APC aborda uso de rádio e vídeo no ensino remoto

-

APC aborda uso de rádio e vídeo no ensino remoto

Formação em rádio e vídeo será foco do último tópico do módulo de Planejamento do Programa Apoio Pedagógico Complementar

O último tópico do módulo de Planejamento do Programa Melhoria da Educação: Apoio Pedagógico Complementar, realizado a distância, apresentará algumas técnicas e possibilidades do ensino remoto realizado por meio do vídeo ou do rádio – que atende, sobretudo, as regiões com menos acesso à internet.

A formação, que acontecerá entre agosto e setembro, será apresentada pelo educomunicador Carlos Lima. Durante esse percurso, serão abertas vagas específicas para os professores das redes do COGIVA no curso Comunicação Digital para Educadores (Itaú Social/CENPEC Educação).

Carlos Lima. Foto: reprodução
Carlos Lima. Foto: reprodução

Carlos integra a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, onde coordena o núcleo de educomunicação. Entre os projetos de que participou, ele cita o Educom.rádio e o Imprensa Jovem, que funciona como uma agência de notícias feitas pelos alunos para sua comunidade.

O educador conta que, atualmente, desenvolve propostas de educomunicação em diversas mídias em uma rede de mais de 400 escolas de educação infantil, ensino fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Incluir as linguagens da comunicação na escola possibilita ao estudante criar seus produtos e compartilhá-los com sua comunidade, fazendo, inclusive, uma intervenção social nesse local.”

Carlos Lima

 Na entrevista a seguir, Carlos conta um pouco das possibilidades do rádio e do audiovisual para a educação em geral e, em especial, neste momento de pandemia e ensino remoto.


Portal CENPEC: Quais as possibilidades do rádio na educação? Em que contextos ele pode ser um bom aliado do ensino remoto?

Carlos Lima: O rádio é um veículo democrático, porque promove a participação das pessoas e é uma tecnologia de simples implementação. Ele também tem o poder de chegar a todos os lugares do planeta, seja por uma rádio comunitária, um rádio poste, ou por meio de projetos liderados pelos estudantes, como as rádio-escolas. Esse meio de comunicação trabalha com transmissão de ondas eletromagnéticas, que chegam ao radinho de pilha, ao rádio do carro, o da casa da família ou mesmo no celular (que não precisa de internet para acessar o rádio). Por isso, ele passa a ser um recurso altamente importante, dada sua capacidade de inclusão social pelo fácil acesso.

Com as novas tecnologias ficou muito fácil produzir um programa de rádio usando aplicativos simples. Você cria, customiza e compartilha seu programa por meio de plataformas de mensagens, como o WhatsApp, ou pelas redes sociais. Além disso, o rádio na educação remota possibilita conversas: conseguimos falar sobre educação e fazer com que os conteúdos das aulas cheguem até a casa dos estudantes.

A formação para o uso deste recurso é muito rápida, valoriza os conhecimentos que os professores já têm para usar o celular, por exemplo, para que eles possam criar suas aulas e viabilizar a chegada desse conhecimento aos estudantes.

Portal CENPEC: Além do acesso dos estudantes, existem conteúdos e formatos de aula remota que se adaptam melhor ao rádio ou ao vídeo? Quando preferir um meio ao outro?

Carlos Lima: Tanto o rádio quando o vídeo (que une som e imagem ampliando a capacidade de contextualização das informações) facilitam muito a socialização do conhecimento com os alunos. Para isso, o professor deve usar uma linguagem simples e direta, que facilite a concentração dos estudantes. Mesmo o texto deve seguir esse formato: informar o que é mais importante e de forma clara.

As próprias redes sociais nos ensinam como devemos conversar com as pessoas: evitando a prolixidade, utilizando fotos e textos para compor uma forma de conteúdo que seja extremamente acessível e interativa.

Com um pouco de criatividade, podemos ousar, abrir possibilidades de diálogo do estudante com o conhecimento, gerar curiosidade sobre o tema. Esses diversos formatos podem ser todos aliados do ensino remoto, cada um com seu papel.

Portal CENPEC: A maior dificuldade dos professores para utilizar esses novos formatos está na falta de domínio das ferramentas técnicas ou na adequação da linguagem à mídia? Pode falar brevemente sobre como o curso abordará esses temas?

Carlos Lima: Em geral, os professores apresentam mais dificuldade para dominar as ferramentas. No entanto, se é verdade que para viabilizar o processo precisamos usar um canal de comunicação, há algo que não encontraremos nas tecnologias, nas ferramentas e técnicas: o olhar do professor para o estudante, um olhar com empatia e que pensa sobre seus objetivos concretos ao utilizar um recurso.

