Mulheres que contrariam as estatísticas

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Mulheres que contrariam as estatísticas

Leitura e discussão de relatos sobre a trajetória de vida de mulheres pertencentes a grupos minoritários da sociedade que se destacaram em sua atuação profissional. Autoria: Educação&Participação. Banner: montagem de Karine Oliveira sobre fotos de Sônia Guajajara, Sônia Guimarães, Laerte Coutinho, Conceição Evaristo e Marta Vieira da Silva
O que é?

Leitura e discussão de relatos de trajetória de vida de mulheres pertencentes a grupos minoritários da sociedade.

Materiais

Folhas de sulfite, lápis coloridos ou pincéis, folhas de papel pardo para confeccionar cartazes, computadores, notebooks, tablets ou celulares com acesso à internet, música suave e aparelho de som.

Finalidade

Dar visibilidade às histórias de pessoas que pertencem às minorias mais discriminadas no país, lutando contra o preconceito e a violência simbólica.

Expectativa

Buscar compreender as atitudes alheias antes de julgar; aprender com as experiências das outras pessoas; desenvolver atitudes de respeito, solidariedade e aprendizagem com as diferenças.

Público

Adolescentes e jovens,

Espaço

Sala de aula, sala de atividades, biblioteca, centro cultural, ou ambiente on-line.

Duração

1 encontro de 1h30.


Início de conversa

Nas últimas décadas do século XX e neste início do século XXI, o movimento feminista brasileiro conquistou a ampliação dos direitos das mulheres. Um importante marco foi a apresentação da Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes de 1988, que indicava as demandas do movimento feminista e de mulheres.

Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes de 1988

A Carta Magna de 1988 incorporou no artigo 5°: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”.

No artigo 226, parágrafo 5°: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos pelo homem e pela mulher”.

 E no parágrafo 7º:  “Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas”.

O movimento feminista destaca-se, ainda, pelas decisivas contribuições na de democratização do Estado brasileiro, produzindo, inclusive, inovações importantes no campo das políticas públicas. Um exemplo são os Conselhos da Condição Feminina, criados pela Lei  5.447/86 (revogada pela Lei nº 17.431/21- órgãos são responsáveis pela formulação de políticas públicas para a igualdade de gênero e combate à discriminação contra as mulheres.

Além disso, as ideias e ações feministas têm conquistado espaço em diversas esferas da sociedade. Um exemplo é a luta contra as desigualdades salariais entre homens e mulheres que ocupam as mesmas funções no mercado de trabalho, assim como no acesso ao poder político, com a aprovação de uma cota de 20% das legendas dos partidos para as candidatas mulheres.

Em 2021, a reserva de cotas no legislativo foi ampliada para 30%, proposta pela senadora Eliziane Gama.

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Desigualdade salarial entre gêneros ainda é um problema no Brasil, 2021. Fonte: Correio Brasiliense.

As mulheres também tiveram um papel central na luta contra a ditadura militar e pela anistia às pessoas presas por motivos políticos nesse período, assim como na reivindicação por creches (necessidade capital das mulheres de classes populares) e pela descriminalização do aborto que penaliza as mulheres de baixa renda.

Zuzu Angel.
Revista Manchete, 1986.

Zuzu Angel: moda-protesto contra a ditadura

Conhece a história de Zuzu Angel? Além de uma das mais importantes estilistas brasileiras, ela se destacou por sua incansável oposição à violência do governo militar. Mãe de Stuart Edgar Angel Jones, estudante que foi torturado e assassinado pela ditadura, Zuzu passou anos denunciando os crimes da ditadura até morrer em um acidente de carro suspeito, em 1976.

No entanto, esses avanços não alcançaram todas as mulheres da mesma maneira. Isso porque o movimento feminista esteve, como outros, por longo tempo, prisioneiro da visão eurocêntrica das mulheres.

A consequência disso foi a incapacidade de reconhecer as diferenças e desigualdades entre as mulheres brasileiras, por outras razões, como a origem étnico-racial; a deficiência e a identidade de gênero. São todas questões ligadas a lutas de outros grupos sociais, que estiveram e estão ainda longe de ter seus direitos garantidos.

Mulheres negras no cenário nacional: conheça a oficina.

A Marcha das Mulheres Indígenas fez Brasília pulsar - Outras Palavras
Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília, 2021. Foto: Anmiga

Dessa forma, as vozes silenciadas e os corpos estigmatizados de mulheres vítimas de outras formas de opressão, além do sexismo (atitude de discriminação fundamentada no sexo), continuaram no silêncio e na invisibilidade. É o caso das mulheres negras, indígenas, deficientes e trangêneros, vítimas de muita discriminação e preconceito e pouco acesso têm aos direitos e aos bens culturais produzidos pela sociedade.

Essas outras dimensões da problemática da mulher na sociedade brasileira, que é o silêncio sobre outras formas de opressão além do sexismo, vêm exigindo a ampliação e a reelaboração das lutas e das práticas políticas de todos os movimentos sociais.


Na prática

Roda inicial: imaginando o futuro

Receba a turma com uma música suave. Em encontros presenciais, peça que formem uma roda e ouçam a música que está tocando. Em encontros on-line, peça que silenciem para ouvir a música. Proponha que façam um exercício de imaginação, relacionado a seu futuro.

