Com mesa temática sobre STEM, evento destacou importância de integrar ciência e comunidade
Por João Marinho
Entendi, mas para que vou usar isso? A pergunta que tantos professores já ouviram de estudantes, principalmente os que ministram disciplinas das áreas das ciências da natureza e matemática e suas tecnologias, pode ser respondida por meio de uma abordagem pedagógica resumida na sigla STEM – science, technology, engineering, and mathematics (ciência, tecnologia, engenharia e Mmtemática). A ideia é unir os conhecimentos das quatro áreas de forma articulada em atividades criativas que estimulem os alunos a resolver um desafio proposto.
“O STEM é uma abordagem para o ensino de ciências que vem como uma resposta às demandas de maior interesse no fomento às carreiras científicas, para aumentar a vontade dos jovens em pesquisar. É uma abordagem orientada pelas ciências naturais, mas que traz elementos da tecnologia, da engenharia e da matemática para promover uma maior relação das ciências com o contexto social, buscando resolver problemas a partir da integração entre diferentes áreas”, explica Mariana Lorenzin, mestranda em Ensino de Ciências e especialista em Teorias de Ensino e Aprendizagem e Ensino a distância (EAD).
Com Alfredo Manevy, roteirista, documentarista e professor de política cultural da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lorenzin participou, nesta quinta-feira (21/03), da mesa temática “STEM: inovação e criatividade no ensino de ciências e matemática”, promovida pela Samsung na 17ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), em São Paulo. A mediação foi de Roseli de Deus Lopes, professora livre-docente do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
Ciência integrada à comunidade
Promovida de 19 a 21/03 pela Poli-USP, a Febrace é considerada a maior feira da América Latina em seu segmento e contou com um estande interativo do Prêmio Respostas para o Amanhã durante os três dias de evento. No estande, foram oferecidas aos visitantes até cinco oficinas makers diárias com foco em STEM, além da abertura das inscrições para o Prêmio, cujo lançamento oficial ocorreu na mesa temática do dia 21.
“No meu ponto de vista, estamos mudando a forma de fazer ciência, tanto aqui na Febrace quanto no Prêmio Respostas para o Amanhã, ao permitir que os jovens a percebam para além da reprodução de conceitos”, diz Mariana Lorenzin. “Tal como Prêmio, o STEM também busca essas respostas para o amanhã. O diálogo se completa no sentido de que a abordagem propõe que façamos um ensino de ciências pautado no contexto, que tenha o jovem como protagonista de sua aprendizagem e que ele consiga olhar para sua realidade, investigar os problemas nessa realidade e propor soluções reais, para o futuro que virá à frente”.
Realizada no Centro de Difusão Internacional da USP, a mesa foi aberta por Isabel Costa, gerente de Cidadania Corporativa da Samsung Brasil, que anunciou o Prêmio Respostas para o Amanhã e explicou as etapas de seleção para um público de cerca de 800 professores e estudantes.
Na sequência, Mariana Lorenzin e Alfredo Manevy discutiram sobre STEM e os desafios trazidos pelo momento atual ao ensino de ciências. “É importante falar sobre o enorme impacto que o protagonismo da juventude tem no Brasil, especialmente dentro das escolas públicas, na inovação, na criação de soluções, de novas tecnologias, novos conhecimentos. Isso passa pelo reconhecimento não só das carências, mas também das potências: o território, os conhecimentos que circulam nas redes jovens, o uso de novas tecnologias, as conexões com os saberes da comunidade”, diz Manevy.
“Nesse sentido, quero parabenizar o Prêmio Respostas para o Amanhã, a Samsung e o CENPEC pela valorização dessas iniciativas que trazem novas descobertas. Além disso, estamos num momento em que a própria ciência tem sido posta em questão no mundo – e também precisamos divulgar melhor o conhecimento que já existe”, pontua o especialista.
“Nunca tinha aprendido isso na escola”
Jovens de diferentes faixas etárias puderam ver, conhecer e participar de oficinas e experimentos práticos oferecidos no estande do Prêmio Respostas para o Amanhã na Febrace. No dia 21, houve três oficinas, entre elas a de “Circuito em Papel”, que encantou Ana Carolina Souza e Gabriela Dias, estudantes do CEU EMEF Jaguaré. Exibindo seu crachá, Ana Carolina disse que mudou a visão de como aprender ciência: “Gostei! Aprendi bastante”.
