Ecoa: formação e assessoria técnica pelo direito à educação

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Ecoa: formação e assessoria técnica pelo direito à educação

Conheça o trabalho do Cenpec Educação no Programa Ecoa Formação, uma iniciativa do Instituto Alcoa que desenvolve formação a educadores e assessoria técnica baseada em evidências e no direito à educação

Por Stephanie Kim Abe

O que fazer quando estudantes com diferentes condições socioeconômicas chegam à escola?

  • Devemos ignorá-las, pois não há nada que o(a) professor(a) possa fazer?
  • Ou considerá-las de fato em qualquer ação pedagógica delineada pela escola? 
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Foto: arquivo pessoal

É com base nessa segunda premissa que funciona o Programa Ecoa Formação. Iniciativa do Instituto Alcoa com coordenação técnica do Cenpec, o Programa desenvolve assessoria técnica e formação com cerca de 600 gestores(as), coordenadores(as), educadores(as) e técnicos(as) de três redes municipais de ensino: Juruti (PA), Poços de Caldas (MG) e São Luís (MA).

Como explica Monica Espadaro, gerente de projetos do Instituto Alcoa:

A nossa missão é desenvolver coletivamente a educação nos lugares onde a Alcoa está presente, fomentando uma educação de qualidade.
Sabemos que o cenário da desigualdade só poderá melhorar por meio de uma educação equânime. Enquanto houver desigualdade na educação, não será possível ter uma sociedade justa e igualitária.”

Monica Espadaro

Nesse sentido, o objetivo do programa é avançar no diagnóstico e na análise sobre a realidade educativa de cada rede, a fim de identificar os mecanismos que reproduzem as desigualdades no âmbito educacional e planejar ações com base em evidências.

Foto: arquivo pessoal

Solange Feitoza, coordenadora de pesquisa e avaliação do Cenpec, explica:

As desigualdades precisam ficar visíveis, ganhar materialidade para os técnicos e educadores. Nosso trabalho de assessoria e formação no Ecoa é baseado na análise sobre os dados da rede. Mas, como os dados não falam por si, cabe a nós interpretá-los, buscando a raiz das diferentes trajetórias escolares dos(das) estudantes.”

Solange Feitoza

Qualificar os dados e refletir sobre eles

A parceria entre Instituto Alcoa e Cenpec começou em 2019, com o objetivo de realizar um diagnóstico da realidade educacional dos três municípios. À época, o Instituto estava em transição para um novo modelo de atuação. Em 2020, o Programa Ecoa se desmembrou em duas frentes de trabalho: Ecoa Gestão, em parceria com uma consultoria especializada em gestão pública, e Ecoa Formação, com o Cenpec.

Ter acesso aos dados educacionais não é o problema, explica Solange. O que ocorre é que os dados oficiais, muitas vezes, são disponibilizados de forma pouco amigável para as escolas. Assim, o Cenpec tem trabalhado na aproximação da leitura dos dados à realidade educativa da escola, buscando compreender as diferentes facetas do fenômeno da desigualdade. Por exemplo, correlacionando os resultados de aprendizagem e de reprovação com as variáveis gênero e raça. 

Não basta saber se uma escola tem Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) abaixo da média ou que uma rede de ensino acumula taxas de distorção em torno de 30%. Sim, é preciso entender o que significam estes indicadores do ponto de vista estatístico e pedagógico. Mas, de acordo com Solange, é preciso ir além:

Temos que nos perguntar o que tem gerado essa situação e se está sob nossa governabilidade fazer algo. Afinal, há relação entre essas análises e a efetivação do direito à aprendizagem? Ao nosso ver, problematizar uma situação educacional só tem sentido se conseguirmos implicar e mobilizar educadores(as), técnicos(as) e dirigentes para que, juntos(as), reflitam em como estabelecer políticas e práticas pedagógicas que enfrentem a situação para garantir o direito de todos(as), indistintamente, à uma educação de qualidade.”