Oriente que fechem os olhos e imaginem como estarão daqui a 10 anos. Proponha as comandas abaixo, deixando um espaço entre elas para que possam ter tempo de imaginar…

Imaginação - ícones de do utilizador grátis
  • Quantos anos terá?
  • O que verá ao se olhar no espelho, como vai estar seu corpo?
  • Estará trabalhando em que e com o quê?
  • Onde e com quem estará morando?
  • Quem serão suas(seus) amigas(os)?
  • E a vida amorosa, como estará?

Ao final, peça que, aos poucos, abram os olhos. Sem que digam nada a respeito, ofereça papel e lápis coloridos ou pincéis e peça que cada um represente o que pensou utilizando um desenho.

Após alguns minutos, ainda sem nada falarem, peça que reflitam sobre qual seria o caminho que pensam ter que ser trilhado para conquistar essa condição e escrevam ao lado do desenho, com o título: Percurso.

Depois, questione quais dificuldades imaginam que teriam de enfrentar, no Percurso. Oriente para que também nomeiem essas dificuldades, escrevendo Dificuldades, ao lado do Percurso.

Depois de algum tempo, abra a roda para comentários, para quem desejar. O participante que o fizer, mostrará o seu desenho ao grupo e falará sobre o percurso a ser feito e as dificuldades imaginadas. Depois que todas(os) que quiserem falar expressarem-se, peça que guardem as folhas.


Mulheres inspiradoras que contrariaram estatísticas

Diga à turma que esta oficina tratará a história de mulheres com percursos de vida que fogem ao comum. Algumas delas tiveram experiências muito difíceis, tendo de lutar contra grandes preconceitos para conquistar o que sonhavam.

Nesta oficina, eles vão conhecer a trajetória que essas mulheres fizeram até chegarem onde estão. As histórias referem-se à vida de uma mulher indígena, de uma negra, de uma ex-viciada em crack, de uma transsexual, de uma portadora de microcefalia e de uma mãe adotiva de excepcionais. Os relatos foram publicados no site da UOL, por ocasião do Dia da Mulher, em 8 de março de 2016.

Divida a turma em grupos de três ou quatro para lerem os relatos. Se possível, monte grupos só de meninas e só de meninos para que identifiquem as semelhanças e diferenças entre o que pensam sobre os relatos apresentados. Os diferentes olhares e comentários que surgirem sobre as histórias serão objeto de discussão entre eles, ao final da atividade, sob sua mediação.

A seguir, confira as reportagens da série Contrariando estatísticas, publicada em 2016 no site UOL:

E se?
Se houver mais que 18 participantes na oficina, repita o mesmo relato para vários grupos. Será interessante analisar a mesma experiência, de diferentes pontos de vista.

Para orientar a leitura e a discussão dos grupos, proponha o seguinte roteiro para análise e registro:

  1. nome da protagonista da história;
  2. dificuldades/preconceitos que teve de superar;
  3. o que ela diz a respeito de suas experiências: valeu a pena?
  4. como superou dificuldades/preconceitos?
  5. quais aprendizagens suas experiências nos oferecem?

Dê, aproximadamente, 45 minutos para o trabalho dos trios e abra para socializarem suas produções com o coletivo. Cada grupo fará sua exposição e você fará o registro delas em uma tabela como abaixo.

ProtagonistasDificuldades/
Preconceitos
O que fizeram?Aprendizagens
1
2
3
4
5
6

E se?
Se mais de um grupo leu e discutiu o mesmo relato, deverá expor um em seguida do outro, para fazer complementações e ou apresentar interpretações diferentes das apresentadas pelo grupo anterior.

Após a apresentação e discussão de todos os relatos, convide-os a lerem os cartazes em que registraram as dificuldades que cada caso oferece.

Peça que retomem as suas folhas e que cada um leia, para si, as dificuldades que relacionaram para o seu percurso no projeto de sua vida.                                                            

  • O que acham?
  • É possível superar esses obstáculos? 

Convide para que comentem. Finalize lendo com eles as aprendizagens que podemos tirar das experiências.

A seguir, proponha que os trios que leram o mesmo relato se agrupem. Oriente que cada grupo escolha um dos relatos que não foi o seu, para simular uma entrevista fictícia com a protagonista desse relato.

Peça que elaborem perguntas que gostariam de fazer a ela e respondam como acham que essas mulheres diriam. Depois de 20 minutos, a entrevista será dramatizada para os demais grupos.

Após a apresentação de cada grupo, abra para comentários do coletivo:

  • O que sentiram?
  • Acham que as respostas estão compatíveis com os perfis das protagonistas?
  •  Haveria outras perguntas que fariam?
  • Quais?

Pergunte também como foi a sensação de encarnar a personagem do relato, sendo entrevistada, e como cada entrevistador(a) se percebeu na situação:

  • Foi difícil fazer as perguntas?
  • E imaginar as respostas?


Hora de avaliar

Faça uma rodada em que cada participante fale sobre quais ideias que circularam na oficina foram as mais significativas.


O que mais poderá ser feito?

  • Uma entrevista, de verdade, com mulheres da comunidade, que também contrariam às estatísticas.
  • Convidar ativistas de movimentos de mulheres para que contem sobre suas trajetórias e as formas de engajamento possíveis, na luta pela melhoria da condição de vida das mulheres.

Referências


Veja também