#EducacaoNaPandemia Confira duas pesquisas sobre o cenário da pandemia e escolas fechadas e compartilhe conosco a sua experiência neste último ano
Por Stephanie Kim Abe
Completamos, neste mês de março, um ano desde que as escolas foram fechadas e as aulas foram suspensas em todos os estados do país. Desde então, houve movimentos de retorno presencial em algumas redes municipais e estaduais, em diferentes momentos a partir do segundo semestre de 2020. Muita coisa aconteceu e ainda está acontecendo, já que a pandemia, infelizmente, está longe de acabar.
Para entender um pouco melhor como esse cenário tem afetado o direito à Educação, muitas pesquisas e levantamentos têm sido realizados, por diferentes organizações, olhando para o impacto das medidas de isolamento social em diferentes atores escolares (professores, estudantes, familiares etc). Em julho de 2020, noticiamos os resultados de seis dessas pesquisas.
Uma das mais recentes é a “Volta às Aulas 2021“, realizada pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), em parceria com o Unicef e o Itaú Social. O estudo ocorreu entre janeiro e fevereiro de 2021 e teve a participação de 3.672 redes – o que representa 2 em cada 3 redes municipais de educação e cobre cerca de 2/3 dos estudantes das redes municipais do país. O objetivo foi entender como as Secretarias se organizaram durante o ano letivo de 2020, quais as dificuldades enfrentadas e estratégias adotadas, e como elas têm se planejado para este ano.
Nós do CENPEC Educação temos acompanhado de perto os diversos aspectos que envolvem o debate sobre a educação no contexto de pandemia: dos desafios de gestores(as) e educadores(as) aos impactos nos(as) estudantes; da importância do acolhimento aos limites do ensino remoto; das orientações e protocolos sanitários à necessidade de busca ativa.
O intuito é divulgar materiais formativos e informativos que colaborem para a garantia do direito à educação de todos(as) os(as) estudantes e para a redução das desigualdades educacionais em nosso país.
A maioria das redes consultadas manteve apenas atividades pedagógicas não presenciais em 2020 (91,9%), sendo que 94,7% declarou ter feito um monitoramento dessas atividades. Ao analisar como elas foram realizadas, o estudo mostra a clara prevalência dos materiais impressos e das orientações por WhatsApp.
A pesquisa ainda compara esses dados com os de levantamentos realizados em períodos anteriores. Em maio/junho de 2020, 43% das redes municipais apontavam os materiais impressos como parte da estratégia. Em agosto de 2020, este percentual já atingia os mesmos 95% que aparecem no estudo atual.
Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do CENPEC Educação comenta:
No início da pandemia, se imaginou que pudessem ser oferecidas atividades com o uso de plataformas digitais de aprendizagem, e a gente viu que não foi isso o que aconteceu. Esse dado comprova uma questão perigosa e uma das lições aprendidas nessa pandemia que é o desafio imenso de acesso que compromete o ensino remoto.”
Anna Helena Altenfelder
As diferenças no enfrentamento dos desafios impostos pelo fechamento das escolas são evidenciadas na pesquisa conforme o tamanho da rede. Nos municípios maiores (com mais de 100 mil habitantes), os dados mostram que há maior uso de aplicativos e plataformas pedagógicas (como Zoom e Microsoft Teams) e maior oferta de formação docente relacionada à Covid-19. São também o maior grupo entre as cerca de 70% das redes respondentes que concluíram o ano letivo de 2020 até dezembro do ano passado.
Sobre as formações oferecidas aos(às) profissionais de educação, que versam sobre temas diversos, vê-se um foco especial na segurança sanitária e nas tecnologias para a educação não presencial.
É interessante notar a prioridade também ao acolhimento – tema que, para Anna Helena Altenfender, precisa ser mais olhado pelo Estado:
O CENPEC tem defendido muito um apoio em cascata, que começaria lá de cima. O Ministério da Educação precisaria apoiar estados e municípios, para que as Secretarias possam apoiar as suas escolas, e as escolas possam apoiar os seus professores, que então apoiariam os alunos. As pessoas estão bastante fragilizadas, então esse suporte parte desde a questão do acolhimento emocional/afetivo até o apoio pedagógico que o professor precisa para atuar em sala de aula, com alunos que voltarão em diferentes estágios de desenvolvimento de aprendizado.”
Mesmo após um ano de ensino remoto, o acesso à internet e a infraestrutura escolar são ainda as maiores dificuldades enfrentadas pelas redes de ensino, que estão começando o ano letivo de 2021.
