- Tamara Castro
O acesso à educação e à cultura, ao lado de outras garantias fundamentais, é um direito estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990):
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90.)
Como garantir esse direito a adolescentes e jovens em medida socioeducativa de internação em um contexto de pandemia mundial e distanciamento social como o que vivemos? Esse foi o desafio que moveu a equipe do projeto Educação com Arte: oficinas culturais em 2020. Parceria entre o CENPEC e a Fundação CASA, a iniciativa busca garantir o acesso à experiência cultural e artística a adolescentes e jovens que cumprem medida de privação de liberdade em Centros de Internação (CIs) da Fundação. Para isso, desenvolve oficinas e outros eventos de arte e cultura articulados ao projeto político-pedagógico da instituição.
Em março deste ano, quando se iniciou o distanciamento social, as oficinas foram suspensas. Em junho, iniciou-se o planejamento das oficinas remotas, após conversas e negociações entre as duas instituições. No mês seguinte, as oficinas foram retomadas, mas de forma remota. Como alguns centros ainda não têm acesso à Internet, para garantir que todas as turmas pudessem participar das atividades foram planejadas duas modalidades de oficinas semanais: on-line (síncronas) e off-line (assíncronas). As oficinas on-line estão sendo realizadas por 8 educadores em 8 centros com 20 turmas de estudantes. Já as oficinas off-line são gravadas pelos 10 educadores da equipe e exibidas em 14 centros para 32 turmas.
Marília Rovaron, coordenadora do projeto pelo CENPEC Educação, comenta os desafios envolvidos na adaptação das oficinas para o formato remoto:
O principal desafio foi o uso da tecnologia pela equipe de arte-educadores e coordenadores do projeto. A ferramenta Teams, da Microsoft, era desconhecida pela equipe e desbravar todas as suas funções, em tão pouco tempo, exigiu dedicação e empenho de todos.
Trabalhar com gravação de vídeos e edição também foi bastante desafiador, pois demanda, além de conhecimentos prévios, equipamentos que deem conta das ferramentas utilizadas, assim como sinal de Internet suficiente para ações diárias (upload de vídeos e aulas on-line). Em tempos de home office, a tendência é enfrentarmos dificuldades diárias com o sinal da Internet. Esse, sem dúvida, é um fator bastante delicado neste momento do projeto.”
Marília Rovaron, coordenadora do projeto Educação com Arte pelo CENPEC Educação
Formação audiovisual
Para a retomada das oficinas culturais, foi necessário à equipe incorporar novos conhecimentos, habilidades e recursos para que os encontros acontecessem dentro da nova realidade. A arte-educadora, MC, compositora e cantora Chai Odisseiana, que desenvolve oficinas de Artes da palavra no âmbito do projeto, conta:
De início, eu pensava que nem seria possível realizar as oficinas a distância, por conta da restrição que a Fundação CASA tem em relação a mostrar a imagem dos meninos. Então, quando começou a pandemia e o distanciamento, pensei que as atividades seriam paralisadas. Mas as coisas foram fluindo, caminhando para outras formas, por meio da formação on-line.”
Chai Odisseiana, formadora do projeto Educação com Arte
Na análise do arte-educador Ronaldo Gomes de Souza, formado em conservação e restauro e especialista em arte sacra:
Para quem estava acostumado sempre com a presença em sala e todas as demandas que uma atividade presencial exige, sobretudo num espaço com inúmeras restrições, isso trouxe um panorama de muitas incertezas. A começar pela preocupação de como as oficinas chegariam aos adolescentes. Se a qualidade das atividades iria suprir as mínimas necessidades e teriam a aceitação deles. Isso causou muita inquietação e ao mesmo tempo remexeu com vários conceitos que até então, eu nunca tinha refletido.”
Ronaldo Gomes de Souza, formador do projeto Educação com Arte
Para oferecer aos arte-educadores a possibilidade de desenvolver conhecimentos e habilidades necessárias à realização das oficinas em ambiente remoto, foram promovidos encontros de formação sobre linguagem audiovisual. É o que conta o coordenador regional Tony Sagga:
Por eu ser da área audiovisual, me disponibilizei a fazer reuniões on-line para que os educadores tirassem dúvidas e experimentassem as ferramentas de edição. Além das dúvidas com o uso dessas ferramentas, havia dificuldades tecnológicas: Internet com boa qualidade e computadores com capacidade para gravar, subir e editar os vídeos, ou para participar das oficinas ao vivo. Essas limitações foram o principal temor da maioria e alguns estavam muito apreensivos com relação a isso. Alguns passaram madrugadas assistindo a tutoriais e videoaulas para fazer o trabalho de edição.”