Solange Feitoza

Solange aponta algumas perguntas importantes que precisam ser feitas para instigar essa problematização: será que uma escola localizada numa região de maior vulnerabilidade não necessita de mais apoio técnico e financeiro? Esse apoio pode fazer diferença para os(as) educadores(as) que lá estão? E os(as) estudantes, serão tratados(as) com olhar da fatalidade, com a ideia de que não há o que fazer? Ou é possível efetivar o discurso de que todos podem aprender e, portanto, nenhum a menos?

Abre-se, nessas brechas, um campo de atuação importante:

Paulo Freire, na Pedagogia da Autonomia. nos dizia que somos condicionados pelas circunstâncias sociais e econômicas, mas não somos determinados por elas. Ou seja, as nossas diferenças não são o problema. O problema está quando elas geram desigualdades. Por isso é importante olhar, por exemplo, rendimento escolar por gênero, raça e nível socioeconômico. Precisamos analisar se esses atributos – ser negro(a) ou branco(a), ser menino ou menina, ter este ou aquele nível social – está fomentando as desigualdades na escola.”

Solange Feitoza

Veja aqui quem são os estudantes que sofrem com o fracasso escolar


Eixos e frentes de trabalho

Por conta da pandemia, o Programa teve como foco, no ano passado, o atendimento às demandas dos municípios com relação ao ensino remoto e ao planejamento e às adaptações das secretarias para o contexto de crise sanitária.

Este ano, o Programa ampliou seus eixos de atuação. Os principais, e que já estão em andamento, são os trabalhos de assessoria e formação da equipe técnica da Secretaria e das equipes escolares de 28 escolas dos três municípios. A formação acontece em três frentes: Avaliação e aprendizagem, Língua Portuguesa e Matemática.

Para Solange, houve boa receptividade e entusiasmo dos(das) participantes nos primeiros encontros:

Estive em mais de dez reuniões e vi técnicos de secretarias e educadores da ponta motivados a entender o contexto em que estamos vivendo e querendo aprender e ser melhores profissionais e educadores. Tivemos muitos diálogos, e a adesão ao Programa tem sido ótima.”

Solange Feitoza

Pensando em tornar os dados mais amigáveis, o Cenpec deve produzir um painel dinâmico com dados educacionais dos municípios. O instrumento deve permitir a visualização do cruzamento de informações que possam jogar luz às condições que impactam o acesso, a permanência e a aprendizagem nas trajetórias escolares dos estudantes.

Também está prevista a produção de conteúdo por meio de boletins periódicos aos(às) participantes. Nesses informativos, a equipe do Programa espera divulgar e indicar ações de formação que possam potencializar o trabalho realizado com as redes, como cursos de extensão e pós-graduação, materiais didáticos e artigos científicos. Além disso, pretende-se dar visibilidade às experiências exitosas por meio da sistematização e divulgação em periódicos e seminários.

Os consultores do programa são ligados a grupos de pesquisa de universidades públicas e têm trajetórias como professores da educação básica. A ideia do professor-pesquisador facilita os processos de formação e, para nós, é muito importante estreitar essa relação entre a prática escolar e o conhecimento acadêmico.”

Solange Feitosa

A gerente Monica ressalta o feedback positivo que tem recebido das equipes técnicas das cidades atendidas quanto às ações de formação já realizadas. Para ela, o aprendizado que todos estão tendo é evidente e há ainda muito o que ser feito nesse esforço conjunto entre as duas organizações:

A educação é uma agenda que precisa de investimento a longo prazo, e os desafios que enfrentamos hoje na verdade já existiam antes da pandemia, só foram acentuados. Sabemos que eles demandarão esforços e por isso esperamos que essa parceria com o Cenpec seja duradoura e possa ir aos poucos superando as desigualdades nessas cidades onde a Alcoa se encontra há mais de 30 anos – e não pretende sair tão cedo.”

Monica Espadaro

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