e tentar outro caminho e fim?
Oriente que para construir a nova história eles poderão retirar um ou mais quadros da história anterior, trocar ou incluir outros (aproximadamente 20 minutos).

E se?
Se perguntarem que desfecho eles devem dar para essa segunda história, diga que a escolha é deles, não interfira na decisão.

Finalizada a segunda produção, o grupo deverá pensar como apresentá-la para a turma, no próximo encontro, em outra linguagem. Exemplos: peça teatral, rap, música, poesia, dança, repente, haicai, cena muda, etc. Dessa forma, o restante da oficina será para ensaiarem a representação.

2º encontro: Compartilhando as escolhas.

Neste encontro, os grupos socializarão entre si e debaterão as escolhas feitas dos quadros e das histórias produzidas por eles. Os varais deverão ficar vazios para cada grupo expor neles os quadros que deram origem às histórias produzidas.

Alguns estudantes farão a filmagem das apresentações para que os grupos possam se ver depois.

Inicialmente, cada grupo representará a segunda história produzida, por meio da linguagem escolhida e, após a representação, contará à turma como chegou a ela:

  • qual foi a primeira história produzida (colocará os quadros no varal, para que os demais grupos vejam a sequência dos quadros e possam acompanhá-la);
  • quais foram as transformações que os participantes realizaram ao produzir a segunda história, remontando, no varal, os quadros que compuseram essa segunda produção.

Após cada apresentação em grupo, promova um debate geral, investigando se entenderam o que cada grupo produziu e instigando a reflexão sobre as escolhas dos personagens das duas histórias, por meio de perguntas como: das duas histórias, que escolhas foram mais favoráveis aos personagens? Por quê? E quais foram as mais desfavoráveis? Por quê? Haveria outras escolhas possíveis além das que o grupo apresentou? Quais? Os personagens tinham consciência do que queriam? O que acharam do desenrolar das histórias? E dos desfechos dados?

Fique atento/a às manifestações dos adolescentes e jovens e faça as mediações necessárias para que haja respeito entre todos, durante o diálogo, questionando atitudes agressivas ou pejorativas.

Para finalizar, projete as gravações das apresentações num telão para os grupos se verem e a turma ter oportunidade de rever as diferentes histórias e escolhas realizadas.

E se?
Se perceber algum constrangimento ou desconforto por parte de algum deles, não comente nada em grupo. Procure-o depois da atividade para conversar, isoladamente da turma, e averiguar se há algo que mereça uma atenção mais cuidadosa dos educadores ou da família e discuta na instituição. Em alguns casos, é importante buscar ajuda na parceria do CRAS mais próximo (Centro de Referência de Assistência Social).

Agora é com você: o que mudaria no desenvolvimento da atividade?

Hora de avaliar

Na roda final do dia, peça que avaliem a oficina. Comece no coletivo, perguntando sobre o processo de construção das histórias: o que provocou, pessoalmente, a escolha dos quadros: que sentimentos, que pensamentos? Como cada um compatibilizou o seu quadro com o do colega, para dar continuidade à história do grupo? Esse processo foi tranquilo ou houve impasses? Se houve, como eles foram resolvidos? E, ao mudarem a história, houve negociação entre os participantes? O que os motivou a adotar o novo enredo e o novo desfecho?

Peça que conversem entre si, nos grupos, e escolham um dos 27 quadros expostos nos varais para expressar sua avaliação sobre a oficina, justificando-a para o coletivo da turma.

O que mais pode ser feito?

  • Com base na oficina, os adolescentes poderão organizar um debate, com a ajuda dos educadores, para discutir as situações de vulnerabilidade social de adolescentes e jovens no Brasil e a proposição de projetos que instituem a maioridade penal a partir de 16 anos, em contraposição ao que dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente. Para adensar a discussão, poderão convidar algum juiz e/ou promotor da vara da infância e juventude e representantes de entidades que defendem os direitos das crianças e dos adolescentes como o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e o Conselho Tutelar.
  • Produzir lambe-lambes com algumas frases emitidas nesse debate ou em leituras afins, como as indicadas abaixo, e espalhar pela escola ou organização.
    1. Pesquisa traz dados reveladores sobre o que pensam crianças e jovens de SP (IRBEM Criança e Adolescente – GT da Criança Adolescente da Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ibope Inteligência).
    2. Comissão de Justiça e Cidadania do Senado tenta aprovar PEC da redução da maioridade penal sem debate com a sociedade.

Agora é com você: o que mais faria?