Gabriela, moradora do bairro Vila Nova Jaguaré, em São Paulo (SP), tem o sonho de virar modelo devido ao seus 1,80 m de altura, mas descobriu um novo interesse: “É muito difícil eu gostar de ciências. Só que hoje me inspirou mais estudar sobre ciências, tecnologia e tudo mais (…). Nunca tinha aprendido isso na escola”.
A oficina “Circuitos de papel” ensinou os jovens a fazer um crachá com seu nome usando uma luz de LED, acendida pelo circuito interno da engenhoca. Com papel, canetinhas, explicando polos negativos e positivos e engenharia simples, a especialista Franciele Alexandre, da Samsung, trouxe outro modo de praticar o conhecimento científico e aproximar essas tecnologias dos jovens brasileiros.
Pesquisar e divulgar
A divulgação do saber científico foi também uma questão levantada por Thiago Rafalski Maduro, professor do campus São Mateus do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e avaliador do Prêmio Respostas para o Amanhã desde a primeira edição: “As cabeças dos nossos jovens e estudantes estão borbulhando de novas ideias, e a estrutura curricular que temos hoje em sala de aula não permite que essas ideias fluam. Então, quando surge uma proposta como o Prêmio Respostas para o Amanhã, que o professor consegue facilmente mesclar com seu trabalho em sala de aula, cria-se uma oportunidade que favorece o surgimento e a prática dessas ideias, que geram um impacto social”.
“O impacto social traz outras questões importantes para a sala de aula: a formação do jovem no sentido de como organizar e aplicar suas ideias de forma lógica, mas também de como comunicá-las – além da ética, do uso da ciência para o bem de todos, das possibilidades do trabalho comunitário e científico para a transformação da sociedade”, conclui Rafalski.
Para Isabel Costa, da Samsung, o conhecimento está presente no dia a dia, e a ciência é uma ferramenta para observá-lo: “O Prêmio Respostas para o Amanhã traz esse aspecto da disseminação da ciência no âmbito nacional. Nesses cinco anos, recebemos mais de 5 mil projetos que desenvolveram tecnologias para a sociedade, de forma a agregar valor, conhecimento, processo de aprendizagem e um legado para as comunidades para as quais foram desenvolvidos. Nesse sentido, o Prêmio mostra os diversos saberes que temos na sociedade e pode alavancar essa discussão”.
Água limpa, parceria e interesse público
A comunidade de Osório, no Rio Grande do Sul, foi uma das que receberam esse legado. Um dos vencedores da 5ª edição do Prêmio Respostas para o Amanhã, o projeto “Estudo sobre o BCA: biossorvente da casca de arroz para remoção de metais da água de poço do litoral norte gaúcho” integrou conhecimentos das disciplinas de gestão da produção e qualidade, biologia e química e contou com 24 estudantes do 3º ano do Ensino Médio e três professores do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Três estudantes e dois professores estiveram presentes na Febrace e no painel sobre STEM.
“Em Osório, muitas famílias utilizam água de poço, mas ela contém ampla concentração de ferro e manganês, que faz mal à saúde. No projeto, os estudantes desenvolveram um material absorvente utilizando resíduo biológico gerado pela indústria arrozeira da região – a palha de arroz – que filtra a água e reduz essa concentração, deixando a água própria para o consumo, de forma fácil, barata e sustentável”, explica a professora Flavia Twardowski.
Além de encontrar uma solução para dois problemas da região – a concentração de metais na água e o destino dos resíduos –, o projeto contou com apoio da própria indústria, de laboratórios e de uma universidade da região de Osório e impactou jovens pesquisadores do entorno e de outros lugares.
“Vimos um movimento muito grande, logo na primeira semana de aula, de jovens querendo participar e submeter um projeto ao Prêmio Respostas para o Amanhã (…). Espero que continue a haver investimento nesse tipo de iniciativa e que o Prêmio tenha uma longa vida”, diz o professor Claudius Jardel Soares. “Muitas pessoas interessadas entraram em contato, vieram nos perguntar sobre a fórmula, procuraram entender a metodologia”, conta a jovem Vanessa Teixeira, que participou do projeto. O “Estudo sobre o BCA” conta com página no Facebook e perfil no Instagram.
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