Mês das(os) professoras(es): diálogo entre quem está na sala de aula e quem está começando a carreira
Compartilhar experiências e expectativas é uma maneira de acolher novas(os) docentes e pensar como avançar mais nas condições de trabalho e valorização docente
Por Stephanie Kim Abe
Outubro é mês das(os) professoras(es). É quando aproveitamos a data do dia 15 de outubro para enaltecer essas(es) profissionais da educação que tanto marcam nossa vida. A melhor forma de fazer isso é entendendo a realidade e as condições de trabalho das(os) docentes brasileiras(os) para juntar-se à luta por valorização docente que tanto se fala.
Segundo dados do Censo Escolar 2022, temos 2,3 milhões de professoras(es) na educação básica. Quase 80% delas(es) são mulheres (1,8 milhão, contra 481 mil homens), e elas são a maioria entre as(os) docentes em todas as etapas de ensino: na creche, são 97,2%; 94,2% na pré-escola; 77,5% no ensino fundamental e 57,5% no ensino médio.
Quanto à idade, a maioria das(os) professoras(es) tem entre 30 e 49 anos (quase 64%). Apenas 3,5% dessas(es) profissionais têm até 24 anos. Esse retrato traz à tona uma das principais preocupações em relação à profissão docente hoje: a possível falta dessas(es) profissionais nos próximos anos.
Segundo estudo do Instituto Semesp, houve crescimento de apenas 53,8% de ingressantes nos cursos de licenciaturas entre 2010 e 2020, percentual abaixo do apresentado por demais cursos (76%). O estudo indica que o desinteresse das(os) jovens pela profissão docente e o abandono da carreira (muito por causa das condições de trabalho), além do envelhecimento do corpo docente, são alguns dos fatores que podem levar a um possível déficit de docentes em 2040 – que, segundo o documento, pode chegar a 235 mil professoras(es).
Professora(r) por vocação?
A vocação (35%) é a principal razão pela escolha das(os) estudantes pela licenciatura, segundo dados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2021. Em seguida vem o fato de a profissão docente ser importante (21%) e a inspiração em outras(os) professoras(es) (15%).
Para Mônica Aparecida de Oliveira, estudante de pedagogia no 8o semestre, o que a atraiu na profissão docente foi o ambiente escolar:
Eu tive oportunidade de ter uma boa educação, período integral, desde bebê até os 16 anos. E depois o que me atraiu foi a oportunidade de pensar um futuro melhor para a sociedade. Poder contribuir de alguma forma para construir uma educação mais justa, igualitária, com equidade, uma educação antirracista.”
Mônica Aparecida de Oliveira
No vídeo abaixo, a estudante conversa com a professora de química Rosimeire Aparecida de Souza sobre o que as fazem ser ou querer ser professoras. Há também um diálogo entre o professor Washington Góes e Thayná Miro de Souza, recém-formada em Ciências Biológicas:
Os diálogos entre docentes de diferentes gerações foi proposto pelo Cenpec como uma forma de estimular essa importante conversa, como explica Beatriz Cortese, diretora executiva do Cenpec:
O encontro de gerações de professoras(es) na escola pode ser muito benéfico, pois permite o contato de pessoas com olhares diferentes e complementares. A geração que está se formando agora pode contribuir muito nesse diálogo, pois estudou a partir dos referenciais teóricos mais recentes, além de, em geral, ter um domínio maior das novas tecnologias. Já as pessoas que lecionam há mais tempo podem apoiá-las com sua grande experiência de conduzir as aulas, fazer um diagnóstico mais preciso de uma situação em sala, antecipar dúvidas e responder a dificuldades das(os) estudantes.”
No atual Plano Nacional de Educação (PNE – Lei 13.005/14), existem quatro metas que se referem à questão docente.
A meta 15 busca avançar na formação inicial das(os) docentes da educação básica, de tal forma que, até 2024, todas(os) tivessem formação específica em curso de licenciatura na área do conhecimento que atuam.
A meta 16 estabelece o avanço na formação docente em pós-graduação, com o objetivo de garantir que 50% das(os) professoras(es) da educação básica alcancem esse nível de formação até 2024.
Já a meta 17 trata da valorização docente, objetivando equiparar o rendimento médio das(os) professoras(es) ao das(os) profissionais com mesma escolaridade; e a meta 18 fala sobre plano de carreira.
Os dados indicam o não cumprimento das metas, considerando que este é o último ano de vigência do PNE. Assim, é preciso que esse olhar para a valorização docente vá além da letra da lei.
É fundamental criar momentos de diálogo, compartilhamento de experiências, reflexão coletiva sobre teoria e prática docente. Garantir espaços de acolhimento, escuta, debate e apoio envolvendo gestoras(es) e professoras(es) com mais ou menos experiência, de diferentes áreas, origens e idades promove um ambiente de confiança, aprendizagens entre pares, possibilitando repensar e redirecionar estratégias que impactam diretamente no ensino e aprendizagem. Isso é importante não só para quem está no início da carreira docente, mas também para quem já leciona há algum tempo, estimulando a colaboração, a pesquisa e a inovação nas práticas educativas”, diz Beatriz Cortese.
“… o mais comum, ao se referir às(aos) profissionais docentes, é enfatizar a má qualidade de sua formação, sua incapacidade de ensinar ou de se apropriar das novas tecnologias, entre outros pontos. (…) Consequentemente, as políticas públicas para as(os) professoras(es) são desenhadas a partir dessa perspectiva do fracasso, da falta. Em contrapartida, o desafio que se coloca é a reversão desse senso comum, concebendo políticas a partir da potência da(o) professora(r) – afinal, assim como toda criança é capaz de aprender, toda(o) professora(r) é capaz de ensinar.
O que a gente precisa discutir é quais são as condições estabelecidas para que esse profissional desenvolva sua potência de ensinar. O exercício da profissão docente não se dá no abstrato, ela depende de condições objetivas que estão ou não presentes no espaço onde o professor atua’, reitera Alexsandro Santos, então conselheiro do Cenpec e atual Diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Integral Básica no Ministério da Educação.
O que é necessário garantir para que a carreira docente seja, de fato, valorizada? Este é o tema do podcast Educação na ponta da língua de outubro. Neste episódio, a apresentadora e professora Gina Vieira conversa com o professor Francisco Thiago Silva (UnB) e com a professora Daniele Dorotéia Rocha da Silva de Lima (UFRN). Ouça a seguir um trechinho da fala da professora Daniele:
Confira essa conversa na íntegra, em breve! Enquanto isso, você pode ouvir os cinco primeiros episódios do programa, um bate-papo de educadora(or) para educadora(or) sobre temas relevantes da educação brasileira.
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