Magda Soares: uma educadora comprometida com a alfabetização de todas e todos

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Magda Soares: uma educadora comprometida com a alfabetização de todas e todos

Entenda a importância que a professora Magda Soares (1932-2023) teve na área de alfabetização e letramento, e como ela relacionava o ensino da língua à redução das desigualdades

Por Stephanie Kim Abe

Alfabetização como um direito humano fundamental na agenda da reconstrução do Brasil: para não esquecer Magda Soares

Artigo de Alexsandro Santos, conselheiro do Cenpec, no Estadão

O conselheiro do Cenpec e diretor presidente da Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo, Alexsandro Santos, foi certeiro ao intitular o artigo que assinou esta semana no Estadão em homenagem à Magda Soares.

Um dos maiores nomes na área da alfabetização e letramento no Brasil, Magda Soares faleceu no começo desta semana, no dia 1o de janeiro de 2023. 

Professora emérita da Faculdade de Educação (FAE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pesquisadora e uma das fundadoras do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale), teve diversos livros publicados e premiados. 

Com destaque para os teóricos Alfabetização e letramento (São Paulo: Contexto, 2004), Português: uma proposta para o letramento (São Paulo: Moderna, 2002) e Letramento: um tema em três gêneros (Belo Horizonte: Autêntica). 

A sua recente obra Alfaletrar: Toda criança pode aprender a ler e a escrever, publicada em 2020 pela Editora Contexto, já diz no título também a que veio e no que a especialista acreditava, tanto por meio de estudos acadêmicos quanto pela prática e vivência em sala de aula. 

O livro parte da experiência de Magda como consultora da rede municipal de educação da cidade mineira de Lagoa Santa, onde desenvolveu desde 2007 um intenso trabalho ligado à formação de professoras(es) da rede pública.


Contribuições inestimáveis

O forte compromisso da pesquisadora com a redução das desigualdades é inegável e evidente, seja nas suas obras, nos projetos que participava ou nos estudos que desenvolvia

Antonio Augusto Gomes Batista, professor da UFMG que foi aluno e orientando de Magda Soares, trabalhando com ela no Ceale, destaca uma visão singularque a educadora tinha:

O mais comum é o pesquisador que tem, por exemplo, uma forte formação em determinado aspecto, como linguística textual, tirar conclusões a partir de seus estudos para o ensino da língua. Essa é uma maneira muito parcial de enfrentar o problema. A Magda não. Ela sempre buscou integrar diferentes perspectivas ao objeto em si, e sempre conciliou os estudos teóricos e a pesquisa com a prática“.

Antonio Augusto Gomes Batista, professor da UFMG

Leia a entrevista completa aqui

Para Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec, Magda Soares era uma “educadora profundamente comprometida com a educação pública brasileira e profundamente apaixonada pela educação”.

Ela ressalta a importância que Magda dava para a função social da escrita na redução das desigualdades:

Foto: acervo pessoal

Uma das suas principais contribuições se deve ao fato de mostrar que  a familiaridade com os textos escritos, com a função social da escrita, com os diferentes gêneros que circulam socialmente não é só uma consequência da alfabetização, mas também é condição. Ela traz uma visão de que a alfabetização não é um ato apenas motor e de desenvolvimento de competências cognitivas e de habilidades motoras, mas ela é, antes de tudo, uma familiaridade, um conhecimento com a função social. E isso está intrinsecamente ligado com as oportunidades de interação que as crianças têm com a leitura e o que está escrito“.

Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec


Entenda o conceito de alfabetizar letrando de Magda Soares

Para a professora Magda Soares (UFMG), referência nos estudos de letramento desde a década de 1980, é necessário articular as práticas letradas ao ensino sistemático das relações entre grafemas e fonemas da língua. 

Neste especial multimídia originalmente publicado na Plataforma do Letramento, é possível compreender melhor essa proposta. 

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Compromisso com o seu legado 

Para ambas(os) as(os) entrevistadas(os), é preciso manter um compromisso com essa missão que Magda Soares mantinha viva, de olhar para o todo e buscar a garantia de uma educação de qualidade para todas e todos. 

“Ela foi uma pessoa extraordinária que, aos 90 anos, ainda estava preocupada com a necessidade de continuar estudando e produzindo trabalhos nessa perspectiva para que a educação fosse cada vez mais libertadora, mais compromissada com a redução das desigualdades. Precisamos manter o desenvolvimento de estudos integrativos que busquem compreender as relações entre educação, ensino e classe sociais”, diz Antônio. 

Por conta das desigualdades educacionais brasileiras, onde temos um número significativo de alunas e alunos que não têm na família e na comunidade onde vivem a oportunidade dessa convivência com os diferentes gêneros de escrita que circulam socialmente, as oportunidades e os letramentos são menores. A escola, portanto, tem um papel fundamental de garantir isso – e Magda sabia muito bem disso“, diz Anna Helena. 


Magda Soares no Portal Cenpec

Confira abaixo reportagens do Portal Cenpec que trazem as opiniões e reflexões de Magda Soares sobre alfabetização e letramento.

✏️ Magda Soares fala sobre o impacto de avaliações internacionais como o PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study) 

✏️ Educadoras comentam Cartilha da Política Nacional de Alfabetização

✏️ Como mediar a aprendizagem da língua escrita?

✏️ Estratégias de leitura na alfabetização

Métodos de alfabetização, sejam quais forem, não resolvem as desigualdades sociais que pesam sobre as crianças, a precariedade das escolas públicas em infraestrutura, a falta de material de ensino e de bibliotecas, entre outros fatores. Não resolve, sobretudo, a formação de professores para alfabetizar, o que não se tem feito neste país, já que onde isso deveria ser feito, os cursos de Pedagogia, não acontece, da mesma forma como também não nos chamados cursos de formação continuada. Nesses se pretende continuar o que nem foi ainda realizado”

Magda Soares


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