Tony Sagga, coordenador regional do projeto Educação com Arte
Fernando Konesuk, arte-educador que desenvolve oficinas de Artes da palavra no projeto há pouco mais de um ano, mas com vivência profissional em ensino profissionalizante com adolescentes em medidas socioeducativas e em privação de liberdade desde 2012, além de intervenções artísticas, culturais e políticas nesse contexto de forma autônoma, compartilha seu olhar sobre esse processo:
Tinha uma experiência mínima com ensino a distância, produzindo podcasts para um curso de formação de professores(as) pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Isso me deu alguma noção, mas era pouco para o compromisso de ministrar essa primeira experiência de arte e cultura a distância na Fundação CASA. Nunca tinha trabalhado com vídeo, mas já dominava os processos de gravação e edição de áudio. Minhas experiências com rádio e podcast foram fundamentais para que minhas aulas efetivamente acontecessem.”
Fernando Konesuk, formador do projeto Educação com Arte
Para Ronaldo, que há dois anos ministra oficinas de desenho e pintura no projeto, “a impossibilidade de estar em sala de corpo presente despertou novas óticas sobre as práticas que utilizei ao longo do tempo. Ter que produzir videoaulas, gravações, aulas on-line, programas de edição, ferramentas digitais das mais diversas e incontáveis formações a distância transformaram em pouco tempo o modo de executar o trabalho”.
Oficinas on e off-line
Para a realização das oficinas off-line (assíncronas), os arte-educadores fazem a gravação de seu plano de aula. Eles ministram os conteúdos e apresentam a proposta de atividade. Posteriormente, recebem as produções dos adolescentes para diagnosticarem como os conteúdos foram recebidos e planejarem as próximas videoaulas.
Já as oficinas on-line (síncronas) são realizadas através da plataforma Microsoft Teams. “Esse ambiente permite aos arte-educadores ministrarem as oficinas ao vivo e interagirem com os adolescentes em tempo real, como nas aulas presenciais. Em ambas as modalidades, as oficinas passaram a ter carga horária de 1 hora semanal, diferentemente do formato anterior, presencial, que era de 3 horas semanais”, conta a coordenadora regional Mônica Roberta Antônio.
As oficinas síncronas foram alvo de bastante cuidado tanto por parte dos coordenadores do CENPEC, como dos coordenadores pedagógicos dos centros de internação, em razão da qualidade dos equipamentos tecnológicos disponíveis e sinal de Internet, além da necessidade de resguardar a imagem dos adolescentes, em razão das medidas de segurança e sigilo previstas pela legislação.
As unidades que aceitaram as oficinas on-line foram extremamente disponíveis e esforçadas. Foram semanas de testes e muito empenho dos funcionários da Fundação CASA, que na época estavam ainda mais desfalcados em número por causa da pandemia, para colocar as máquinas em funcionamento com a devida qualidade. Como se tratava de uma novidade a todos, conforme uma pessoa descobria as funcionalidades da plataforma Teams, compartilhava com o outro para se ajudarem mutuamente. Isso por si só já nos aproximou mais das unidades.”
Mônica Roberta Antônio, coordenadora regional do projeto Educação com Arte
O retorno das oficinas culturais foi recebido com alegria pelos adolescentes, conta a coordenadora. “Devido à pandemia, todas as atividades e visitas dos centros foram suspensas. Assim, as oficinas, em especial as síncronas, proporcionavam um respiro e acolhimento em meio a tantas incertezas neste momento tão difícil.”
Assim, a insegurança inicial deu lugar a encontros marcados por experimentações, aprendizagens e grande interesse dos meninos. Como relata o arte-educador Fernando, “o envolvimento dos alunos tem sido surpreendente, muito por conta da falta de contato externo neste momento de pandemia. Além de privados da liberdade, estão privados de contato com a sociedade civil e com contato restrito com seus familiares”.
