Professoras(es) com deficiência: violências, adaptações e muito a se melhorar
O lugar da docência para pessoas com deficiência evidencia um sistema educacional capacitista e a necessidade de muitas mudanças para que a escola seja inclusiva de fato para todas e todos
Por Stephanie Kim Abe
Ainda na adolescência, Vera Cardoso de Paula Assis decidiu ser professora. Ela gostava de esportes e queria ser professora de educação física para ensinar as crianças. Mas a mãe não a deixou fazer o curso.
Foi só em 2017 que ela entrou na rede municipal de educação de São Paulo – depois de já ter trabalhado como advogada, tributarista, participado de triatlon e 13 cirurgias na perna esquerda, por causa de um acidente de carro que sofreu em 1998.
“Nos meus 25 anos de pessoa com deficiência, nunca vi um sistema tão violento contra pessoas com deficiência quanto o sistema educativo”, conta Vera.
Ao longo desses últimos anos, ela já passou por diferentes escolas da zona oeste da capital paulista, e sofreu diferentes violências e discriminações.
Em uma das escolas, Vera tinha que subir e descer dois andares diversas vezes em dias de chuva para dar suas seis aulas de educação física, pois a quadra alagava e não era possível usar o espaço. Além de ser um perigo para estudantes e profissionais com deficiência, a falta de acessibilidade gera evasão escolar. No caso de Vera, o resultado foi a deteriorização do seu estado de saúde, pois teve que fazer mais três cirurgias e voltar a andar com duas muletas.
Ela conta que sofreu indiretas e até diretas de pessoas em cargos superiores, que demonstravam a discriminação contra pessoas com deficiência, e que, mesmo buscando instâncias superiores ou sindicatos, ela não vê mudanças.
Sem autonomia e excluídas
A professora Vera já passou pela experiência de estar em uma escola acessível, térrea.
“A grande diferença é você ter autonomia para fazer as coisas. Nessa escola, eu fazia chamada sem ter que falar alto o nome das crianças, porque todo mundo me ouvia; eu não dependia de outras professoras descerem com as crianças para a quadra; os materiais estavam guardados mais próximos. Quando há falta de acessibilidade eu não tenho direito nem de sociabilizar com as(os) colegas, porque elas(es) ficam em uma sala em outro andar”, explica.
Segundo dados do Censo Escolar 2022, das 178 mil escolas de educação básica brasileira, apenas metade tinha rampas e banheiros acessíveis. Menos de 30% apresentavam corrimão e menos de 10% piso tátil. 26,9% das escolas não possuíam nenhum item de acessibilidade.
Lara Souto Santana também é professora da rede municipal de São Paulo e conta, em cada instituição que passa, é preciso uma nova adaptação – principalmente com as(os) estudantes. Professora de língua inglesa, ela tem baixa visão.
Ela também já presenciou falas capacitistas, algumas de colegas de profissão, mas não necessariamente direcionadas a ela.
“Na prática, a maioria das(os) professoras(es) não querem ter crianças com deficiência na sala de aula. É comum ouvir comentários como: ‘minha sala é ótima, não fossem os alunos de inclusão’. Por mais que não sejam direcionadas a mim e me tratem superbem, são falas capacitistas. E já aconteceu de coordenadora pedagógica preparar uma atividade de reunião e não pensar em audiodescrição, por exemplo. Eu me sinto excluída”, conta.
Vera e Lara fazem parte das(os) 8 mil professoras(es) regentes com deficiência – que corresponde a cerca de 0,34% do total de docentes nessa posição na educação básica.
Ambas sempre sentiram mais acolhimento e compreensão de familiares e estudantes – e, inclusive, de colegas de trabalho –, do que da gestão escolar. O que acaba dificultando muito o trabalho delas, porque a gestão é a responsável por pleitear melhores condições de trabalho junto à Secretaria.
“Infelizmente, as medidas de inclusão só começam a acontecer quando há uma demanda – e se existe uma abertura para isso. Mas existem muitas(os) gestoras(es) que não têm esse olhar para a inclusão. Então já estive em escola por dois anos que não colocaram o piso tátil. Essa não foi a prioridade da escola”, conta Lara.
Ambas veem muito claramente que as adaptações para as pessoas com deficiência não são apenas um direito, mas também uma maneira de tornar o ambiente e as práticas escolares melhores para todas e todos.
As minhas aulas acabam sendo diferentes, justamente porque eu aprendi de um jeito diferente. E isso contempla os meus estudantes com deficiência, mas também os outros estudantes”, diz Lara.
Não é de se assustar que a inclusão ainda precise caminhar muito. E, pelo relato e a experiência de vida das duas educadoras, a luta por espaços e sistemas mais democráticos e acessíveis para todas e todos é um trabalho que não tem descanso.
“As pessoas imaginam que falar de inclusão é ter um problema para resolver, resolvê-lo e acabou, está pronto. Eu entendo a inclusão como um processo. Então não existe começo, meio e fim. Uma escola não é inclusiva o tempo inteiro, porque sempre haverá uma nova adaptação a ser feita. Isso acontece conosco o tempo todo. Por exemplo, quando eu era criança não tinha tanta dificuldade com a leitura nos livros. Mas quando eu cheguei no ensino médio, precisei muito mais de adaptação, porque as letras nos materiais eram bem menores e eu não conseguia enxergar mais. Assim como as necessidades de aprendizado de uma criança muda de quando ela tem seis anos pra quando ela tem 10, ou 18 – seja ela pessoa com deficiência ou não”, explica Lara.
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