Conhecendo e representando o(a) outro(a) pela arte

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Conhecendo e representando o(a) outro(a) pela arte

Esta é a segunda de uma série de 12 oficinas baseadas nos Encontros de Estudos em Arte-educação e Experiências Híbridas na Formação de Educadores da Infância. Publicada originalmente no site Território de Formação em Arte (Impaes — Instituto Minidi Pedroso de Arte e Educação Social)
O que é?

Prática de consciência corporal, escultura corporal e produção de desenho

Materiais
  • Computadores, tablets ou celulares com acesso à internet;
  • folhas de sulfite;
  • lápis de cor.
Finalidade

Expressão da criação artística por meio do olhar da criança nas obras de Henri Matisse e Pablo Picasso.

Expectativa

Dirigir à expressão artística o olhar de encantamento da criança para o mundo.

Público

Crianças da educação infantil

Espaço

Sala de aula, sala de atividades, espaço aberto ou ambiente remoto

Duração

2 encontros de 1h30


Início de conversa

As obras de Matisse e Picasso são a base para a investigação do “olhar da criança”, que olha o mundo com encantamento. Os artistas buscavam na fluidez e na expressividade do gesto esse olhar da criança. Nesta oficina, propõe-se um trabalho de produção artística e consciência corporal com base nas obras desse artistas.

Base Nacional Comum Curricular (BNCC):  habilidades EI03CG01 e EI03TS02

Esta oficina é uma proposta baseada em um encontro on-line que aconteceu em 6/10/2020. O encontro, facilitado por Carolina Pires e Larissa Néri, envolveu educadoras, coordenadoras pedagógicas e gestoras representantes das creches parceiras do programa Corpo e cultura na formação do(da) educador(a) da primeira infância. A formação se baseou no mapeamento e nas avaliações realizadas ao longo do primeiro semestre de 2020.


Na prática

O olhar da criança

crianças fazendo careta
Foto: Greyerbaby/Pixabay

Inicie a oficina com um mapeamento das características do grupo. Oriente as crianças a fazerem respirações para acalmar a mente e ativar os sentidos.

Peça-lhes que expressem o estado delas ao chegar ao encontro por meio uma escultura corporal. Você pode perguntar:

Como vocês estão agora? Alegres? Animados? Cansados? Com sono? Vamos brincar de contar isso como se a gente não pudesse falar? Como fazemos? Que tal usarmos as mãos, os braços e o rosto pra mostrar?

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Ambiente remoto
As crianças podem expressar o estado delas na tela por meio de gestos com os braços e as mãos, e de expressões faciais. 

Invenção do teatro. Foto: Otterbein University Theatre & Dance dos Estados Unidos/Wikipedia
Invenção do teatro. Foto: Otterbein University Theatre & Dance dos Estados Unidos/Wikipedia

Após a apresentação da escultura corporal, peça a elas que respirem e expirem. Prossiga com um aquecimento, com movimentos leves e circulares dos pulsos, quadris e tornozelos. Proponha um instante de silêncio e pergunte como estão se sentindo. 

Divida a turma em trios e peça para uma das crianças de cada grupo expressar seu estado após o aquecimento por meio de uma escultura corporal. As duas outras crianças registram em desenho no papel sulfite. Ao final, oriente o compartilhamento dos desenhos. Pergunte:

Como foi desenhar o(a) colega? O que você observou? 

Ambiente remoto
As crianças podem produzir o desenho que represente um(a) dos(das) colegas.

Observe o traço livre e a fluidez do desenho das crianças. 

Criar criança

Agora, apresente imagens de obras do artista francês Henri Matisse (1869-1954). Incentive as crianças a perceberem como as obras são uma forma de expressão no mundo.

Henri Matisse. A dança, 1909. Imagem: Wikipedia

Pergunte: “O que essas pessoas estão fazendo?”. Após expressarem suas ideias, pergunte se elas gostam de brincar de roda e incentive-as a dar as mãos e dançarem livremente. 

Ambiente remoto
Pergunte às crianças se elas gostam de brincar de roda e com quem costumam brincar (irmãos(ãs), primos(as), colegas); onde elas costumam brincar, no parque, playground etc. Deixe que se expressem livremente.