A arte-educadora Chai destaca a participação dos adolescentes nas oficinas on-line. “Nelas eu consigo ver os meninos ao vivo, com exceção de uma turma, em que eu não tenho acesso à imagem, apenas escuto os participantes e sinto que há muito envolvimento. A gente preenche o tempo da oficina de uma forma que quando percebemos o tempo já acabou”, afirma.
Já as oficinas gravadas não permitem a interação em tempo real. Assim, o acompanhamento dos processos de aprendizagem e criação depende das atividades enviadas posteriormente.
Muitas vezes a entrega dessas devolutivas atrasa e temos que fazer a próxima aula sem esse retorno, o que, na minha opinião, quebra um pouco a força da atividade e o vínculo com os meninos. Um dos objetivos de considerar as devolutivas é dar um retorno sobre o que eles produziram, o que é muito importante no resgate da autoestima deles. Quando as devolutivas vêm sequencialmente é maravilhoso, pois a gente consegue acompanhar a evolução dos educandos, trocar ideias com eles através das folhas.”
Chai Odisseiana, formadora do projeto Educação com Arte
Veja a seguir cenas das oficinas gravadas pelos arte-educadores:
Abordagem metodológica
Estabelecer e manter o vínculo com os adolescentes nesse novo formato foi uma preocupação de toda a equipe. Nesse sentido, os desafios do ponto de vista pedagógico não foram menores. “Nas oficinas síncronas é mais fácil, pois o contato do(da) educador(a) com os adolescentes é direto. Já nas aulas assíncronas esse contato é mediado por outra pessoa e as devolutivas dos adolescentes às atividades propostas, ainda que deem pistas sobre como estão experienciando a oficina, não propiciam elementos suficientes para a criação de vínculos. Pelo menos não da forma que buscamos fazer nesses anos de projeto”, pondera Marília.
Em março, a coordenação técnica do projeto iniciou encontros formativos remotos com a equipe de arte-educadores. A formação contou com a assessoria da especialista em educação social Graziela Graciani. “Foram realizadas atividades que consistiram em leitura de textos, exibição de videoaulas e elaborações escritas pelos educadores”, conta o coordenador regional Washington Góes. Algumas das atividades realizadas na formação foram:
- análise do plano de trabalho do programa;
- exercício de construção do planejamento por modalidades e linguagens;
- reflexão sobre vida e obra de Paulo Freire e suas contribuições para a arte-educação;
- exercício de elaboração de plano de aula;
- estudos sobre a intersecção entre o plano de trabalho e o planejamento de aula;
- leitura e discussões sobre as devolutivas dos planejamentos de aula.
Com base nessas atividades, foi criado um planejamento preliminar das oficinas e dos planos de aula.
Foi um momento importante, pois permitiu a revisão e elaboração dos objetivos e conteúdos das oficinas de forma coletiva. Os educadores se reuniram, de acordo com as linguagens – Artes visuais, Artes da palavra, Cultura popular, Música e Dança de rua – para pensar em abordagens comuns, porém, assegurando as particularidades de cada uma.”
Washington Góes, coordenador regional do projeto Educação com Arte
Nas reuniões de formação, estão sendo definidos princípios pedagógicos para o trabalho nas oficinas on-line e gravadas. “Esses princípios buscam assegurar uma metodologia que considera o conhecimento dos adolescentes, problematizando as situações em que vivem para a construção do conhecimento”, conta Góes. Os princípios construídos são:
- Adolescente é sujeito de direitos, em desenvolvimento, dotado de proteção integral.
- A educação como elemento de transformação social.
- Interesse pela realidade dos adolescentes pelo reconhecimento de seus contextos individual e/ou social.
- Educação, cultura e arte estão entrelaçadas na ação formativa para garantir oportunidades de construção compartilhada de conhecimento.
- A cultura como identidade e pertencimento.
- Pensar o acesso à cultura de forma ampla e não utilitarista, contribuindo para que os adolescentes experienciem os momentos de criação em sua totalidade.