A comunicação é a parte mais importante da tecnologia, não o contrário. Quando pensamos assim conseguimos dar um passo à frente. Talvez o mais relevante seja olhar a educação para a comunicação como uma possibilidade e, a partir daí, quebrar um pouco dessas resistências. A educomunicação ajuda muito nesse processo, neste momento de pandemia e educação remota, híbrida, ou mesmo na presencial.

Na oficina de rádio e vídeo-aula, vamos trabalhar justamente a possibilidade que todos têm de reproduzir mídia partindo do que as pessoas já detêm como conhecimento: elas sabem conversar, usar as tecnologias de comunicação de forma simples, conhecem os interesses dos estudantes. Os participantes da formação sabem do valor de roteirizar uma proposta de aula, porque já fazem isso na prática, e vão fazer um roteiro de uma produção midiática – que desenvolva, com começo, meio e fim, aquilo que se pretende ensinar.

O curso tem o propósito de conectar o professor a essas possibilidades, que são muito ricas, inclusive para que se sinta mais tranquilo e com mais à vontade de desenvolver seu trabalho. Ele vai oferecer alternativas que se ajustam melhor ao público que atende, ao seu estudante.

O mais importante é o estudante, não é a tecnologia, não é o conhecimento, não é a escola. O curso vai ajudar a olhar melhor para esse estudante, para que possamos criar uma conversa por vídeo ou rádio que o conecte às aulas e ao conhecimento.

Portal CENPEC: Como construir uma interação on-line com o estudante ao gravar uma aula em vídeo ou rádio, sem ter o retorno imediato dele sobre o conteúdo apresentado?

Carlos Lima: A videoaula, a rádio aula ou o podcast precisam ser enxergados como um recurso que não vai trazer todas as informações, mas que vai deixar o estudante curioso. Essas produções de rádio e de vídeo são apenas um incentivo para ele continuar a estudar.

Tanto o rádio como o vídeo são ferramentas que tornam o acesso do estudante ao conteúdo flexível, no momento em que ele puder, seja por meio de uma plataforma de comunicação, seja pelo grupo de WhatsApp ou até pela rádio comunitária local. O conteúdo vai estar lá e poderá ser acessado não só uma vez, mas quantas vezes o estudante quiser ouvir e assistir para compreender melhor.

Essas produções têm a capacidade de interagir com o estudante, despertar uma curiosidade que pode ser alimentada por outras atividades e outros suportes, como por exemplo um texto, um livro, um jogo, uma atividade, a criação de um projeto de intervenção a partir das informações recebidas…

Portal CENPEC: Quais as possibilidades de uso do rádio na escola?

Carlos Lima: Paulo Freire foi um dos grandes educadores que enxergou no rádio a possibilidade de alcançar o mundo daqueles que não tinham acesso à escola. O rádio tem essa força e esse poder de alcançar o mundo através de suas ondas e chegar às casas e escolas. Ao escutar essas vozes, por mais que a gente não veja e não toque, a informação nos chega com sentimento.

O rádio trabalha com a sensibilidade humana. Um programa de rádio bem produzido faz as pessoas enxergarem o que está sendo apresentado e mergulhar naquilo. É um espaço de promoção das histórias das pessoas, faz com que elas se sintam mais próximas de quem ouve.

Sou o criador de uma das primeiras rádios da cidade de São Paulo, a rádio Shinquichi Agari, na Vila Curuçá, bairro localizado na zona leste do município de São Paulo. Esse projeto, desenvolvido na Escola Estadual Shinquichi Agari, foi criado para contribuir com a diminuição da violência na instituição, a redução das faltas e até para trabalhar questões como sexualidade – em 1999, quando desenvolvemos essa experiência, havia meninas muito jovens grávidas.

Portal CENPEC: Qual o potencial dessas ferramentas para a comunidade escolar?

Carlos Lima: Acredito que a comunicação precisa fazer parte da formação dos estudantes. Comunicação é um direito humano e as várias formas de comunicar podem potencializar a aprendizagem e ajudá-los a expressar suas ideias. Incluir as linguagens da comunicação na escola possibilita ao estudante criar seus produtos e compartilhá-los com sua comunidade, fazendo, inclusive, uma intervenção social nesse local.

Um trabalho nessa perspectiva é essencial para pensar em inter e transdisciplinaridade, até porque todo produto de comunicação é interdisciplinar por natureza. Educação é comunicação e isso não sou só eu quem diz, é Paulo Freire. Possibilitar que não somente os professores, mas também os estudantes produzam mídia permite integrar aprendizados e buscar informações de várias áreas para construir uma comunicação que alcance a sua comunidade.


Veja também

Primeira intervenção de rádio na escola E.E. Shinquichi Agari, agosto de 2010.