Sobre o ano letivo de 2021, 63,3% das secretarias consultadas pretendiam retomar as aulas ainda na forma não presencial, sendo que em 59,6% delas os protocolos de segurança ainda seguem em processo de discussão. Quando o assunto são os protocolos pedagógicos para a volta às aulas presenciais, a discussão ainda acontece em 70,4% das redes.
Fruto da parceria entre a Rede Conhecimento Social, as Fundações Carlos Chagas, Lemann, Roberto Marinho, Iede, Instituto Península e Itaú Social, a produção foca em aspectos do ensino remoto com relação à oferta, ao acesso, ao desenvolvimento e o aprendizado, à (des)continuidade das trajetórias escolares, e aos seus legados, e enfatiza que:
Os estudos realizados sobre o período de suspensão das aulas presenciais trouxeram indicações inquietantes: a desigualdade nas condições de oferta educacional, de acesso e realização das atividades propostas nesse período de suspensão das aulas presenciais implica riscos de tornar o processo educacional não mais apenas um reflexo da desigualdade existente ‘lá fora’ e sim, ele próprio, um fator que pode acirrar tais desigualdades.”
Retratos da Educação no Contexto da Pandemia do Coronavírus: um olhar sobre múltiplas desigualdades, 2020
As desigualdades de acesso estão evidentes, por exemplo, nos dados do terceiro levantamento realizado pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures junto a familiares de estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública. A proporção dos que informaram ter um aparelho celular com acesso à internet nas regiões Sul (62%) e Sudeste (58%) foi quase o dobro daquela daqueles na região Norte (32%).
Além disso, enquanto 98% dos estudantes com renda familiar superior a cinco salários-mínimos informaram que tinham acesso a computadores ou notebooks com acesso à internet para seu próprio uso, essa proporção caiu para 74% para estudantes com renda entre 2 e 5 salários-mínimos e não passou de 30% nas famílias com renda de até 2 salários mínimos, faixa de renda que concentra a maior parte dos estudantes da rede pública.
Impactos na aprendizagem
Nesse estudo, chama atenção a dificuldade dos(as) docentes para manter o engajamento dos(as) alunos(as) – que é maior entre os(as) professores(as) do ensino médio (78%) e vai diminuindo conforme a etapa de ensino (71% nos anos finais do ensino fundamental, 60% nos anos iniciais e 56% na educação infantil).
Isso se revela na questão do desenvolvimento e aprendizado: a análise revela que 48% dos professores acreditam que menos da metade dos(das) estudantes aprendeu o esperado. Para Anna Helena, esse é um ponto que precisa ser mais explorado pelas pesquisas:
Esses estudos são muito relevantes, porque nos ajudam a compreender a realidade e este fenômeno muito complexo que estamos vivendo. Mas eles mesmos deixam perguntas importantes que precisam ser aprofundadas. A gente sabe que, para aprender, é preciso ter experiências educativas em quantidade e qualidade suficientes. E nós já sabemos que a pandemia afetou tanto a quantidade quanto a qualidade – e de maneira desigual.”
Nesse contexto, complementa Anna Helena, algumas investigações são fundamentais:
Do ponto de vista pedagógico, quais os reais efeitos na aprendizagem dos alunos? O que acontece com as crianças que passam um ano e meio, dois anos sem frequentar a escola? Como isso afeta as crianças, de condições diferentes (econômicas, sociais e territoriais), e como isso acirra as desigualdades? Quais práticas pedagógicas as secretarias municipais e estaduais de educação desenvolveram que puderam ajudar mais esses alunos?”
E pra você, como tem sido este um ano de pandemia?
Por trás das estatísticas, há sempre histórias e pessoas reais, e o Cenpec Educação preza muito em ouvir e dar voz aos(às) profissionais de educação e à comunidade escolar em geral sobre este assunto em que são diretamente afetados(as).
É muito importante entender o que acontece no nível do chão da escola, o quanto a pandemia está afetando os(as) professores(as) e os(as) gestores(as) no seu dia a dia. Tanto do ponto de vista do desenvolvimento profissional possível como das suas limitações. Precisamos compreender e discutir o fenômeno do ensino aprendizado com esses atores envolvidos.”
Anna Helena. Altenfelder
Por isso, convidamos todos(as) a compartilhar suas experiências, opiniões e aprendizagens. Queremos saber: neste um ano de pandemia e escolas fechadas, quais os principais desafios que vocês enfrentaram e ainda enfrentam? Quais aprendizados foram construídos? Compartilhe com a gente no espaço abaixo. Para participar, basta clicar sobre o + e escrever. Para sua privacidade, as postagens ficam anônimas.
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