Experimentações, aprendizagens e desafios
A incorporação das tecnologias digitais trouxe novos desafios e aprendizados a todos os envolvidos. “Apesar das limitações tecnológicas, foi possível promover oficinas culturais nesse formato com qualidade e otimização de tempo, tanto para centros como para os arte-educadores e adolescentes, além de possibilitar outra forma de interação entre os envolvidos nesse processo. Isso evidencia que, quando há pessoas implicadas na ação, algumas dificuldades podem ser superadas”, reflete Mônica.
Na avaliação de Chai:
Essa transformação foi bem difícil, por conta do planejamento, que precisou ser bastante detalhado e definido aula a aula. Algumas vezes, isso dificulta uma prática mais dinâmica, que saia do roteiro. Nas oficinas presenciais, nós temos um planejamento mais amplo, com diversas possibilidades, que permitem agregar outras ideias e atividades de acordo com o perfil e o andamento da turma, de acordo com a demanda do momento. Um desafio foi incorporar as referências que utilizo em minha prática, como a literatura periférica, a cultura afro-brasileira, que exigem um grande trabalho de mediação meu para evitar desconfortos e desentendimentos. Apesar de algumas dificuldades, em geral a experiência está sendo muito positiva.”
Chai Odisseiana, formadora do projeto Educação com Arte
Mônica identifica impactos positivos aos adolescentes, como o aumento da leitura e da participação oral dos adolescentes, que precisam ler, contar e mostrar aos arte-educadores suas produções. “As exposições orais ocorrem naturalmente por parte dos adolescentes, o que antes, nas oficinas presenciais, era um momento de tensão e constrangimento para muitos. Já nesse formato, a maioria dos jovens quer mostrar, apresentar e explicar seus trabalhos para o(a) arte-educador(a) em frente à câmera”, afirma a coordenadora regional.
Em suas oficinas de Artes da palavra, o arte-educador Fernando utiliza cartazes com trechos selecionados por ele: textos de Esmeralda Ortiz e Anderson Herzer, autores que passaram pela antiga Febem (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor); trechos de Cartas da prisão, de Frei Betto, pensando “sobre a comunicação com os familiares neste momento de privação”; Carolina Maria de Jesus e Jarid Arraes, para resgatar “narrativas negras de São Paulo e no Brasil”, Cabeça de porco, de Patrícia Galvão, trazendo vivências periféricas e suas “quebradas”; a Antologia trans, de Igor Chico, para conversar sobre poesia marginalizada.
Faço a leitura em voz alta e peço que acompanhem. Muitos têm dificuldade na leitura mas conseguem acompanhar e fazer reflexões sobre os textos. As músicas chegam se conectando com as leituras e trazendo notícias do ‘lado de cá’. A partir delas, tecemos outras reflexões e conseguimos outro tipo de acesso aos adolescentes, que talvez falarão de forma mais natural, por contar sobre coisas de que gostam, que vivenciam.”
Fernando Konesuk, formador do projeto Educação com Arte
Tony também destaca o aumento da participação dos meninos, que passaram a se expressar mais oralmente. “No formato remoto, eles têm que participar mais, e os arte-educadores pedem retorno, perguntando como eles estão recebendo as aulas, o que estão sentindo. Muitos adolescentes deram depoimentos bem positivos, dizendo como as oficinas estão sendo importantes nesse momento. Então essa foi uma forma de conexão, de eles se sentirem importantes, lembrados. Na verdade essa relação de respeito e carinho entre os meninos e os educadores já existia, mas está mais explícita agora”, observa o coordenador regional.
Para Ronaldo, um desafio é levar aos adolescentes atividades que cumpram todos os requisitos previstos nos planejamentos e nas normas exigidas pelos centros de internação. Nesse sentido, o arte-educador destaca a importância de considerar e valorizar as “vivências, experiências e expectativas” dos meninos.
Por mais que paire no imaginário daqueles que não conhecem os ambientes da socioeducação uma visão de locais sempre hostis e violentos, muitas ocasiões nos deparamos com situações em que os adolescentes deixam transparecer seu lado mais sensível. O respeito para com o meu trabalho e as possibilidades de dialogarmos usando como ponte a arte mostram que estamos lidando com adolescente que, salvo a condição de estarem em cumprimento de medida em meio fechado, necessitam de atenção como qualquer outro. Todo esse processo que estamos passando, com certeza, me trouxe novas possibilidades no âmbito profissional e também como ser humano.”