Opera ispirata alla danse di Matisse. Jardim Botânico, Rio de Janeiro.  Obra baseada em A dança, de Henri Matisse. Foto: Wikipedia
Obra baseada em A dança. Foto: Wikipedia
Crianças dançando. Foto: Yann/Wikipedia
Pablo Picasso - 1166 obras de arte - pintura
Foto: Wikiart

Para ampliar o diálogo, apresente obras do artista Pablo Picasso (1891-1973), contemporâneo de Matisse e com quem compartilhou o encantamento do olhar da criança. Picasso dizia:

Quando eu tinha 15 anossabia desenhar como Rafael, mas precisei de uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças.” 

Pablo Picasso (1881-1973)

Selecione previamente algumas obras para que as crianças explorem com você. No vídeo Pablo Picasso: a collection of 855 works, a seguir, há vários exemplos de obras em que o olhar da criança se faz presente.

Pause o vídeo e dê tempo para expressão livre de ideias. Complemente com a cena a seguir, que mostra o artista pintando em tempo real, evidenciando sua gestualidade fluida e expressiva. 

As obras de Matisse e de Picasso permitem traçar as similaridades entre os processos de criação de crianças e artistas e refletir sobre as relações entre a expressão, o gesto e a consciência. 

Toda criança é um artista. O problema é o como manter-se artista depois de crescido.”

Pablo Picasso

Após apresentar a cena de Picasso desenhando um rosto, peça às crianças que façam um autorretrato. Solicite que compartilhem o desenho com o colega.

Ambiente remoto
Peça às crianças para falarem do desenho que fizeram. Explore as cores e as formas. Solicite que mostrem os desenhos para os(as) colegas.

Matisse. Les Capucines (Chagas com a Dança II), 1910–12. Imagem: Wikipedia
Henri Matisse. Les Capucines (Chagas com a Dança II), 1910–12. Imagem: Wikipedia

Sugestão de leitura: “Com olhos de criança”, do artista francês Henri Matisse (1869-1954)

“Criar é próprio do artista; onde não há criação, a arte não existe. Mas seria enganoso atribuir este poder criador a um dom inato. Em matéria de arte, o criador autêntico não é apenas um ser dotado; é um homem que soube ordenar para sua finalidade todo um facho de atividades cujo resultado é a obra de arte. 
É assim que, para o artista, a criação começa na visão. Ver isso já é uma operação criadora, que exige esforço. Tudo o que vemos na vida diária sofre mais ou menos a deformação produzida pelos hábitos adquiridos, e o fato é talvez mais sensível numa época como a nossa, em que o cinema, a publicidade e as revistas nos impõem cotidianamente um fluxo de imagens prontas que são um pouco, na ordem da visão, o que é o preconceito na ordem da inteligência. 
O esforço necessário para se desvencilhar disso exige uma espécie de coragem; e esta coragem é indispensável ao artista que deve ver todas as coisas como se as tivesse vendo pela primeira vez; é preciso ver toda a vida como quando se era criança; e a perda dessa possibilidade vos retira a de vos exprimir de uma maneira original, isto é, pessoal.” 


Bibliografia

  • Inteligências múltiplas: a teoria na prática, de Howard Gardner. Porto Alegre: Artmed, 1995. Segundo o psicólogo estadunidense, precisamos individualizar a educação, ao invés de ensinar as mesmas coisas, da mesma maneira, “para todos”. É preciso conhecer cada educando, para favorecer oportunidades de aprendizagem de maneira a fazer sentido para eles. Outro aspecto importante é a “pluralização”, isto é, ensinar o que é importante de diversas formas. 
  • “O pêndulo didático” de Rosa Iavelberg. In: SILVA, Dilma de Melo de (org.) Interdisciplinaridade, transdisciplinaridade no estudo e pesquisa da arte e cultura. São Paulo: Terceira Margem, 2010. 
  • Abordagem triangular para o ensino das culturas e artes visuais, de Ana Mae Barbosa e Fernanda Pereira da Cunha (org.). São Paulo: Cortez, 2012.
  • O uso da abordagem triangular nas salas de aula.

Veja também