Ronaldo Gomes de Souza, formador do projeto Educação com Arte
Apesar da distância, a comunicação se intensificou e é sincera, destaca Tony. “Por exemplo, outro dia um adolescente disse ao educador que não havia gostado da aula. Isso não é um problema, na verdade é bom, porque o educador pode pensar sobre a aula, se o mesmo aconteceu para o coletivo ou se é uma questão individual. Então, embora a gente prefira estar presencialmente, houve ganhos nas relações humanas e pedagógicas envolvidas. Para nós está sendo enriquecedor, e pelos depoimentos dos meninos, para eles também”, avalia.
“O contexto exigiu uma ressignificação do espaço educativo”, afirma Góes. “Foi possível repensar métodos de ensino e aprendizagem sem abrir mão de conceitos pedagógicos institucionalmente consolidados. Mesmo a distância está sendo possível experienciar o fazer educativo, de forma que assegure a interação, a participação, e a condição do adolescente como sujeito de direito, em situação de desenvolvimento. O saber é construído socialmente e busca, em alguma medida, transformar realidades”, reflete o coordenador.
“Tem sido uma experiência muito rica. Às vezes não temos as devolutivas das unidades, o que dificulta um pouco do trabalho. Mas é necessário compreender que esses funcionários e funcionárias da Fundação CASA estão trabalhando em condições difíceis”, lembra o arte-educador Fernando. “Até o momento, no estado de São Paulo, mais de 300 jovens nas unidades e mais de 1.000 servidores contraíram o Covid-19, o que ceifou a vida de 5 profissionais da Fundação CASA”, lamenta.
Diante de tantas restrições e perdas, o conhecimento e a arte se destacam como possibilidades de humanização, sensibilização e ampliação de caminhos. É o que revela Heitor Araújo, arte-educador que ministra oficinas de Dança de rua e Artes da palavra.
Mesmo através de uma tela, conseguimos observar a importância da arte no contexto que vivemos hoje. A arte é uma ferramenta de aprendizagem que rompe barreiras. Onde há um muro, a arte é uma ponte. Nas oficinas, ela nos conecta de vários formas e nos convida a uma viagem a novos mundos.”
Heitor Araújo, formador do projeto Educação com Arte
Sobre a relação pedagógica e as transformações vividas neste momento, Heitor reflete:
Ensinar também é uma forma de aprendizagem, quando fomentamos o conhecimento e quando utilizamos novas ferramentas de conexão que possibilitam diversos caminhos dentro da oficina. Reinventar-se como arte-educador não é uma tarefa fácil, sair da chamada zona de conforto requer consistência, dedicação e estudo. Olhar através de uma tela é uma outra maneira de ensinar, refletir sobre como o conteúdo e a forma chegam ao alunos e ver o olhar dos adolescentes brilhando e demonstrando se sentir bem com o que produziram artisticamente é uma experiência ótima. O retorno das aulas remotas tem trazido uma sensibilidade ainda maior e rica sobre a arte-educação.”
Heitor Araújo, formador do projeto Educação com Arte
Em meio a esse cenário, o afeto é o ingrediente “fundamental para dar liga em tudo. Conduzir as aulas de forma respeitosa com os adolescentes, enaltecendo suas opiniões, suas escritas, suas expressões. Usar códigos de linguagens periféricos, demonstrando interesse pelas palavras, não me colocando como detentor do conhecimento, costurando um processo de troca, numa exaustiva tentativa de construir vínculos, mesmo a distância” é indispensável, ressalta Fernando.
Nas palavras poéticas de Jarid Arraes, uma das referências utilizadas em suas oficinas com os meninos:
Não se faz de esquecida / A memória da amizade
Jarid Arraes, O cordel da amizade
Sobre as linhas tracejadas / Que separam as cidades
Seja numa tela escrita / Ou na lágrima escorrida
Inda vive uma saudade.”
Veja também
- “Meninos de Palavra”: documentário sobre arte-educação e letramento nas oficinas de arte e cultura na Fundação CASA
- O adolescente em privação de liberdade e a arte-educação
- Conheça a história e a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente
- As ameaças aos direitos de crianças e adolescentes hoje – e como enfrentá-las
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- O papel da escola na rede de proteção de crianças e adolescentes
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